Hoje em dia é muito comum ouvir falar sobre a ansiedade, que é vista quase sempre, como um inimigo a combater e raramente, como algo intrínseco ao funcionamento do corpo. A ansiedade só é ruim, porém, quando ultrapassa o nível de normalidade e passa a atrapalhar nossas tarefas cotidianas.
Utilizando estratégias corretas, podemos revertê-la a nosso favor.
Esta reação instintiva do organismo nada mais é do que um alerta natural para que o nosso corpo reaja a algum sinal de perigo. Sem ela, estaríamos desprotegidos de ameaças rotineiras, como atravessar uma rua movimentada, quando um carro vem rapidamente em nossa direção, por exemplo. Se não sentíssemos o coração bater mais forte e as mãos geladas e trêmulas, continuaríamos caminhando calmamente e correríamos um sério risco de sermos atropelados.
A ansiedade natural foca nossa atenção para a situação que a causa, colocando o corpo em estado de alerta para que tome o devido cuidado e enfrente a situação. Não é à toa que quem sofre de ansiedade contínua tem dificuldade de se concentrar em atividades simples. É impossível focar a atenção em qualquer outra atividade quando seu corpo está tenso pela antecipação de um acontecimento.
Isso nos leva a um ponto importante: se a ansiedade, num primeiro momento, serve para proteger o nosso organismo, é preciso aceitá-la e aprender a controlar os seus sintomas. Quem sofre de ansiedade (isto é, quando a ansiedade atinge um nível patológico), antecipa acontecimentos que não estão ocorrendo no momento e que não é certo que venham a ocorrer no futuro. Uma boa dica, então, é concentrar-se no presente, respirar fundo e tomar consciência do próprio corpo. Procurar sentir os pés firmes no chão, observar a respiração, corrigir a postura, posicionando-se mais firmemente, tudo isso pode ajudar no momento em que ela aparece. Mais a longo prazo, praticar regularmente exercícios físicos, aprender práticas de relaxamento e/ou meditação e guardar um tempo para fazer o que gosta, como estar perto de pessoas queridas, o que também é importante. Quando praticamos exercícios físicos, nosso organismo produz substâncias que são responsáveis pela sensação de prazer. Já as práticas de meditação e reflexão são úteis para relaxar a mente e libertá-la de preocupações desnecessárias.
É claro que uma entrevista de emprego ou uma viagem esperada há muito tempo causarão ansiedade.
Isso é normal e benéfico. Nestas horas, o melhor a fazer é preparar-se adequadamente para a situação, dando o melhor de si para enfrentar o acontecimento.
Há casos, porém, em que a causa da ansiedade não é visível, pois não se trata de um elemento externo que a motiva e, sim, de algo enraizado na psique da pessoa. Nestes casos, é importante buscar ajuda especializada, a fim de resgatar, na história de vida, o elemento motivador desta ansiedade constante. O processo psicoterapêutico é o caminho mais eficaz para tratar desse problema. A doença, dessa forma, torna-se o ponto de partida para uma cura maior e mais profunda.
Ao aprender a lidar com a ansiedade, ao mesmo tempo em que utilizamos seu potencial positivo, neutralizamos seus efeitos negativos, que podem nos impedir de desenvolver e realizar nossas potencialidades físicas e psicológicas. Uma ansiedade descontrolada ou crônica sabota nossa capacidade intelectual, priva-nos de nossos melhores recursos emocionais e intuitivos, dificulta a articulação verbal, o senso de humor e a presença de espírito, reduz a capacidade de concentração e afeta a memória.
Ou seja: pode transformar num desastre o desempenho de uma pessoa talentosa e capaz e produzir distúrbios mentais bastante graves, como fobias, ataques de pânico, dentre outros.
