Diamantes gigantes de Botsuana atraem investidores
Em um quarto com portas blindadas em Garobone, capital de Botsuana, N.B. Parag segura um diamante de 141 quilates na mão. Do tamanho de uma bola de golfe, ele é muito grande para um anel, mas do tamanho certo para um investimento.
“As pessoas que compram grandes gemas estão investindo em seu valor”, diz Parag, diretor da Karp Group, fabricante e varejista indiana de diamantes. Ele disse que metade das gemas maiores que vende termina nos cofres de clientes endinheirados que veem diamantes como uma reserva de valor de longo prazo.
Parag estava em Botsuana para tentar comprar gemas gigantes encontradas numa mina no Deserto de Kalahari, a algumas centenas de quilômetros ao norte da capital. Ele ficou maravilhado com uma pedra que foi vendida dias depois por US$ 6,1 milhões. “É como uma obra de arte”, diz. Ele fez uma oferta pela gema, mas foi superado por outro comprador.
Dezenas de negociantes de diamantes estão convergindo para esse remoto país africano para comprar essas gemas grandes. Algumas dessas pedras irão para carteiras de investimentos junto com ações, títulos e ouro, tendência que se acelerou à medida que mais diamantes grandes foram sendo colocados no mercado pelos mineiros do sul da África, nos últimos anos.
“São US$ 10 milhões que você pode carregar no seu bolso sem disparar nenhum alarme, e é algo razoavelmente fácil de ser revendido. Isso é único”, diz Brian Menell, investidor dos setores de mineração, gás e petróleo que já ajudou a encontrar diamantes grandes para clientes ricos e também já trabalhou para a gigante dos diamantes De Beers.
Pedras de poucos quilates — cada quilate pesa 200 miligramas — são o que tradicionalmente movimenta a indústria de joias que floresceu na China e Índia. Extraídas na África, Canadá e em outros países, essas pedras são geralmente polidas na Bélgica, Israel ou Índia e depois colocadas em anéis, colares e outras joias.
Assim como o preço do ouro, o valor dessas pedras mais comuns caíram em relação ao auge da crise financeira mundial, em 2011, quando os investidores compraram os dois minerais em busca de um investimento seguro.
Mas, no decorrer dos últimos 20 anos, os preços das gemas maiores mais que dobraram. Os preços das pedras mais acessíveis, de um quilate, subiram 76%, segundo a firma Rapaport Group, graças a fatores como o controle rígido da De Beers sobre boa parte do mercado de pedras para joias. Martin Rapaport, fundador da Rapaport Group, cujos relatórios de preços servem de referência no setor, acredita que os diamantes continuarão a se valorizar à medida que os consumidores dos mercados emergentes desenvolverem um gosto pelo luxo. “Se você quiser uma participação de longo prazo na expansão econômica global, diamantes são uma maneira cada fez mais acessível de conseguir isso”, diz.
A Finanz Konzept AG concorda. A firma sueca lançou um fundo em 2012 que compra diamantes e os guarda na Suécia, Dubai e Hong Kong antes de serem revendidos para joalheiros e outros investidores. O gestor de ativos Necip Babuc diz que o fundo deve ultrapassar os US$ 50 milhões em 2016.
Com o recuo recente nos preços dos diamantes, o fundo registra queda de quase 7% desde 2012 — melhor que muitos fundos baseados em ouro que caíram cerca de 25% no mesmo período.
Mas os negociantes de diamantes dizem que a demanda por gemas grandes está crescendo por parte de pessoas ricas atraídas pela exclusividade de possuir um ativo que cabe no bolso e tem um valor de sete dígitos. Para atender os pedidos dos clientes (que ninguém quis identificar), esses negociantes estão recorrendo a Botsuana, onde a canadense Lucara Diamond Corp. e outras mineradoras estão produzindo cada vez mais gemas maiores.
“O mercado de luxo está se desenvolvendo”, diz William Lamb, diretor-presidente da Lucara. “De repente, há mais pedras disponíveis.”
Neste ano, a Lucara faturou US$ 136 milhões vendendo apenas 50 grandes diamantes, mais que os US$ 72 milhões obtidos com 45 “pedras excepcionais” (o termo usado na indústria para designar essas gemas) em 2013. Em setembro, a Petra Diamonds Ltd., que é sediada em Londres, vendeu por US$ 27,6 milhões um diamante azul de 123 quilates, extraído em sua mina principal na África do Sul. Desde sua abertura, em 2006, a mina da Gem Diamonds Ltd. em Lesoto, país montanhoso encravado dentro da África do Sul, já produziu quatro dos 20 maiores diamantes brancos já encontrados.
Botsuana é o principal produtor de diamantes do mundo, mas suas pedras eram levadas pela De Beers e outros produtores para serem vendidas em Londres e polidas em Antuérpia, Tel Aviv e Índia.
Diante da insistência do governo, a De Beers, no ano passado, instruiu seus clientes a apanharem seus diamantes em Gaborone. Mais de 20 empresas de polimento foram abertas e a maioria se especializou nos grandes diamantes que ajudam compensar os custos de produção, que são maiores que na Índia e em outros mercados. Elas criaram 4.000 empregos num país que possui escassas oportunidades de trabalho fora do governo e do negócio de safáris de turismo.
“O custo de fazer negócio em Botsuana é só esse: você tem que ter sua empresa aqui”, diz Jacob Thamage, o principal representante do governo no setor de diamantes.
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