domingo, 9 de outubro de 2016

BREVE HISTÓRIA DO DIAMANTE NO BRASIL (2ª parte)


BREVE HISTÓRIA DO DIAMANTE NO BRASIL
De finais do século XIX até os dias atuais (2ª parte)



No final do século XIX, um evento histórico relacionado ao mundo do diamante alterou drasticamente o panorama vigente. A descoberta das primeiras pedras na África do Sul, ocorrida em 1866, foi um divisor de águas neste cenário, pois o Brasil, que até então detinha a primazia da produção, foi suplantado após aproximadamente 150 anos de liderança.
Os anos seguintes ao achado africano marcaram um período de franco declínio da produção brasileira, que não deveu-se ao esgotamento de suas reservas, mas sim aos baixos teores dos depósitos, que eram intensamente lavrados com base em trabalho escravo, abolido no final do século XIX. Quando os primeiros diamantes provenientes da África do Sul alcançaram a Europa, por volta de 1870, Lisboa, outrora o principal centro de comercialização de mercadoria bruta, também já perdera importância, se comparada aos centros de lapidação de Amsterdã e Antuérpia.
Após o fim da denominada era brasileira na história do diamante, a região de Diamantina, em Minas Gerais, continuou sendo a principal fonte deste mineral no país, embora sua produção tenha se mantido em níveis relativamente baixos até o princípio dos anos 1960 quando, além das atividades dos garimpeiros autônomos e dos garimpos semi-mecanizados, empresas de mineração iniciaram a exploração das aluviões diamantíferas, utilizando o método de dragagem em larga escala, ao longo dos leitos do Rio Jequitinhonha e de seus afluentes. Esta região manteve-se hegemônica no país até meados dos anos 80 mas, atualmente, seus depósitos encontram-se relativamente próximos da exaustão.
Por outro lado, o Triângulo Mineiro alcançou projeção nacional, devido a sua produção significativa e por ser a região de ocorrência de grande parte dos maiores diamantes brasileiros encontrados na primeira metade do século XX, sobretudo nos domínios hidrográficos do rio Abaeté, nos municípios de Coromandel, Estrela do Sul, Tiros, Patos de Minas, Monte Carmelo, Abadia dos Dourados e Romaria. Atualmente, está em curso um projeto de identificação de kimberlitos nas regiões oeste e central do estado de Minas Gerais.
A produção de diamantes matogrossense ressurgiu no início do século XX com as descobertas ocorridas nas regiões de Poxoréo, que remontam à década de 20, e Nortelândia, Alto Paraguai e Arenápolis, entre o final da década de 30 e início dos anos 40. As atividades de garimpagem em aluviões dessas regiões continuaram, intermitentemente, durante as décadas seguintes e intensificaram-se a partir dos anos 70, no noroeste do estado, em Juína, e no sudoeste, nos municípios de Tesouro, Guiratinga, Alto Garças, Barra do Garças e Poxoréo, sendo, neste último, criada uma reserva garimpeira, em 1979. Nesta mesma década, a chegada de empresas de mineração, que passaram a prospectar diamantes sistematicamente na região, contribuíram para que a produção alcançasse maior relevância nos últimos 35 anos, convertendo Poxoréo em um importante centro produtor nacional.
Em Rondônia, junto à divisa com o estado do Mato Grosso, a reserva indígena Roosevelt apresenta grande potencial diamantífero. Como no Brasil as atividades de mineração em terras indígenas são ilegais, há uma expectativa por parte da etnia Cinta-Larga, das mineradoras e dos garimpeiros quanto a sua regulamentação, após conflitos ocorridos em 2004. Atualmente, há diversos kimberlitos no estado sendo pesquisados com vistas à implantação de empreendimentos de mineração, principalmente na promissora região de Pimenta Bueno, no leste do estado.
