Garimpo em Poconé
Grande é o clamor popular em Poconé contra a extração de ouro nas imediações da área no entorno daquela cidade pantaneira onde vive uma população constituída há mais de dois séculos e que mantém tradições culturais das quais Mato Grosso se orgulha.
O município de Poconé nasceu do garimpo do ouro nas lavras Tanque do Padre, Lavra do Meio, Ana Vaz e outras, por volta de 1777. A atividade garimpeira manual resultou na formação da vila de Beripoconé – a primeira denominação do lugar, em alusão aos índios de idêntico nome que viviam naquela área.
Com o passar do tempo Poconé descobriu a pecuária na imensidão pantaneira e se tornou um dos principais criadores de gado no Brasil. Além da bovinocultura o poconeano também se dedica ao cavalo da raça Pantaneiro, cuja associação nacional, a ABCCP, tem sede naquela cidade.
Mesmo com o surgimento e o fortalecimento da pecuária o poconeano nunca abriu mão do garimpo de ouro. Porém, nas últimas décadas, em razão da fiscalização ambiental, essa atividade entrou em forte declínio. Os garimpeiros tradicionais foram praticamente banidos das frentes de garimpagem cedendo lugar a grandes grupos empresariais mineradores, que agora são acusados por moradores de agredirem o meio ambiente e de colocarem em risco a cidade e sua gente.
A manchete da edição anterior deste Diário mostra o que se passa em Poconé. A publicação do material despertou interesses de organizações não governamentais e de muitos leitores inclusive de outros estados, que cobram providências por parte das autoridades.
A existência de enormes, profundas e extensas crateras nas imediações de Poconé, de onde mineradores retiram cascalho em suas frentes de garimpagem é inegável e tanto pode ser vista do alto quanto do solo. Essa ação, ainda que respaldada em licenciamento ambiental precisa ser disciplinada antes que a relação do homem com o meio ambiente se torne totalmente insustentável.
Além das crateras abertas a constante movimentação de caminhões transportadores de cascalho compromete a qualidade do ar, causa problemas respiratórios e cria clima de insegurança para pedestres.
Por mais que se justifique a atividade mineradora em Poconé com base em sua lucratividade empresarial, ela precisa ser revista pelo Ministério Público, Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), Secretaria de Meio Ambiente (Sema), Secretaria de Indústria, Comércio, Minas e Energia (Sicme), Companhia Mato-grossense de Mineração (Metamat), pela Associação dos Geólogos de Mato Grosso (Agemat) e pelos sindicatos patronal e dos empregados na extração do ouro.
Mato Grosso tem que fomentar todas as atividades econômicas, mas isso não significa que para tanto tenha que abrir mão de controlar seus excessos. O garimpo de ouro poconeano merece respeito, desde que praticado dentro das normas legais e de modo que não comprometa a estrutura urbana de Poconé e não coloque em risco seus moradores. Que as autoridades tomem as providências cabíveis.
O garimpo de ouro poconeano merece respeito, desde que praticado dentro das normas legais
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