Estudos da UFMT em conjunto com instituições estrangeiras detalham fatos de milhões de anos
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Quem deseja conhecer a fundo — literalmente — a história de Mato Grosso, não pode deixar de lado fatos que ocorreram há 85, 350, 600 milhões de anos. De fato, inúmeros e recentes estudos vêm comprovando que a paisagem natural do Estado — com suas tão propaladas belezas e tão cobiçadas riquezas —, não é senão o resultado de fenômenos geológicos que, ao longo de todo esse tempo, foram formando o que hoje vemos e exploramos.
Dentre esses fenômenos, o do vulcanismo, de acordo com professor de Geologia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Ricardo Weska, foi um dos que mais contribuíram para a formação da paisagem do Cerrado. Em sua tese de doutorado, o professor comprovou que, há 85 milhões de anos, uma imensa bolha formada por rochas magmáticas partiu do interior da Terra rumo à superfície. Era tal a força da bolha que ela conseguiu romper a crosta terrestre (que em Mato Grosso tem cerca de 90 quilômetros de espessura) e explodir em centenas de vulcões. “Mais de mil corpos de vulcões, datados de 85 milhões de anos, podem ser encontrados hoje nos estados de Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás”, diz Ricardo Weska.
As bolhas, ou plumas, são originadas a partir do limite entre o manto pastoso e o núcleo da Terra, que é uma estrutura sólida formada especialmente por ferro e níquel, materiais densos e pesados. Essa fronteira de onde saem as plumas responsáveis pelos vulcões tem até 700 quilômetros de espessura. Por estar hoje sob a ilha brasileira de Trindade, a 1.200 quilômetros da costa do Espírito Santo, a bolha estudada por Ricardo Weska foi chamada de Pluma de Trindade.
Os estudos do professor foram realizados em parceria com pesquisadores de universidades inglesas e canadenses, o que lhe permitiu datar de maneira precisa a época em que o fenômeno ocorreu, pela análise da composição química das rochas vulcânicas encontradas nos municípios de Chapada dos Guimarães, Dom Aquino e Poxoréu e nas cercanias da Serra de São Vicente e na localidade de Paredão Grande.
Sob o aspecto econômico, o intenso vulcanismo ocorrido há tanto tempo foi tão generoso quanto no aspecto visual. As melhores terras para a agricultura, por exemplo, estão localizadas ao redor desses vulcões. A pluma fóssil foi responsável por derrames de lava que, resfriadas e transformadas ao longo do tempo, originaram as rochas que se decompuseram em terras pegajosas e férteis. “O aparecimento de águas minerais e termais em Campo Verde, São Vicente, Dom Aquino, Poxoréu, General Carneiro e Barra do Garças, também pode estar relacionado com a pluma”, diz Ricardo Weska. “À medida que ela se aproxima, vai esquentando toda a crosta terrestre”.
De acordo com o professor, esse esquentamento da superfície terrestre, há 85 milhões de anos, coincidiu com a época do desaparecimento dos “dinossauros mato-grossenses”, entre eles os Tiranossauros Rex. Segundo Ricardo Weska, muitas arcadas dentárias do Tiranossauro Rex, um dinossauro de tamanho médio, carnívoro e predador, já foram encontradas em Chapada dos Guimarães. Mas as vantagens da Pluma de Trindade, (sob o ponto de vista humano) não terminam por aí.
Em sua viagem do interior da Terra rumo a superfície, a bolha traz consigo toda sorte de minerais que formam a crosta terrestre. Entre eles o diamante, que estão a cerca de 150 quilômetros de profundidade. O diamante, como se sabe, é formado por carbono, elemento químico que, ao ser queimado, transforma-se em grafite, usado em lápis de escrever, e quando submetido a condições de altíssima temperatura e pressão, peculiares em tal profundidade terrestre, transforma-se na tão valiosa pedra.
“Tenho uma forte suspeita de que os vulcões originados pela Pluma de Trindade contem parte da história do diamante em Mato Grosso”, diz Ricardo Weska. Segundo o professor, outras pedras muito valiosas encontráveis no Estado também podem ter sido trazidas pelos vulcões, como as opalas e as safiras azuis.
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