A produção de diamantes na região da Chapada Diamantina, no centro do estado da Bahia, teve seu esplendor na segunda metade do século XIX, quando as ocorrências de Lençóis, Andaraí, Palmeiras e Mucugê, na bacia do rio Paraguaçu, foram intensamente lavradas. As atividades de garimpagem diminuíram gradativamente no final do século XIX, até quase cessarem ao término da segunda década do século passado. A partir dos anos 80, várias garimpos entraram em atividade nos leitos dos rios situados no Parque Nacional da Chapada Diamantina e próximos dele. Por uma ação conjunta de entidades ligadas à mineração e ao meio ambiente, estes garimpos foram fechados em 1996.
Os diamantes foram descobertos em Roraima no início do século XX, inicialmente na região do rio Maú e, mais tarde, nos leitos dos rios Cotingo, Quinô e Suapí. Na década de 30, deu-se a descoberta do depósito da serra do Tepequém, próximo à divisa com a Guiana, que manteve-se como o mais importante do estado por longo tempo. No início da década de 60, ocorreu um declínio da produção, como resultado da impossibilidade de aplicação de métodos rudimentares aos já baixos teores das aluviões remanescentes. A partir dos anos 70, teve início a produção mecanizada e, em meados da década seguinte, foi criada a reserva garimpeira de Tepequém, fechada em 1989. Dois anos mais tarde, deu-se a criação do Parque Nacional dos Índios Ianomâmis, neste estado em que as questões indígenas e ambientais exerceram influência preponderante na produção.
Depósitos diamantíferos menos significativos foram descobertos nos séculos XIX e XX em diversas regiões do país, nos estados de Minas Gerais (Serra da Canastra e Presidente Olegário), Piauí (Gilbués e Monte Alegre), Paraná (Rio Tibagi), São Paulo (Franca), Mato Grosso do Sul (Aquidauana), Goiás (Israelândia e Araguatins), Pará (Itupiranga e Itaituba), Tocantins e outros.
Atualmente, o Brasil detém uma posição quase insignificante no mercado global de diamantes, respondendo por aproximadamente 1 % da produção mundial. O modo de ocorrência dos diamantes em todas as localidades brasileiras mencionadas é similar, sendo as gemas lavradas em depósitos secundários, sejam aluviões, eluviões, colúvios e/ou em metaconglomerados.
Embora no Brasil ocorram centenas de kimberlitos e lamproítos, as fontes primárias do diamante, a imensa maioria destes corpos rochosos é estéril ou apresenta teores insignificantes sob o ponto de vista econômico, de modo que, até onde sabemos, toda a produção ainda é oriunda de depósitos secundários. Os corpos mineralizados conhecidos ocorrem, assim como em todo o mundo, em regiões estáveis a pelo menos 1,5 bilhões de anos e, no Brasil, estão associados a lineamentos estruturais, embora não seja esta uma premissa em termos mundiais. Em nosso país, a proporção entre as pedras para uso em joalheria e as destinadas à indústria é muito variável segundo a origem, sendo o percentual de diamantes-gema na região da Serra do Espinhaço (MG) o mais alto do país, superior a 80 %, uma das maiores médias mundiais.
Quanto à gênese, a teoria mais aceita hoje em dia é a de que os diamantes encontrados nos depósitos secundários brasileiros derivaram de fontes primárias de idade pré-cambriana, em alguns casos originalmente localizadas a centenas de quilômetros da região onde hoje são encontrados os diamantes, que teriam sido transportados e distribuídos por eventos glaciais. A título de curiosidade, cabe mencionar que evidências sugerem que os diamantes de algumas ocorrências, como as da região de Franca (SP) e do rio Tibagi (PR), sejam oriundos, em parte, do continente africano, evidentemente formados antes da separação continental América do Sul / África.
Desde os anos 60, diversas empresas de mineração vêm atuando na prospecção sistemática por fontes primárias e secundárias de diamante em várias regiões do país que, descobertas e comprovadas viáveis, resultarão na renovação dos meios de produção, com os métodos empregados na atividade de garimpagem sendo gradativamente substituídos pelas operações mecanizadas de lavra e beneficiamento.

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