Não se pode esquecer que há vários tipos de ansiedade e que cada pessoa reage de uma forma diferente a ela. Assim, não existe uma fórmula única e generalizada que resolva o problema. Cada indivíduo é distinto e, por isso, é sempre importante buscar o autoconhecimento, aprendendo, descobrindo ou elaborando técnicas próprias de combate a este sintoma às vezes inconveniente, mas natural e sempre presente em nossas vidas.
Mariuza Pregnolato
Fonte: www.mariuzapregnolato.com.br
Ansiedade
Estes sintomas freqüentemente estão presentes na população saudável, quando vivenciamos uma situação incomum ou muito significativa (por exemplo, antes de fazer uma prova, de se apresentar em público ou de um encontro amoroso importante), porém é necessário que estejam presentes em um grau exagerado, afetando a vida diária da pessoa, para representar um problema que necessita de tratamento médico.Os transtornos de ansiedade são extremamente freqüentes e seus sintomas podem ser tanto sensações físicas quanto pensamentos incômodos.
Tipos de Ansiedade
Os transtornos de ansiedade dividem-se em diversos tipos de acordo com os sintomas predominantes e estão listados a seguir:
Transtorno do Pânico
A característica principal do transtorno do pânico é o ataque de pânico, uma combinação de sintomas físicos e pensamentos desagradáveis, que ocorrem sem que haja uma doença física grave o suficiente para causá-los. Estas sensações são tão intensas que freqüentemente as pessoas acham que estão tendo um infarto e procuram a emergência de um hospital geral.
Seus sintomas são:
Taquicardia (“coração acelerado”), palpitações (sentir o coração batendo descompassado no peito), dor na região do coração
Sensação de falta de ar
Tremores
Suor excessivo
Enjôo ou dor abdominal
Sensação de morte iminente
Transtorno de Ansiedade Generalizada
As pessoas com um transtorno de ansiedade generalizada estão constatemente tensas, preocupadas com situações corriqueiras, antecipando problemas que poderiam acontecer.
Estas preocupações devem ser exageradas para serem caracterizadas como um transtorno e podem causar diversas complicações, tais como problemas para dormir, dores musculares, problemas de concentração e irritabilidade.
Fobias
Uma fobia é um medo persistente de um objeto, animal, situação ou atividade. Este medo é tão intenso que a pessoa pode evitar qualquer situação em que possa estar exposta à causa do medo.
Alguns tipos comuns de fobias são:
Fobia específica: uma fobia específica é o medo exagerado de uma situação que normalmente não é perigosa. Dentre os medos mais comuns, incluem-se os medos de voar ou de aranhas ou baratas
Fobia social: a fobia social é caracterizada pelo medo exagerado de parecer envergonhado ou desprezado em situações sociais, tais como falar em público, aproximar-se de outras pessoas, ou de fazer atividades corriqueiras (como comer ou preencher um cheque) na frente de outras pessoas.
Agorafobia: é o medo de estar em um local ou envolvido em uma situação em que não seja possível obter auxílio caso aconteça um ataque de pânico.
Transtorno Obsessivo-Compulsivo
O Transtorno Obsessivo-Compulsivo é um transtorno caracterizado pela presença de pensamentos incômodos repetitivos (por exemplo, achar que não trancou a porta ao sair, ou que deixou o registro de gás aberto, ou que pode contrair uma doença grave por tocar em uma coisa suja) que causam ansiedade, sendo necessário realizar uma compulsão (um ato repetitivo ou sem função) para aliviar-se deste pensamento (por exemplo, lavar as mãos dezenas de vezes, ou verificar repetidamente a fechadura da porta).
Transtorno do Estresse Pós-Traumático
O transtorno do estresse pós-traumático pode acontecer em pessoas que passaram por experiências extremamente desagradáveis (como um assalto, uma agressão física, desastres naturais ou um acidente automobilístico). As pessoas acometidas por este transtorno podem apresentar pesadelos em que revivem o momento da experiência desagradável ou podem lembrar-se, mesmo sem querer, do momento desta experiência.
