terça-feira, 18 de outubro de 2016

Caterpillar paga o preço de apostar na alta contínua das commodities

Caterpillar paga o preço de apostar na alta contínua das commodities

Doug Oberhelman passou seus primeiros anos como diretor-presidente da Caterpillar Inc. investindo bilhões de dólares em fábricas para produzir mais das conhecidas máquinas amarelas da empresa americana e direcioná-la ainda mais para o setor de equipamentos de mineração. Foi uma aposta ousada — feita espetacularmente na hora errada.
Ontem, Oberhelman anunciou que planeja deixar o cargo no fim do ano. O mundo atravessava um boom global de commodities quando ele assumiu a liderança, em 2010, junto com uma forte demanda pós-recessão dos mercados em desenvolvimento e do setor de petróleo. O mundo comprava escavadoras, retroescavadeiras e caminhões basculantes gigantes a um ritmo veloz.
 Oberhelman apostou que poderia conquistar uma fatia maior se produzisse mais equipamentos. Entre 2010 e 2013, ele investiu quase US$ 10 bilhões em fábricas e equipamentos ao redor do mundo. Grande parte dessa cifra se destinou a aumentar a produção das máquinas de construção CAT, as principais da empresa. Em 2011, a Caterpillar também comprou a fabricante americana de equipamentos de mineração Bucyrus International Inc. para ganhar presença no mercado de escavadeiras para minas a céu aberto e máquinas de mineração subterrânea, que a Caterpillar não produzia.
A Caterpillar iria partir para a ofensiva na China e conquistar mercado, proclamou Oberhelman em 2010. A empresa já havia perdido oportunidades na China antes. Entre 2011 e 2014, a Caterpillar quase dobrou seu número de fábricas e unidades no país, para 26.
“Todo mundo estava convencido de que daquela vez seria diferente”, diz Ken Banks, que se aposentou em 2013 do cargo de gerente de escavadeiras elétricas para mineração da Caterpillar. “Eles pensavam que o mercado chinês estava tão aquecido que os preços das commodities continuariam fortes e a Caterpillar elevaria as vendas substancialmente.”
O ano de 2012 seria o auge para a Caterpillar. Logo depois, as mineradoras começaram a cancelar planos de comprar equipamentos, uma vez que os preços das commodities recuavam. O crescimento da China desacelerou e, aí, os preços do petróleo caíram, junto com a demanda por equipamentos do setor.
Agora, a Caterpillar já está no seu quarto ano consecutivo de queda nas vendas, o mais longo declínio de sua história. A cotação de suas ações subiu 29% este ano — o melhor desempenho entre as ações da Média Industrial Dow Jones — mas é negociada 25% abaixo de seu pico de 2012.
“Todo mundo foi surpreendido pelo tamanho da crise e a extensão dela”, disse Oberhelman em setembro, numa feira de mineração em Las Vegas. “Eu acredito firmemente que nós não poderíamos ter previsto isso na ocasião” da compra da Bucyrus. A Caterpillar não quis disponibilizar Oberhelman para comentar para este artigo.
Ontem, a Caterpillar divulgou que Oberhelman, que tem 63 anos, será substituído por Jim Umpleby, veterano de 35 anos de empresa que atualmente é o diretor-superintendente responsável pelo grupo de energia e transporte. Oberhelman vai continuar presidindo o conselho de administração até o fim de março e, então, deixar a firma.
Crises são comuns no mundo da Caterpillar e suas rivais também estão sofrendo. A Caterpillar, porém, sempre foi uma empresa sólida, uma ação confiável e uma grande criadora de empregos em fábricas de todo o mundo. Agora, ela ficou para trás com a desaceleração da economia.
A Caterpillar cortou 20% de sua força de trabalho nos últimos quatro anos, ou cerca de 30 mil empregos, e afirmou que espera fechar ou agrupar até 20 unidades. Na China, ela fechou uma fábrica e está operando várias abaixo da capacidade. Em agosto, a Caterpillar informou que venderia algumas linhas de equipamentos de mineração adquiridas junto com a Bucyrus.
As ações da empresa subiram 46% desde o início da gestão de Oberhelman, bem atrás da alta de107% do índice S&P 500.
