quinta-feira, 14 de julho de 2016

FAISQUEIRO do município de Datas



FAISQUEIRO
 do município de Datas examina o “pretume” emborcado numa banca de apuração
“É um jogo de sensação”, compara seu Ida. Há que se ter sorte, observar indícios naturais de ocorrência e respeitar as manias das pedras. Ele afirma que os diamantes têm lá suas extravagâncias: só se revelam quando querem e a quem os mereça. Para achá-los, os garimpeiros se guiam principalmente por “satélites”, pedrinhas com feitios e cores diversos denominadas cativo, ovo de pombo, palha de arroz, sericória, fava, osso de cristal, tinteiro (preto reluzente, parecendo pólvora), cabeça de macaco, agulha, etc. Dependendo do tipo e da concentração de satélites, sabem se estão perto ou não de tirar uma pedra e, eventualmente, “bamburrar” – ficar rico.

Na lida desde os 12 anos de idade, ele vem trabalhando no Ribeirão do Guinda, a nove quilômetros de Diamantina, em parceria com Belmiro Luiz do Nascimento, idealizador do Projeto Garimporeal, de resgate da cultura garimpeira. “Os velhos estão morrendo e, com eles, a tradição, o conhecimento. Os jovens não querem saber de garimpo”, justifica Belmiro, referindo-se à iniciativa, lançada em abril. O projeto é eminentemente educativo. Ele recebe turistas, muitos dos quais estrangeiros, e os leva à beira do Guinda para mostrar o que é garimpo “verdadeiro” e provar que não é nocivo ao meio ambiente. Seu Ida se encarrega das “aulas práticas” e ele, das “teóricas”

Belmiro concorda com as exigências legais como forma de coibir a clandestinidade e proteger a natureza, mas contesta a generalização. “O garimpo tradicional não desbarranca nem faz desmonte com explosivos, como é comum na mineração. Os mineradores nacionais ou internacionais não causam estragos maiores, mesmo com permissão legal?”, questiona, observando que a maioria dos garimpeiros não tem condições de arcar com os custos de licenciamento – cerca de cinco mil reais, considerando apenas a PLG – Permissão de Lavra Garimpeira, documento fornecido pelo Departamento Nacional de Produção Mineral, órgão do governo federal.

Diamantes de sangue
O Protocolo Kimberley, ou KCPS – Sistema de Certificação do Processo Kimberley, é uma tentativa conjunta de 40 países de coibir o terror perpetrado por grupos rebeldes na África. Quem viu o filme Diamante de Sangue, com o ator Leonardo Di Caprio, tem noção da barbárie, financiada, em grande parte, pelo contrabando de diamantes, negócio altamente lucrativo. A indústria movimenta anualmente 6,7 trilhões de dólares, segundo a ONU.

Desde janeiro de 2003, nenhuma pedra bruta pode ser comercializada sem a certificação, emitida pelos respectivos governos assegurando sua origem legal. Em 2004, 29 garimpeiros foram mortos na reserva indígena Roosevelt, na fronteira de Mato Grosso com Rondônia. Território dos cintas-largas, a reserva abriga grandes depósitos diamantíferos ainda não totalmente mensurados. Pronto! O Brasil passou a integrar a lista dos países com “diamantes de conflito”. Paralelamente, surgiram indícios de que o país estava sendo usado como ponte para as pedras africanas, vendidas no mercado internacional como se fossem brasileiras.

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