Tratamento
Os transtornos de ansiedade têm diversas causas e manifestações diferentes, um psiquiatra poderá fazer o diagnóstico correto e iniciar o tratamento, que pode envolver o uso de medicamentos, psicoterapia ou ambos.
O tratamento pode ser prolongado, pois seus objetivos são aliviar os sintomas agudos da doença e também prevenir novos episódios da doença.
Fonte: www.abpcomunidade.org.br
Ansiedade
Transtornos de Ansiedade: Diagnóstico e Tratamento
DIAGNÓSTICO
TRANSTORNO DE PÂNICO
A manifestação central do transtorno de pânico é o ataque de pânico, um conjunto de manifestações de ansiedade com início súbito, rico em sintomas físicos e com duração limitada no tempo, em torno de dez minutos.
Os sintomas típicos são: sensação de sufocação, de morte iminente, taquicardia, tonteiras, sudorese, tremores, sensação de perda do controle ou de “ficar louco”, alterações gastrointestinais.
Os primeiros ataques de pânico costumam vir sem qualquer aviso, de modo totalmente inesperado. Depois podem surgir a partir de um nível maior de ansiedade, a ansiedade antecipatória, ou serem precipitados pelo contato com algum tipo de situação.
O transtorno de pânico inicia com os ataques e costuma progredir para um quadro de agorafobia, no qual o paciente passa a evitar determinadas situações ou locais por causa do medo de sofrer um ataque.
Situações e locais típicos da agorafobia são: túneis, engarrafamentos, avião, grandes espaços abertos, shopping centers, ficar sozinho, sair sozinho. Em todas essas situações existe um denominador comum – o problema que o paciente enfrenta, caso nelas tenha um ataque. Com a progressão do transtorno, o paciente fica cada vez mais dependente dos outros e com seu espectro de atividades cada vez mais limitado.
Outros transtornos mentais são comumente associados com o transtorno de pânico e precisam ser bem investigados para a elaboração de um plano de tratamento adequado, como depressão ou abuso de álcool ou drogas.
TRANSTORNO DE ANSIEDADE SOCIAL (FOBIA SOCIAL)
No transtorno de ansiedade social (fobia social), os sintomas de ansiedade ocorrem em situações nas quais a pessoa é observada pelos outros. Situações típicas compreendem: escrever, assinar, comer e fazer uma apresentação na presença dos outros.
Em contato com os outros, especialmente estranhos, o paciente sofre de sintomas como tremores, sudorese, enrubescimento, dificuldade de concentração (“branco na cabeça”), palpitações, tonteira e sensação de desmaio.
Diferentemente dos ataques de pânico, os sintomas surgem durante as situações sociais temidas e duram até o contato com os outros terminar.
O transtorno de ansiedade social começa muito cedo na vida da pessoa, há manifestações desde a infância, mas se torna mais evidente no início da vida adulta na medida em que os contatos com os outros se tornam mais obrigatórios.
A evolução do transtorno de ansiedade social vai limitando cada vez mais a vida da pessoa e pode gerar complicações como o abuso e dependência de álcool ou depressão.
TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO
Obsessões são pensamentos, imagens e impulsos que ocorrem de modo repetitivo, intrusivo, usualmente associados com ansiedade, que a pessoa não consegue controlar, apesar de reconhecer seu caráter anormal. Compulsões são atos ou comportamentos, recorrentes e repetitivos, que o paciente é forçado a realizar, sob pena de entrar em um estado de acentuada ansiedade.
As compulsões costumam se elaborar em rituais com atos relacionados com limpeza, verificação e contagem. O paciente toma dez, trinta banhos por dia, de acordo com um esquema predeterminado. Lava as mãos toda vez que se encosta a certo tipo de objeto. Conta as cadeiras de um cinema para se sentar, exatamente em determinada posição. Certifica-se, inúmeras vezes, de que não deixou uma porta aberta. As obsessões e as compulsões surgem, ou tornam-se evidentes, no início da vida adulta. Tendem a piorar com a evolução da doença e a ocupar uma parcela cada vez maior do tempo do indivíduo.
