O Ouro Mineiro
Barra de ouro extraído em Minas,em 1809, devidamente quintado.
Em Minas, a descoberta do ouro se deu no final do séc. XVII, simultaneamente, por vários bandeirantes e sertanistas: Salvador Fernandes Furtado descobriu as lavras do Ribeirão do Carmo (Mariana), Antônio Dias Cardoso revelou a existência do metal precioso no vale do Tripuí (Ouro Preto), o padre João Faria descobriu o famoso ouro preto. João Lopes de Lima apontou outras jazidas no Ribeirão do Carmo. Borba Gato revelou as minas de Sabarabuçu (Sabará). Domingos Fonseca Leme descobriu ouro em um afluente do rio das Velhas. Domingos do Prado, no rio Pitangui. Bartolomeu Bueno, no rio Pará. Antônio Garcia Cunha, nas margens do rio das Mortes (São João DeL Rei).
Tantas descobertas simultâneas e em áreas relativamente distantes entre si, evidentemente, não foram meras coincidências. O desabrochar instantâneo de tantas minas tem explicação mais pragmática: em 1694, sucumbindo ao óbvio, a Coroa Portuguesa decidiu modificar a legislação que a tornava dona de todos os minérios encontrados no Brasil. A partir de então, o direito de posse das minas seria concedido ao descobridor, cabendo ao rei apenas e tão-somente um quinto dos achados. Agora, o ouro estava acessível a quem se interessasse por ele. Só então os sertanistas de São Paulo revelaram ao mundo as minas que já deveriam conhecer havia pelo menos 20 anos. O fato teve repercussão global, pois as lavras encontradas nas Gerais configuraram a maior descoberta de ouro registrada no planeta, até então. Foi o maior volume de ouro, explorado da forma mais célere. Portugal instituiu um método, extremamente, eficiente de exploração do ouro mineiro. Em breve, as mais de mil toneladas, oficialmente, arrancadas das entranhas da terra fariam o fausto e a opulência das cortes européias, especialmente da Inglaterra, graças ao Tratado de Methuen (o tratado dos vinhos e dos panos), curiosamente, assinado com Portugal,logo após ao descobrimento das minas auríferas, em 1703, no qual se estabeleceu, entre outros termos, que à Inglaterra caberia metade de todo o ouro descoberto no Brasil. Portugal se beneficiou com pouco do ouro explorado nas Minas Gerais. Boa parte da porção de ouro que caberia aos portugueses, conforme as absurdas cláusulas do tratado, foi parar nas mãos do Vaticano e da Casa Real dos Hapsburgs da Áustria, a monarquia mais influente da Europa, na época.
O ouro extraído de nossas terras criou as condições financeiras necessárias para a mais importante revolução econômica do mundo - a Revolução Industrial. O ouro mineiro permitiu que a circulação de moeda fosse triplicada na Europa, já que o metal era e ainda é usado como lastro para emissão monetária. Diante da abundância monetária conseqüente da abundância de ouro nos mercados europeus, foi possível o acúmulo de capitais que resultaram na Revolução Industrial, primeiramente, na Inglaterra, graças ao tratado dos vinhos, panos e muito ouro.
Mas, o ouro mineiro não foi todo perdido. Ele foi responsável pelo surgimento de uma cultura urbana frenética, complexa e esplendorosa, sem precedentes em terras americanas e ainda há bastante ouro em Minas. O chamado ouro de aluvião que se extraiu facilmente e em grande quantidade nas margens dos ribeiros, este sim se esgotou. O ouro de filões e veios ainda é farto.
O que, definitivamente, encerrou o ciclo do ouro em Minas foi a abolição da escravidão. Sem escravos a atividade se tornou inviável, sob o ponto de vista econômico. Foi quando houve o predomínio das companhias inglesas na exploração do ouro mineiro, as quais implantaram métodos industriais de extração do metal, alcançando grande produção, em continuidade à histórica pilhagem da riqueza de Minas. Posteriormente, diante da onda nacionalista que se irrompeu com o Estado Novo de Vargas e da justificada consternação que a usurpação de nosso ouro, historicamente, tem afetado o imaginário da nação, Getúlio Vargas, finalmente, desmantela grande parte do sistema de exploração aurífera montado pelos ingleses e ,desde então, explorar ouro em Minas se tornou tabu.
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