ALEXANDRITA DO PELA EMA, MINAÇU/GO: INCLUSÕES FLUIDAS E
CONDIÇÕES GENÉTICAS
KLAUS JUERGEN PETERSEN JR., RAINER ALOYS SCHULTZ-GÜTTLER &
ROSA MARIA DA SILVEIRA BELLO
RESUMO Uma ocorrência primária de alexandrita ocorre nas rochas metassedimentares do Grupo Serra da Mesa (GSM) no
município de Minaçu (GO), próximo ao córrego Pela Ema, na borda SE do núcleo granito-gnáissico da Serra Dourada (GrSD).
Entre as variedades de crisoberilo coletadas, 10 a 15% são de alexandrita de boa qualidade gemológica, caracterizada por
cristais de hábito pseudo-hexagonal devido à geminação múltipla, com dimensões entre 0,4 e 3cm, contendo inclusões de
quartzo, muscovita, biotita, granada, monazita e um número relativamente elevado de inclusões fluidas (IF). O GSM, na área da
mineralização estudada, é representado por biotita-muscovita-quartzo xisto com porfiroblastos de crisoberilo, granada, estaurolita
e cianita, finas lentes de xisto feldspático, delgados níveis de anfibolito, exogreisens e veios de quartzo, às vezes com mineralização
de esmeralda.
O estudo óptico da alexandrita revelou a presença de inclusões fluidas de origem primária e pseudo-secundária. A
microtermometria de IF primárias mostrou que durante a formação do mineral estiveram presentes soluções aquocarbônicas
ricas em NaCl, CaCl2
e, possivelmente, KCl e AlCl3
, com salinidades variando de 18,5 – 21,5% em peso de NaCl equiv. e
densidades de 0,96 a 1,03g/cm3
. As estimativas de P-T forneceram valores variando de 6,1-7,5 kbar e 535-576o
C e 4,4-5,9 kbar
e 530-565o
C, dependendo das equações termodinâmicas consideradas. A condição de formação do crisoberilo foi determinada
como sendo da fácies anfibolito médio, por meio da intersecção dos campos gerados pelas curvas paragenéticas, principalmente
da cianita e estaurolita, com as isócoras obtidas pelas análises das IF. Os estudos indicaram ainda que a formação do crisoberilo
ocorreu, provavelmente, a partir do berílio, liberado dos veios de quartzo com berilo (esmeralda), por fluidos metamórficos,
precipitando-se em função da disponibilidade de Al3+ das encaixantes.
Palavras–chaves: alexandrita, crisoberilo, mineralização primária, Minaçu, inclusões fluidas, condições P-T.
ABSTRACT ALEXANDRITE OF PELA EMA, DISTRICT OF MINAÇU/GOIÁS STATE: FLUID INCLUSIONS AND GENETIC
CONDITIONS A primary alexandrite mineralization occurs in metasedimentary rocks of the Serra da Mesa Group (GSM) in
the district of Minaçu (Goiás State), near the Pela Ema River, SE border of the Serra Dourada granite-gneissic dome (GrSD).
Among the varieties of chrysoberyl, 10 to 15% are alexandrite of good gemological quality. Most crystals show pseudo-hexagonal
habits due to multiple twinnings, with dimensions from 0.4 to 3cm. They contain inclusions of quartz, muscovite, biotite, garnet,
monazite and a relatively high number of fluid inclusions (IF). The GSM in the area is represented by biotite-muscovite-quartz
schist containing chrysoberyl, garnet, staurolite and kyanite porphyroblasts, fine lenses of feldspatic schist, thin amphibolite
layers, pegmatites, exogreisens and quartz veins sometimes with emerald mineralizations.
Optical studies of alexandrite crystals revealed the presence of primary and pseudosecundary IF. The microthermometry of
primary IF showed that during the formation of the alexandrite aquocarbonic solutions rich in NaCl, CaCl2
, and probably KCl
and AlCl3
were present, with salinities varying from 18.5 to 21.5 wt % NaCl equiv. and densities from 0.96 to 1.03g/cm3
.
Estimatives of P-T values resulted in the following ranges: 6.1-7.5 kbar at 535-576o
C and 4.4-5.9 kbar at 530-565o
C, depending
on the thermodynamic equations used. The conditions for formation of chrysoberyl occurred at medium-grade amphibolite
facies, determined by the intersection of the fields generated by the paragenetic associations, for kyanite and staurolite, with the
isochores diagrams from the IF analysis. The studies indicate that the formation of the crysoberyl started with the Be liberated
from the quartz vein zone with beryl (emerald) and remobilized in the metamorphic fluids, where the precipitation may have
been conducted by the presence of Al3+ from the host rocks.
Keywords: alexandrite, crysoberyl, primary mineralization, Minaçu, fluid inclusions, P-T conditions.
INTRODUÇÃO Uma mineralização primária da rara
variedade do mineral-gema alexandrita e outras variedades
de crisoberilo (BeAl2
O5
) ocorre próximo ao córrego Pela
Ema, município de Minaçu, na região norte de Goiás. A ocorrência
situa-se na borda sudeste do braquianticlinal da Serra
Dourada, que possui núcleo granito-gnáissico, envolvido por
rochas metapelíticas e quartzitos do Grupo Serra da Mesa
(Fig. 1).