O grau de incapacitação é sempre considerável e pode atingir extremos quando o paciente tornase virtualmente paralisado pelos sintomas, incapaz até de levar um garfo até a boca.
TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADA
No transtorno de ansiedade generalizada, as manifestações de ansiedade oscilam ao longo do tempo, mas não ocorrem na forma de ataques, nem se relacionam com situações determinadas.
Estão presentes na maioria dos dias e por longos períodos, de muitos meses ou anos. O sintoma principal é a expectativa apreensiva ou preocupação exagerada, mórbida. A pessoa está a maior parte do tempo preocupada em excesso.
Além disso, sofre de sintomas como inquietude, cansaço, dificuldade de concentração, irritabilidade, tensão muscular, insônia e sudorese.
O início do transtorno de ansiedade generalizada é insidioso e precoce. Os pacientes informam que sempre foram “nervosos”, “tensos”. A evolução se dá no sentido da cronicidade.
TRATAMENTO
PRINCÍPIOS GERAIS
Os dois componentes principais do tratamento dos transtornos de ansiedade são o emprego de medicamentos em médio e longo prazo e/ou a psicoterapia cognitivo-comportamental.
O diagnóstico deve ser abrangente para se elaborar um plano de tratamento com objetivos bem definidos. Os graus de incapacitação variam muito de caso para caso, nos diferentes transtornos de ansiedade. Certos sintomas, mesmo os considerados principais, muitas vezes não resultam em melhora significativa. Nem sempre o bloqueio dos ataques de pânico resolve a agorafobia.
A evitação fóbica tanto no transtorno de pânico quanto no transtorno de ansiedade social costuma ser vencida somente de modo gradual, na medida em que o paciente passa a enfrentar situações que evitava. Nesse processo, o médico pode trabalhar com o paciente, estabelecendo, por exemplo, uma lista de situações a serem enfrentadas, hierarquizadas de acordo com o nível de dificuldade.
Os pacientes precisam ser informados quanto aos efeitos dos medicamentos, especialmente os indesejáveis. Deve ser explicado que os medicamentos demoram semanas para induzir os efeitos terapêuticos, ao contrário dos indesejáveis, que surgem depois do primeiro comprimido.
TRANSTORNO DE PÂNICO
Antidepressivos Tricíclicos A imipramina é o medicamento com eficácia comprovada no maior número de casos, em ensaios duplo-cego, placebo-controlados, no tratamento do transtorno de pânico. A eficácia da clomipramina também foi demonstrada, em menor número de ensaios duplo-cego, placebo-controlados.
A imipramina deve ser empregada em doses de 150 a 250 mg/dia, em dose única, à noite.
A dose única diária é possível por causa da meiavida plasmática longa. Com o medicamento tomado à noite são minimizados os efeitos indesejáveis associados com o pico plasmático, principalmente a sedação.
Existe dentre especialistas a noção de que a clomipramina seria superior à imipramina quanto à eficácia no tratamento do transtorno de pânico. Nos poucos estudos nos quais os dois tricíclicos foram comparados, em apenas um, com uma amostra pequena, foi encontrada superioridade da clomipramina. Em alguns estudos não-controlados, a clomipramina foi eficaz em doses baixas (10–50 mg/dia), mas nos estudos controlados as doses eficazes foram em torno de 100 mg/dia. Nos estudos controlados com a imipramina, em subgrupos de pacientes, doses menores, em torno de 50 mg/dia, foram eficazes no controle da sintomatologia do pânico.
Em um único estudo controlado foi adequadamente estudada a questão da dose da imipramina eficaz no transtorno de pânico, comparando-se três níveis, 50, 100 e 200 mg/ dia. Os níveis de 100 e 200 mg/dia foram comparavelmente eficazes e superiores ao placebo. O nível de 50 mg/dia foi tão eficaz quanto o placebo.
