sexta-feira, 17 de junho de 2016

CONVERSA EM FRENTE AO RIO MADEIRA-RONDÔNIA- BRASIL

CONVERSA EM FRENTE AO RIO MADEIRA
     Tarde quente, como de costume e a praça Madeira-Mamoré como toda a tarde estava com bom movimento de pessoas. Algumas passeando, outras conhecendo a praça e boa parte curtindo a brisa que vem do rio. Em um dos bancos estava sentado um velho, fumando seu cachimbo e olhando fixamente para o rio. Mais não era como outros velhos que ali freqüentava, que tinham seus semblantes tristes, seu olhar saudoso e notoriamente uma depressão visível. Este velho era diferente....via-se com nitidez um leve sorriso em seus lábios e um olhar encantador sobre as águas do rio, olhar que contrastava com o sol que brilhava aquelas turbulentas águas. Pelo modo que baforava seu cachimbo conclui que o mesmo era um companheiro inseparável, confidente para ser mais preciso. Aquele olhar sorridente e o modo com que olhava para o lado esquerdo do rio me deixaram curioso e por que não dizer inquietante: qual o segredo ou então qual as lembranças que passavam pela cabeça deste ancião...pelo leve sorriso lembranças felizes...pelo longo olhar lembranças que já se fazem saudosas...precisava decifrá-lo...se conseguisse isso provavelmente teria uma viagem inesquecível á um passado aventureiro e é o que vou fazer.
     Aproximei-me e puxei conversa... o velho era receptível e facilmente iniciamos um dialogo...bateu o fornilho de seu cachimbo contra a mureta do banco, e eu como conhecedor deste habito notei que seu cachimbo era de boa qualidade, provavelmente um amphora, de fabricação holandesa, e feita com madeiras nobre., e ainda dava para sentir o aroma do fumo que acabara de fumar, e que pelo cheiro e leveza, deduzo que era um yenidje de origem turca, fumo mediterrâneo de aroma bem característico, isso me fazia concluir que o velho era dotado de um bom nível cultural e conhecimentos comospolitanos, o que fazia com que minha curiosidade só aumentasse. Iniciamos nosso dialogo com as apresentações formais, apresentou-se dizendo apenas ser um velho garimpeiro, saudoso dos tempos românticos dos garimpos do norte do Brasil e que vinha ali sempre que possível, olhar para as turbulentas águas do Madeira e recordar daquele grande e valioso tesouro que guardava consigo: as lembranças de um velho garimpeiro.
     Bem jovem, dizem que a palavra saudade não existe...pode ate não existir a palavra, mais te garanto que a saudade existe, e é como uma faca, que fica tentando furar sua pele. Olha para este rio...corre, lépido e sem parar, como se em seu passado, não tivesse deixado, lagrimas,sangue e saudades para trás. Se as barrancas deste rio pudesse falar, contariam coisas inacreditáveis. Aqui nos alegramos, choramos, vivemos e morremos, tudo ao mesmo tempo. Creio que o que a psicologia chama de bipolaridade é o que o garimpeiro após alguns meses aqui no Madeirão sente. Vamos da alegria á tristeza...do sorriso ao choro..da aflição á tranqüilidade, tudo isso num tempo recorde. Choramos de saudades de um familiar, de um filho, de um amigo..e ai de repente uma boa despencada, e pronto o ouro em nossas mãos nos transem um sorriso, uma êxtase, uma adrenalina que faz que tudo seja esquecido. O ouro, o louco ouro que fez deste rio e da vida de muitos um rebuliço inesquecível.
     Neste momento o velho enche um novo fornilho, acende seu cachimbo e tragando-o se cala. Pela experiência sabia que o melhor era deixá-lo viajar no devaneio de seus pensamentos. Deixar a saudade, as lembranças a vida que um dia foi bela e que agora esta se esvairando..... deixar a alma subir e descer o Madeirão....deixar suas idéias viajar por vilas, currutelas, dragas, balsas, flutuantes e bregas, que fazem de uma fofoca garimpeira,um lugar únicio, impar....

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