A Serra Dourada já foi alvo de diversos estudos que discutem
a origem desse maciço granítico e das mineralizações de cassiterita
(Dardenne & Schobbenhaus 2001, Botelho 1992, Marini
& Botelho 1986, Macambira & Villas 1984, 1985, Macambira
1983, Marini et al. 1974), além de columbita-tantalita, wolframita,
topázio, fluorita, berilo (esmeralda e água-marinha) e
crisoberilo, dos quais aproximadamente 10 a 15% são da variedade
alexandrita com boa qualidade gemológica na área estudada
(Petersen Jr. 1998).
O objetivo deste trabalho é a caracterização físico-química
das soluções responsáveis pela formação de alexandrita e o eAlexandrita do Pela Ema, Minaçú/GO: inclusões fluidas e condiçòes genéticas
0 25 km
Palmeirópolis
P Pi e
P Pi e P SM e
P Pi e
Peg
P Ge
Peg
P Pc e
P Pc e
P SM e
P
Ar
e
PROTEROZÓ ICO SUPERIOR
P Pc - Grupo Paranoá e
PROTEROZÓ ICO M ÉDIO
P Ar - Grupo Araí e
P SM - Grupo Serra da Mesa (GSM) e
P - Granitos Estaníferos eg
PROTEROZÓ ICO INFERIOR
P Pi - Seqüência de Palmeirópolis e
PROTEROZÓ ICO INFERIOR
P G - Com plexo Granulítico de Canabrava e
P GG - Com plexo Granito- e gnáissico
Serra
da
Mesa
P
GG
e
Rio
Cana
Brava
R oi Tocantins
Córrego
Pela Ema
Campinaçu Serra Dourada
do estudo das IF presentes e das associações paragenéticas
estabelecidas.
ASPECTOS GEOLÓGICOS E CARACTERÍSTICAS DA
MINERALIZAÇÃO DA ALEXANDRITA O granito
estanífero de Serra Dourada (Fig. 1) pertence a subprovíncia
estanífera do Rio Tocantins (Marini & Botelho 1986), sendo
classificado como anorogênico, por não apresentar evidências
intrusivas nas rochas metassedimentares do GSM. A datação
deste granito e de seus correlatos Serra da Mesa e Serra do Encosto,
por meio de U/Pb e Pb/Pb, revelou idades entre 1,658 e
1,574 Ga (Pimentel et al. 1991). Estas rochas apresentam ainda
pegmatitos que ocorrem como corpos intrusivos de dimensões
métricas com microclínio pertítico, oligoclásio e muscovita, além
de biotita, granada, berilo (esmeralda), ametista, topázio, turmalina,
columbita-tantalita, wolframita e cassiterita (Macambira
1983).
As rochas metassedimentares do GSM consistem de quartzitos
e mica-xistos que podem alcançar até 1850 m de espessura. Na
base ocorrem quartzitos conglomeráticos que passam a
quartzitos muscovíticos laminados de granulação fina. Os micaxistos,
intercalados com quartzitos micáceos finos, contêm
granada, estaurolita e cianita, indicando metamorfismo da fácies
anfibolito. Espessas lentes de xisto com carbonato e mármore
ocorrem nas partes superiores. Datações realizadas nos granitos
Serra Dourada, Serra do Encosto e Serra da Mesa (Pimentel et
al. 1991) e intrusões no GSM (Rossi et al. 1992) permitem
considerar que as rochas metassedimentares depositaram-se
entre 1,574 e 1,47 Ga, correspondendo aproximadamente ao
Figura 1 – Mapa de localização da área de estudo (modificado de Petersen Jr. 1998).
período de transgressão pós-rift do Grupo Araí (Dardenne 2000).
Veios de quartzo centimétricos a decimétricos cortam as
rochas metassedimentares do GSM, sendo freqüentemente
boudinados. São constituídos por quartzo leitoso, mas podem
conter localizadamente esmeralda.
Nas bordas do corpo granítico da Serra Dourada e nas imediações
dos contatos com as rochas metassedimentares do GSM
existem depósitos de cassiterita, tanto primárias como eluviais
e coluviais, exploradas até meados de 1980 por garimpos como
do Pela Ema e do Mergulhão (Fig. 2), além de ocorrências de
columbita-tantalita, wolframita, berilo (esmeralda e água-marinha)
e crisoberilo (Petersen Jr. 1988).
A figura 2 apresenta a área estudada, onde rochas metassedimentares
do GSM limitam-se, ao norte, com o GrSD e
endogreisens associados e, ao sul, por um contato gradacional,
com quartzitos micáceos, por vezes ferruginosos, do GSM. Este
último está permeado por diversos corpos pegmatíticos,
exogreisens e veios de quartzo concordantes e discordantes com
a foliação principal, por vezes portadores de esmeralda. Tanto
os endogreisens como os exogreisens são freqüentemente
mineralizados em cassiterita e columbita-tantalita (Pagotto 1995,
Macambira 1983).
A mineralização de alexandrita representa 10 a 15% do crisoberilo
presente no biotita-muscovita-quartzo xisto, às vezes
carbonático, pertencente aos metassedimentos do GSM, que
contém ainda finas lentes de xisto feldspático, delgados níveis
de anfibolito e veios de quartzo. O xisto mineralizado apresenta
porfiroblastos disseminados e intimamente associados de
crisoberilo, cianita, estaurolita (Fig. 3A e B) e granada (Fig.stabelecimento
das condições genéticas da mineralização, por meio
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