Tanto em ensaios clínicos controlados quanto na experiência de especialistas é notada a particular sensibilidade dos pacientes que sofrem do transtorno de pânico aos efeitos indesejáveis dos tricíclicos, especialmente a exacerbação da ansiedade no início do tratamento. Por isso, recomenda-se que o tratamento seja iniciado com doses muito pequenas (10–20 mg/dia) e que o aumento até os níveis terapêuticos habituais (100–150 mg/dia) seja feito de modo gradual, ao longo de 2 a 4 semanas.
Inibidores da Recaptação de Serotonina (IRSs)
Dois Inibidores da Recaptação de Serotonina (IRSs), a sertralina e a paroxetina, têm eficácia bem demonstrada no tratamento do transtorno de pânico em estudos randomizados, duplo-cego, placebo-controlados.
Nos estudos com diferentes níveis de doses fixas, os níveis de 50, 100 e 200 mg/dia de sertralina foram comparavelmente eficazes e todos superiores ao placebo.
No estudo de doses fixas com a paroxetina, com 10, 20 e 40 mg/dia, houve clara tendência de curva doseresposta, tendo sido a dose de 40 mg/dia nitidamente superior às outras.
Inibidores da Recaptação de Serotonina e Noradrenalina (IRSNs)
A venlafaxina tem eficácia demonstrada no tratamento do transtorno de pânico, em dois estudos randomizados, duplo-cego, placebocontrolados.
Benzodiazepínicos de Alta Potência
O alprazolam, depois da imipramina, é o medicamento mais estudado no tratamento do transtorno de pânico, com eficácia comprovada em estudos randomizados, duplo-cego, placebocontrolados.
Na maioria das pesquisas com o alprazolam, as doses eficazes para o controle da sintomatologia do pânico foram em torno de 6 mg/dia. Poucos estudos foram realizados com doses fixas.
Apesar da evidência obtida em estudos de doses fixas ser pequena, parece que o alprazolam pode ser eficaz em grande proporção de casos em doses de 3 a 6 mg/dia.
O alprazolam, em decorrência da meia-vida plasmática curta, deve ser administrado em quatro doses por dia: manhã, almoço, jantar e ao deitar. Quando isso não é feito, o paciente pode sofrer de sintomas de ansiedade nos períodos em que o nível plasmático diminui.
O clonazepam é outro benzodiazepínico de alta potência com eficácia bem demonstrada em estudos randomizados, duplo-cego, placebocontrolados, no tratamento do transtorno de pânico. O espectro de doses do clonazepam que foi eficaz, nesses estudos, foi de 1,5 a 4,0 mg/ dia. Nesses estudos controlados, o clonazepam foi administrado em duas doses por dia, por causa de sua meia-vida plasmática mais longa.
Na prática clínica, contudo, é comum o emprego do clonazepam em três doses por dia, o que induziria um nível plasmático mais estável.
TRANSTORNO DE ANSIEDADE SOCIAL (FOBIA SOCIAL)
Inibidor da Monoaminooxidase (IMAO)
A eficácia da fenelzina no tratamento do transtorno de ansiedade social foi bem demonstrada em estudos randomizados, duplocego, placebo-controlados. Em dois desses estudos, esse medicamento foi comparado com a terapia cognitivo-comportamental e com o placebo, em combinação ou sozinho. Esses estudos indicaram que a fenelzina é altamente eficaz. A combinação do medicamento com a terapia cognitivo-comportamental foi mais eficaz do que os dois tratamentos isolados.
A fenelzina foi eficaz nos estudos controlados em doses entre 60 e 90 mg/dia.
A fenelzina não está disponível no Brasil.
O IMAO disponível no Brasil é a tranilcipromina. Há um estudo aberto demonstrando a eficácia da tranilcipromina no tratamento do transtorno de ansiedade social em doses entre 40 e 60 mg/dia.