“Eles subestimaram a possibilidade de um colapso no mercado todo”, diz Charles Yengst, consultor americano da área equipamentos. “Eles abriram fábricas por todos os lados para operar num pico de mercado que não acontece todo ano ou mesmo a cada 10 ou 15 anos.”
A Caterpillar ainda é a maior vendedora de equipamentos para construção e mineração e continua ganhando participação de mercado, especialmente na China. A empresa registrou lucros anuais durante toda a gestão de Oberhelman.
Amy Campbell, porta-voz da Caterpillar, diz que a empresa espera encarar a próxima alta do mercado com uma operação fabril mais enxuta. “Estamos reduzindo nossa estrutura de custo”, diz ela. “A empresa aprendeu muitas lições sobre como elevar a capacidade” sem aumentar os gastos de capital.
Oberhelman, que entrou na Caterpillar em 1975 e foi diretor financeiro nos anos 90, assumiu o comando com a estratégia de ampliar o domínio da Caterpillar no mundo em desenvolvimento. Ele colocou a mira, particularmente, em mercados como o Brasil e a China, onde a mineração e a construção de infraestrutura estavam a todo vapor. Ao mesmo tempo, os altos preços do petróleo estavam dando impulso às vendas de equipamentos de exploração.
Determinado a evitar as restrições de capacidade que limitaram o crescimento de vendas da Caterpillar antes da recessão, o executivo elevou a produção nas fábricas existentes e construiu outras nos Estados Unidos.
As mineradoras estavam sinalizando que queriam comprar mais equipamentos de um fornecedor só. A Caterpillar já fabricava algumas máquinas de mineração, mas ainda precisava de outras, como as enormes escavadeiras usadas em minas a céu aberto. A aquisição da Bucyrus resolveu essa deficiência.
Em menos de seis meses no cargo, Oberhelman havia tornado a Caterpillar numa fabricante completa de equipamentos de mineração.
Na China, Oberhelman empreendeu uma campanha frenética de investimentos, comprando a SEM, uma fabricante local de equipamentos de construção, em 2008, e mais tarde a fornecedora de máquinas de mineração ERA Mining Machinery Ltd., por quase US$ 700 milhões, um negócio fechado em 2012. Meses depois, a Caterpillar afirmou que havia encontrado erros no lucro, receita e estoque divulgados pela ERA e acabou dando uma baixa contábil de US$ 580 milhões no valor da firma.
A estratégia de Oberhelman, porém, ainda parecia vencedora. A Caterpillar registrou lucro de US$ 5,68 bilhões em 2012, quase 60% maior que em 2008.
Depois do auge atingido em 2012, viria a reviravolta. Os preços das commodities começaram a cair, a economia da China perdeu força e as vendas de equipamentos caíram em todo mundo.
O mercado enfraqueceu em 2013, com os países em desenvolvimento reduzindo as obras e consumindo menos commodities. As vendas de máquinas e equipamentos da Caterpillar recuaram 16% no ano, ante 2012.
Em 2014, foi a vez dos preços do petróleo começarem a cair. As vendas da Caterpillar despencaram outros 15% em 2015 com a redução das atividades das petrolíferas. A Caterpillar continuou as demissões e, em setembro do ano passado, informou que faria cortes permanentes que superariam 10 mil empregos até 2018.Além disso, a empresa anunciou em agosto que vai vender algumas linhas de equipamentos de mineração subterrânea.
A Caterpillar prevê agora que vai faturar US$ 40 bilhões neste ano, incluindo vendas e a receita de sua divisão financeira, 39% menos que em 2012, e um lucro por ação 68% menor, depois das despesas de reestruturação. No primeiro semestre, a firma obteve uma receita total de US$ 19,8 bilhões, 21% menor que um ano atrás, e o lucro caiu 60%, para US$ 821 milhões.
Oberhelman certamente já não vai estar mais no leme quando a sorte da empresa virar. Ele recentemente alertou que a recuperação não deve começar neste ano. Mas não perdeu o otimismo. Na próxima alta do setor, “seremos um participante importante com um desempenho muito sólido”, disse ele na feira de Las Vegas.
Fonte: WSJ

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