sábado, 12 de março de 2016

Vulcões explicam riquezas do solo de Mato Grosso

Vulcões explicam riquezas do solo de Mato Grosso

Estudos da UFMT em conjunto com instituições estrangeiras detalham fatos de milhões de anos

EVILÁZIO ALVES/DC
Vulcanismo, segundo o professor Ricardo Weska, contribuiu para formação do Cerrado


Quem deseja conhecer a fundo — literalmente — a história de Mato Grosso, não pode deixar de lado fatos que ocorreram há 85, 350, 600 milhões de anos. De fato, inúmeros e recentes estudos vêm comprovando que a paisagem natural do Estado — com suas tão propaladas belezas e tão cobiçadas riquezas —, não é senão o resultado de fenômenos geológicos que, ao longo de todo esse tempo, foram formando o que hoje vemos e exploramos. 

Dentre esses fenômenos, o do vulcanismo, de acordo com professor de Geologia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Ricardo Weska, foi um dos que mais contribuíram para a formação da paisagem do Cerrado. Em sua tese de doutorado, o professor comprovou que, há 85 milhões de anos, uma imensa bolha formada por rochas magmáticas partiu do interior da Terra rumo à superfície. Era tal a força da bolha que ela conseguiu romper a crosta terrestre (que em Mato Grosso tem cerca de 90 quilômetros de espessura) e explodir em centenas de vulcões. “Mais de mil corpos de vulcões, datados de 85 milhões de anos, podem ser encontrados hoje nos estados de Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás”, diz Ricardo Weska. 

As bolhas, ou plumas, são originadas a partir do limite entre o manto pastoso e o núcleo da Terra, que é uma estrutura sólida formada especialmente por ferro e níquel, materiais densos e pesados. Essa fronteira de onde saem as plumas responsáveis pelos vulcões tem até 700 quilômetros de espessura. Por estar hoje sob a ilha brasileira de Trindade, a 1.200 quilômetros da costa do Espírito Santo, a bolha estudada por Ricardo Weska foi chamada de Pluma de Trindade. 

Os estudos do professor foram realizados em parceria com pesquisadores de universidades inglesas e canadenses, o que lhe permitiu datar de maneira precisa a época em que o fenômeno ocorreu, pela análise da composição química das rochas vulcânicas encontradas nos municípios de Chapada dos Guimarães, Dom Aquino e Poxoréu e nas cercanias da Serra de São Vicente e na localidade de Paredão Grande. 

Sob o aspecto econômico, o intenso vulcanismo ocorrido há tanto tempo foi tão generoso quanto no aspecto visual. As melhores terras para a agricultura, por exemplo, estão localizadas ao redor desses vulcões. A pluma fóssil foi responsável por derrames de lava que, resfriadas e transformadas ao longo do tempo, originaram as rochas que se decompuseram em terras pegajosas e férteis. “O aparecimento de águas minerais e termais em Campo Verde, São Vicente, Dom Aquino, Poxoréu, General Carneiro e Barra do Garças, também pode estar relacionado com a pluma”, diz Ricardo Weska. “À medida que ela se aproxima, vai esquentando toda a crosta terrestre”. 

De acordo com o professor, esse esquentamento da superfície terrestre, há 85 milhões de anos, coincidiu com a época do desaparecimento dos “dinossauros mato-grossenses”, entre eles os Tiranossauros Rex. Segundo Ricardo Weska, muitas arcadas dentárias do Tiranossauro Rex, um dinossauro de tamanho médio, carnívoro e predador, já foram encontradas em Chapada dos Guimarães. Mas as vantagens da Pluma de Trindade, (sob o ponto de vista humano) não terminam por aí. 

Em sua viagem do interior da Terra rumo a superfície, a bolha traz consigo toda sorte de minerais que formam a crosta terrestre. Entre eles o diamante, que estão a cerca de 150 quilômetros de profundidade. O diamante, como se sabe, é formado por carbono, elemento químico que, ao ser queimado, transforma-se em grafite, usado em lápis de escrever, e quando submetido a condições de altíssima temperatura e pressão, peculiares em tal profundidade terrestre, transforma-se na tão valiosa pedra. 

“Tenho uma forte suspeita de que os vulcões originados pela Pluma de Trindade contem parte da história do diamante em Mato Grosso”, diz Ricardo Weska. Segundo o professor, outras pedras muito valiosas encontráveis no Estado também podem ter sido trazidas pelos vulcões, como as opalas e as safiras azuis.

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