Inibidor da Monoaminooxidase Reversível (RIMA)
Foram realizados quatro ensaios randomizados duplo-cego, placebo-controlados, com a moclobemida, um IMAO reversível, no tratamento do transtorno de ansiedade social. Em dois desses ensaios, a moclobemida foi superior ao placebo quanto à eficácia e, em dois, não houve diferenças significativas entre os efeitos terapêuticos obser vados nos grupos tratados com o medicamento e nos grupos tratados com o placebo. As doses de moclobemida empregadas nesses estudos variaram entre 600 e 900 mg/dia.
Inibidores da Recaptação de Serotonina (IRSs)
A eficácia da paroxetina no tratamento do transtorno de ansiedade social foi demonstrada em dois estudos randomizados, duplo-cego, placebo-controlados, em doses em torno de 40 mg/dia. Esses estudos foram multicêntricos e com amostras grandes.
Inibidores da Recaptação de Serotonina e Noradrenalina (IRSNs)
A eficácia da venlafaxina foi demonstrada no tratamento do transtorno de ansiedade social em dois estudos randomizados, duplocego, placebo-controlados.
Benzodiazepínicos
Em dois estudos duplo-cego, placebocontrolados, cada um realizado em um único centro, foi demonstrada a eficácia do clonazepam e do bromazepam no tratamento do transtorno de ansiedade social, em doses em torno de 3 e de 30 mg/dia, respectivamente.
TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO
Inibidores da Recaptação de Serotonina (IRSs)
A única classe de medicamentos com eficácia comprovada em pesquisas clínicas no tratamento do transtorno obsessivo-compulsivo é a dos Inibidores da Recaptação de Serotonina (IRSs).
A clomipramina foi o primeiro medicamento a ter sua eficácia demonstrada no tratamento do transtorno obsessivo-compulsivo em estudos randomizados, duplo-cego, placebocontrolados.
Isso explica, em parte, a melhor diferenciação entre os resultados terapêuticos da clomipramina e os do placebo obtidos nesses estudos, realizados no final da década de 80 do século passado. Nos estudos posteriores sobre o tratamento do transtorno obsessivo-compulsivo, a resposta ao placebo aumentou muito e diminuiu a diferenciação com os medicamentos ativos.
Em vários estudos randomizados, duplocego, placebo-controlados, foi demonstrada a eficácia no tratamento do transtorno obsessivocompulsivo dos IRSs: clomipramina, sertralina, fluvoxamina e fluoxetina. As doses desses medicamentos que se mostraram eficazes foram relativamente altas, 226, 200, 249, e 60 mg/ dia, respectivamente.
Em duas meta-análises foram avaliados os resultados obtidos até 1994 em estudos randomizados, duplo-cego, placebo-controlados, no tratamento do transtorno obsessivo compulsivo. Nessas duas metaanálises, a clomipramina foi associada com um efeito terapêutico em relação ao placebo maior do que os da sertralina, fluvoxamina ou fluoxetina. Nos estudos com comparações diretas entre a clomipramina e os outros IRSs, contudo, não foram encontradas diferenças quanto à eficácia.
A paroxetina, outro IRS, foi comparavelmente eficaz à clomipramina no tratamento do transtorno obsessivo compulsivo em um estudo randomizado, duplo-cego, placebocontrolado.
TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADA (TAG)
O transtorno de ansiedade generalizada passou a ser considerado um transtorno residual desde a publicação dos critérios diagnósticos da Associação Americana de Psiquiatria (DSM-IV) e da Classificação Internacional de Doenças da O.M.S. (CID-10). Essa situação está mudando com a demonstração a partir de estudos epidemiológicos de que o transtorno existe sozinho, é frequente e muito incapacitante.
Por causa das dúvidas quanto à importância clínica do transtorno de ansiedade generalizada e do predomínio do emprego de outras categorias diagnósticas de ansiedade, poucos estudos controlados foram realizados sobre o tratamento dessa condição.
