quinta-feira, 7 de julho de 2016

Contra a corrente, Rio Tinto amplia leque de commodities para crescer


Contra a corrente, Rio Tinto amplia leque de commodities para crescer


O novo líder da Rio Tinto, Jean-Sébastien Jacques, pretende investir em mercados novos, como o de lítio.ENLARGE
O novo líder da Rio Tinto, Jean-Sébastien Jacques, pretende investir em mercados novos, como o de lítio. PHOTO: REUTERS
O novo diretor-presidente da Rio Tinto PLC, Jean-Sébastien Jacques, pretende construir e comprar minas para expandir a mineradora anglo-australiana, ampliando o leque das commodities que podem fortalecer a empresa nessa nova expansão.
Com a queda dos mercados globais de metais entrando no quinto ano, a maioria das principais exportadoras de minerais do mundo está se concentrando em menos ativos e commodities, na crença de que a medida as tornará mais fortes.
No ano passado, a rival anglo-australiana BHP Billiton Ltd. se desfez de um grande número de minas e fundições, da Austrália à África, para se limitar a apenas quatro commodities. Já a Anglo American PLC está no meio de uma reestruturação radical que envolve a venda de mais de metade de suas minas, incluindo outrora cobiçados depósitos de carvão, concentrando-se em poucos ativos de maior margem. A Vale S.A. anunciou que prevê a venda de até US$ 15 bilhões em ativos neste ano e no próximo, entre ativos considerados essenciais e não essenciais, e que quer simplificar seu portfólio.
A estratégia de Jacques, que assumiu o cargo no sábado, vai de encontro à das concorrentes.
“Sabemos do que precisamos para crescer”, disse Jacques em entrevista ao The Wall Street Journal. “A estratégia de crescimento da Rio daqui para frente” será de empreendimentos e aquisições inteligentes, disse.
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A Rio Tinto recentemente aprovou um grande desembolso para ampliar uma mina de cobre na Mongólia e está cogitando investimentos ousados em novos mercados, como no de lítio, usado em baterias recarregáveis para carros e casas.
Há duas semanas, Jacques reformulou as divisões operacionais da empresa e suas lideranças, substituindo o diretor da área de minério de ferro, Andrew Harding, que já foi considerado um candidato a diretor-presidente e agora está de saída. Jacques sucedeu a Sam Walsh, a quem muitos dão crédito por ter dado uma virada na Rio Tinto durante sua gestão de três anos, principalmente cortando custos e investimentos.
A decisão de Jacques de agrupar várias commodities, como carvão e dióxido de titânio, e a unidade canadense de minério de ferro numa única divisão de “energia e minerais” levou analistas a especular que a empresa pode estar preparando um desmembramento semelhante ao que a BHP fez com sua divisão de metais e carvão, que em 2015 virou a South32 Ltd.
“Vamos criar uma South32 ou South 33? A resposta, em uma palavra, é não”, disse Jacques.
Em vez disso, ele disse que o líder da nova divisão — Alan Davies, ex-chefe das operações de minerais e diamantes — recebeu a missão de tornar rentáveis ativos em dificuldades e de criar novos negócios.
“Ele tem um papel a desempenhar como incubador de negócios”, disse Jacques. “Se formos desenvolver uma posição numa nova commodity, como o lítio, é aí que ela será desenvolvida.”
A empresa está investindo milhões de dólares e analisando o potencial de um depósito de lítio na Sérvia, num momento em que o preço da commodity está disparando com a expectativa de aumento da demanda de empresas como a fabricante americana de carros elétricos Tesla Motors Inc.
Operadores de mercado dizem que a escolha de Jacques parece sinalizar um distanciamento do minério de ferro, responsável pela maior parte do lucro da empresa, em direção ao cobre, um setor em que muitos concorrentes, inclusive a BHP, vêm investindo cada vez mais. Jacques chefiava a unidade de cobre e carvão da mineradora antes de assumir sua liderança.
Ele já previu que o cobre será uma das primeiras commodities a se recuperar, antevendo, nos próximos dois ou três anos, uma escassez do metal industrial, amplamente usado na manufatura e na construção.
Em maio, a Rio Tinto aprovou uma adiada expansão de US$ 5,3 bilhões da sua mina de cobre de Oyu Tolgoi, situada no deserto de Gobi, na Mongólia.
Na entrevista ao WSJ, Jacques insistiu que a Rio Tinto não quer reduzir seu foco para determinados mercados. “Não é uma questão de commodities, é uma questão de qualidade dos ativos”, disse. “Vamos expandir nossa posição em ativos de classe mundial, não importa qual seja a commodity.”
Nos últimos anos, a Rio Tinto eliminou alguns ativos indesejados para fortalecer suas finanças e garantir sua nota de crédito, de um único A. A empresa vendeu minas de carvão e cobre e fez tentativas fracassadas de vender negócios como depósitos de diamantes e minas de minério de ferro no Canadá.
Embora Jacques tenha se recusado a dizer se a Rio Tinto está freando a expansão de sua área de minério de ferro — o foco de grande parte de seus investimentos mais recentes —, ele afirmou que a prioridade do novo diretor das operações de minério, Chris Salisbury, será elevar os lucros das minas atuais. “A tarefa de Chris e sua equipe em Perth é muito clara: criar valor, o máximo possível, ao levar a produtividade para o próximo nível.”
Uma proposta para desenvolver uma nova mina de minério de ferro na Austrália Ocidental, chamada Silvergrass, será avaliada nos próximos meses, disse ele. O objetivo do projeto, porém, é melhorar a qualidade das ligas de minério de ferro vendidas para a Ásia, não aumentar a produção total, disse Jacques.
A melhor maneira de as mineradoras se protegerem e elevarem os lucros em meio a um período prolongado de preços baixos das matérias-primas tem sido muito debatida por operadores, sendo que alguns não creem que este seja o momento ideal para se expandir.
“Nos parece que ainda é muito difícil para as mineradoras se expandirem para saírem da situação atual e, sem esperar que os preços das commodities subam, parece que a melhor saída ainda é encolher o negócio e se concentrar em ativos de melhor qualidade e retorno mais alto”, escreveram analistas do banco Citigroup numa nota de pesquisa divulgada em junho.
Executivos de mineradoras agora tendem a concordar que a crise nos preços das commodities mundiais é mais profunda que suas piores previsões.
A forte produção de aço e alumínio da China tem contribuído para o excedente global. O governo chinês prometeu reduzir o excesso de produção.
“A maioria das commodities que operamos hoje está sofrendo com o excesso de capacidade, e o ritmo de reestruturação na China terá um impacto crítico na velocidade da recuperação do preço”, disse Jacques. No momento, ele diz esperar pelo menos mais alguns anos de preços “subvalorizados” e alta volatilidade. Segundo Jacques, a decisão do Reino Unido de sair da União Europeia elevou as incertezas.
Jacques disse, entretanto, que o referendo não o levou a reavaliar se a mineradora deve ou não continuar tendo suas ações negociadas na bolsa de Londres ou se sua sede deve sair da cidade. “Continuaremos, contudo, monitorando a situação com muito cuidado nas próximas semanas, meses e anos, porque essa história pode se estender por vários anos.”

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