Petróleo de xisto americano sobrevive ao colapso
Quando os preços do petróleo começaram a cair há dois anos, devido ao excedente global de oferta, os especialistas previram que os produtores de petróleo de xisto dos Estados Unidos seriam as grandes vítimas. Mas as empresas americanas que revolucionaram o negócio de petróleo e gás com o fraturamento hidráulico, ou “fracking”, e a perfuração horizontal estão sobrevivendo ao massacre praticamente ilesas.
Embora o colapso de preços tenha provocado uma onda de falências, a produção total de petróleo americano caiu apenas 535 mil barris por dia até o momento este ano ante o mesmo período de 2015, quando ela ficou em uma média de 9,4 milhões de barris, segundo os dados federais mais recentes.
Num momento em que os mercados tentam adivinhar em quais regiões a produção voltará a crescer quando os preços se recuperarem, uma resposta está clara: América. O Goldman Sachs prevê que os EUA estarão bombeando um adicional de 600 mil a 700 mil barris de petróleo por dia até o fim de 2017 — compensando cada gota perdida durante a crise.
Poucos previram isso no segundo semestre de 2014, quando a Arábia Saudita sinalizou que não iria reduzir sua produção para derrubar os preços do petróleo. Especialistas do setor concluíram que uma redução brutal de preços forçaria os produtores menos eficientes conhecidos como “marginais” — um grupo que inclui os produtores de xisto — a sair do mercado.
Mas a maior consequência da decisão saudita e subsequente queda nos preços foi um atraso nos megaprojetos caros de petróleo, como as plataformas em águas profundas na costa de Angola e as minas de areias betuminosas no Canadá.
Mesmo se os membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), reunidos esta semana na Argélia, conseguirem fechar um acordo ainda este ano para cortar a produção, os produtores americanos cobrirão esse vácuo. “Os EUA não são produtores marginais, mas são os mais flexíveis”, diz R.T. Dukes, analista da consultoria britânica Wood Mackenzie. “Serão os mais rápidos a voltar.”
Mais de 100 produtores americanos de petróleo entraram em recuperação judicial durante a crise, mas mesmo essas empresas continuaram a explorar petróleo e gás. Muitos se livraram da recuperação judicial e ficaram mais fortes graças a um resultado financeiro sem dívidas. A SandRidge Energy Inc., que entrou em recuperação judicial em maio, sairá desse processo no próximo mês, depois de eliminar quase US$ 3,7 bilhões em dívidas.
Muitos operadores de xisto enfrentam dificuldades no nível atual de preços, buscando novas injeções de recursos em Wall Street enquanto operam com prejuízo. Mas os produtores mais fortes, como a EOG Resources Inc. e a Continental Resources Inc., em breve serão capazes de gerar dinheiro suficiente para fazer novos investimentos e pagar dividendos — assim como impulsionar a produção — mesmo com os preços baixos, dizem analistas.
A produção americana começou a crescer em julho, logo depois que os preços do petróleo voltaram para o território de US$ 50 por barril. Rapidamente, os produtores puseram 100 sondas em operação nos últimos meses. O aumento na produção assustou o mercado, derrubando as cotações em 20%, de volta ao nível de US$ 40. Mais recentemente, elas subiram para cerca de US$ 45.
As oscilações devem continuar por meses, à medida que os produtores de xisto voltem ao trabalho, diz Eric Lee, analista do Citibank, que prevê que o petróleo bruto se estabilizará em torno de US$ 60 por barril no fim de 2017.
Embora os tanques de armazenamento de petróleo estejam lotados no mundo todo, novas fontes logo serão necessárias porque campos de petróleo mais antigos registram queda de 5% ao ano na produção enquanto a demanda global cresce a um ritmo de 1,2% ao ano. A demanda atingirá a marca de 100 milhões de barris diários em 2020, de acordo com a Agência Internacional de Energia.
O iminente descasamento entre oferta e demanda é um dos motivos pelo qual o dinheiro fácil que impulsionou o boom da exploração americana não secou, diz Lewis Hart, diretor sênior de consultoria corporativa e bancos do Brown Brothers Harriman, banco de Nova York.
Mesmo com os bancos e outros financiadores tradicionais fechando os cofres, fontes alternativas de dinheiro estão se multiplicando, desde fundos de private equity até especialistas em dívidas de risco.
“A própria existência desse capital significa que os preços devem ficar baixos por mais tempo, porque ele só piora o problema de oferta”, diz Hart.
Um motivo importante para a resistência dos produtores americanos é que eles encontraram formas de cortar custos e maximizar suas eficiências durante os anos de crise. Essas inovações agora devem impulsionar o ressurgimento do setor. Os cortes de custos foram dolorosos para muitos. Quase 160 mil trabalhadores foram demitidos em todo o país, segundo os dados mais recentes da consultoria Graves & Co.
Mesmo assim, muitas empresas que não acumularam dívida ou gastaram além de seus recursos durante o boom agora têm recursos suficientes para tirar proveito dos efeitos negativos do colapso nas finanças do setor.
Albert Huddleston, fundador e sócio-gerente da Aethon Energy, diz que a empresa, com sede em Dallas, gastou mais de US$ 600 milhões com a aquisição de ativos de petróleo e gás abatidos por dívidas desde o começo do declínio de preços, em 2014. “Pode-se matar o xisto? A resposta é não”, diz ele.
Fonte: WSJ
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