O primeiro estudo randomizado, duplocego, placebo-controlado, sobre o tratamento do transtorno de ansiedade generalizada definido de acordo com o sistema DSM-IV, foi realizado com a venlafaxina XR. Três doses de venlafaxina XR, 75, 150 e 225 mg/dia foram superiores ao placebo quanto à eficácia em um período de tratamento de seis meses. Os três níveis de doses foram comparavelmente eficazes e todos superiores ao placebo.
Posteriormente, foi bem demonstrada a eficácia da sertralina no tratamento do transtorno de ansiedade generalizada em dois estudos randomizados, duplo-cego, placebocontrolados.
Pacientes que seriam diagnosticados como sofrendo do transtorno de ansiedade generalizada dos sistemas DSM-IV ou CID-10 são tratados há três décadas, principalmente com os benzodiazepínicos. Em muitos ensaios clínicos randomizados, duplo-cego, placebocontrolados, foi demonstrada a eficácia dos vários benzodiazepínicos no tratamento de pacientes com o antigo diagnóstico de “neurose de ansiedade” que, certamente, incluía os casos atuais de Transtorno de ansiedade generalizada.
Tanto os resultados de estudos realizados com amostras heterogêneas de casos com transtornos de ansiedade quanto o emprego largamente disseminado dos benzodiazepínicos para o tratamento da ansiedade não são base para a orientação quanto ao melhor tratamento dos pacientes.
A ESCOLHA DO MEDICAMENTO
A escolha do medicamento deve recair sobre um composto com eficácia determinada em ensaios clínicos randomizados, duplo-cego, placebo-controlados.
Outro elemento é o perfil de efeitos indesejáveis.
Os Inibidores da Recaptação de Serotonina (IRSs) são associados com vários efeitos indesejáveis (sonolência, insônia, ganho de peso, disfunção sexual, boca seca, constipação, piora dos sintomas no início do tratamento, efeitos extrapiramidais, bruxismo, acatisia, movimentos involuntários, náusea, diarreia e sudorese). Os IRSs inibem enzimas do sistema P 450 do fígado e podem aumentar o nível plasmático de vários compostos, inclusive dos antidepressivos tricíclicos, induzindo interações medicamentosas perigosas.
Os antidepressivos tricíclicos são associados com acentuados efeitos anticolinérgicos (boca seca, constipação, efeitos anticolinérgicos centrais – dificuldade de concentração, perturbação da memória–– tonteira, taquicardia, palpitações, constipação, visão turva, retenção urinária), instabilidade motora, ganho de peso, disfunção sexual, efeitos cardiovasculares (hipotensão ortostática, prolongamento do intervalo QTc), efeitos extrapiramidais (acatisia, rigidez, tremores). Em superdoses, os tricíclicos induzem um quadro gravíssimo de intoxicação, frequentemente letal.
Os benzodiazepínicos (alprazolam, clonazepam) são associados com sedação, distúrbios cognitivos (dificuldade de concentração, amnésia), disfunção sexual, disfunção psicomotora, toxicidade comportamental (irritabilidade, agressividade, desinibição). O uso continuado de benzodiazepínicos induz dependência fisiológica e quando da suspensão, especialmente se abrupta, pode ocorrer uma síndrome de abstinência com sintomas como tremores, ansiedade acentuada, sudorese, câimbras, hipersensibilidade sensorial, inquietude, insônia, cefaleia e até convulsões.
Apesar de induzirem vários efeitos indesejáveis, os Inibidores da Recaptação de Serotonina (IRSs) são, no presente, considerados uma opção melhor quanto à tolerabilidade do que os tricíclicos ou os benzodiazepínicos.
Outro fator que pode pesar na escolha de um medicamento é o custo. Os tricíclicos, especialmente a imipramina, e os benzodiazepínicos são medicamentos mais antigos, acessíveis na forma de genéricos e de custo menor.
