Extraterrestres e minas de ouro
Nova Xavantina, no Mato Grosso, é outra cidade que nasceu na sombra da expedição. Com 5 700 quilômetros quadrados de extensão – quase quatro vezes a área da cidade de São Paulo -, o município tem pouco mais de 20 mil habitantes. Há 60 anos, era só mato.
A cidade foi batizada por Orlando Villas Bôas como explica o pioneiro e ex-expedicionário, José Celestino da Silva. Conhecido como Zé Goiás ele conheceu o acampamento que originou a cidade ainda em 1946 quando chegou para integrar o pelotão de frente do avanço mata adentro. “O pessoal queria dar o nome de São Pedro do Rio das Mortes para a nova cidade, mas seu Orlando falou que achava que tinha que dar um nome sobre a origem da cidade e aqui era território Xavante”, conta o ainda morador de Nova Xavantina. “Eu queria muito conhecer o Rio das Mortes, aqui tinha muita história, muita lenda”, completa orgulhoso.
Cercada de belos morros, cachoeiras e com enorme potencial para o eco-turismo, a cidade ainda explora pouco a beleza de seus arredores como uma fonte de desenvolvimento sustentável. O lugar também tem fama de pólo esotérico. Muitos forasteiros vêm à cidade atrás dos segredos e mistérios da Serra do Roncador. Eles acreditam que ali existem passagens secretas, que levam a um mundo oculto, relacionado à lenda da cidade perdida de Atlanta. Outros crêem nas aparições de extraterrestres.
Durante anos, no entanto, a principal atividade da região foi o garimpo. Próximo à Nova Xavantina, está a famosa mina de Araés.- Descoberta pelos bandeirantes, o local tinha tanto ouro que foi confundido com a lenda do Eldorado, que falava de terras onde jorravam enormes quantidades do metal dourado. Depois de séculos de exploração, até hoje ainda existe jazidas do metal no lugar, mas atualmente estão a cerca de 70m de profundidade e a prospecção está proibida na área. Mesmo assim, garimpeiros clandestinos ainda se aventuram nas profundezas das minas na esperança de encontrar uma pepita que lhes mude a vida. Porém, quase sempre o resultado desta busca são problemas sociais, mortes e crimes ambientais.
As cicatrizes do garimpo são vistas não apenas na poluição e destruição da terra a poucos metros do rio das Mortes, várias pessoas morrem de males causados pela atividade. Sinvaldo Vieira Rodrigues, ex-garimpeiro, afirma: “a única coisa que o Araés já fez foi matar muita gente”. Há cinco anos, ele sofre de silicose, doença terminal causada pela respiração de pó de pedra que vagarosamente endurece as paredes do pulmão até impedir completamente a respiração. O mesmo mal foi responsável pela morte de seu irmão. Esforçando-se para conversar entre períodos de falta de ar, ele conta que outros sessenta colegas faleceram da mesma forma ou por acidentes.
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