Em função dos níveis (qualidade e quantidade) de evidências científicas (resultados de ensaios clínicos randomizados, duplo-cego, placebo-controlados), descritos nessas Diretrizes, demonstrando a eficácia dos medicamentos para o tratamento dos transtornos de ansiedade e de problemas associados à tolerabilidade ou riscos, pode-se elaborar um algoritmo (Figura 1).
Nesse algoritmo, os medicamentos são ordenados como de 1ª, 2ª ou 3ª linha, como opções para o tratamento de um determinado transtorno de ansiedade.
Na avaliação de cada paciente, o médico deverá exercer o julgamento clínico e optar por um medicamento não necessariamente na ordem recomendada pelo algoritmo. Por exemplo, um paciente que sofre do transtorno de pânico e que é hipersensível à piora inicial induzida pelos IRSs pode ser inicialmente tratado com o clonazepam.
Considerações de ordem prática influenciam também na escolha das opções do algoritmo. A imipramina é mais acessível às pessoas de menor renda, na forma de genérico ou distribuída por instituições públicas.
Por quanto tempo deve ser mantido o tratamento?
Há estudos que demonstram que os efeitos terapêuticos dos medicamentos se mantêm durante períodos de seis meses a um ano no tratamento do transtorno de pânico. Em um estudo controlado, randomizado, duplocego, placebo-controlado com pacientes com o transtorno de pânico, o índice de recidiva no grupo que passou para o placebo após seis meses de tratamento bem sucedido com a imipramina foi de 50% em um ano de seguimento.
Quanto ao transtorno de ansiedade social, há um estudo aberto demonstrando que o índice de recidiva é muito grande, de mais de 50%, após quatro anos de tratamento medicamentoso bem sucedido, e um estudo controlado mostrando recidiva de 40% no grupo com placebo em seis meses de continuação.
Estudos controlados mostram que os IRSs mantêm seus efeitos terapêuticos em pacientes com o transtorno obsessivo-compulsivo durante dois anos de tratamento. Em estudos de seguimento naturalístico, a frequência de recidiva no transtorno obsessivo-compulsivo é muito alta, maior do que 50% após dois anos de seguimento.
Os estudos de seguimento em longo prazo de todos os transtornos de ansiedade foram, predominantemente, naturalísticos, abertos e não-controlados.
Mostram que a evolução desses transtornos não é uniforme e com subgrupos diferentes de pacientes.
Os pacientes podem ser divididos em três subgrupos quanto à evolução: crônica, episódica ou quadro agudo seguido de remissão.
A conclusão prática para o médico quanto ao tratamento de manutenção dos transtornos de ansiedade seria a de que períodos de cerca de seis meses de tratamento farmacológico estariam indicados para a maioria dos casos.
Em muitos casos, o tratamento farmacológico é mantido por períodos muito longos, de anos, por motivos como a resolução apenas parcial da sintomatologia ou pioras nítidas quando a dose do medicamento começa a ser diminuída.
Algorítimo | ||||||
Transtornos | 1ª linha | mg/dia | 2ª linha | mg/dia | 3ª linha | mg/dia |
Pânico | IRS: Sertralina Paroxetina IRSNs venlafaxina | 50 20 75-150 | Tricíclicos Imipramina Clomipramina | 150-200 100-150 | BZDs: Clonazepam Alprazolam | 2-4 2-4 |
Ansiedade Social | IRS: paroxetina IRSNs: venlafaxina | 40-60 75-225 | BZD: Clonazepam | 3-6 | RIMA Moclobemida | 750-900 |
Obsessivo Compulsivo | IRSs: sertralina paroxetina fluvoxamina fluoxetina clomipramina | 200 60 300 60 300 | Combinações IRS + antipsicótico | |||
Ansiedade Generalizada | IRSNs: venlafaxina IRSs: sertralina | 75-150 50-200 | IRSs: paroxetina | 20-40 | BZD: prazos curtos |
Nenhum comentário:
Postar um comentário