Garimpo nas areias cariocas Gente que cata objetos perdidos nas praias tem ‘renda’ mensal de até R$ 3 mil
Fonte: O Dia
Rio – Tem muito carioca que acorda cedo para bater ponto na praia — e não é para pegar sol. São os garimpeiros urbanos, que da areia retiram ouro, prata e fortunas que já sustentam famílias inteiras. No lugar de barracas, carregam curiosos apetrechos que chegam a valer R$ 600 e passam as primeiras horas da manhã revolvendo a orla da Zona Sul.
Com a ajuda de uma rapina — cabo de aço com espécie de cesta na ponta —, máscara com snorkel ou até a olho nu, os ‘profissionais’ garimpam joias, relógios, óculos e moedas perdidos pelos banhistas na areia e na água. Os bens encontrados são vendidos para clientes fixos ou ourives. Leva quem oferecer mais dinheiro. Um cordão de ouro chega a valer R$ 2 mil e pode compensar o trabalho de um mês inteiro.
Garimpeiro mais antigo da cidade, Jorge Ribeiro Mariano, 62 anos, desenvolve há 39 o ofício. No currículo, trabalhou até em praias hoje vazias, como Ilha do Governador e Ramos, e já encontrou anel com 16 diamantes no valor de 1,6 mil dólares e cordão de ouro de R$ 2,6 mil. O anel, encontrado em Araruama, foi vendido para turista em Copa e o colar, arrendado por um ourives. O salário não é fixo (gira em torno de R$ 1 mil em meses fracos), mas os achados no mar sempre foram suficientes para sustentar os cinco filhos e a esposa — que nunca trabalhou.
Garimpeiro mais antigo da cidade, Jorge Ribeiro Mariano, 62 anos, desenvolve há 39 o ofício. No currículo, trabalhou até em praias hoje vazias, como Ilha do Governador e Ramos, e já encontrou anel com 16 diamantes no valor de 1,6 mil dólares e cordão de ouro de R$ 2,6 mil. O anel, encontrado em Araruama, foi vendido para turista em Copa e o colar, arrendado por um ourives. O salário não é fixo (gira em torno de R$ 1 mil em meses fracos), mas os achados no mar sempre foram suficientes para sustentar os cinco filhos e a esposa — que nunca trabalhou.
Segundo Jorge, mais conhecido como La Bamba, os dias mais rentáveis são os de ressaca, quando a força das ondas ‘revela’ as joias perdidas na areia. Mas, independentemente do teor dos ventos, La Bamba bate ponto todos os dias na orla e percorre do Recreio a Copacabana, passando pelo Flamengo e Urca. Ele calcula que haja 10 garimpeiros fixos na cidade, mas, em dias de ressaca, o número sobe para 70. Os clientes são mais ou menos 40, a maioria madames. “O mar é milionário, e o ouro não acaba. Óculos e relógios, vendo para bombeiros e outras pessoas, já moedas de outros países eu troco. Só evito pegar oferenda”, disse.
Durante cinco anos, Oswaldo Oliveira, 46, trabalhou como contador de imobiliária em Copacabana. Quando a empresa faliu, em 2007, bastou atravessar alguns quarteirões da Rua Santa Clara para chegar à sede do novo emprego: o mar de Copacabana. O garimpo, que antes se resumia a um hobby para ‘engordar’ o salário de R$ 6 mil, tornou-se o principal trabalho do ex-contador.
Hoje, a renda mensal do morador de São Gonçalo caiu — varia de R$ 1,5 mil a R$ 3 mil —, mas ele não se arrepende de ter trocado horários fixos e cobrança do chefe pela liberdade que o garimpo proporciona. “Aprendi com os veteranos e virei profissional. Fugi da imobiliária para catar ouro, que é prazeroso: procuro o que não perdi e ainda ganho dinheiro”, frisa.
Mudanças climáticas provocadas pelo aquecimento global, quem diria, são amigas dos garimpeiros. Oceanógrafo e chefe do Departamento de Análise Geoambiental da UFF, Julio César Wasserman explica que as joias encontradas não são trazidas pelo mar, mas desenterradas da areia com a força das ondas, mais fortes por causa das ressacas — que se tornaram mais frequentes. Para encontrar riquezas no fundo do mar, rapinas não seriam suficientes, e o garimpeiro precisaria de um detector de metais. “No verão, a faixa de areia é maior, porque há menos ressaca. Com o passar do tempo, as joias perdidas vão sendo ‘enterradas’ na praia. No inverno, porém, com mais ressacas, o ouro é descoberto, para alegria dos garimpeiros”, explica.
Lucro que sai do lixo e abastece bazar
Não é só da praia que saem objetos que podem dar lucro. Roupas, chapéus, partes de computadores e até um cachorro e uma tartaruga vivos já foram encontrados no lixo coletado pelas 12 mulheres da cooperativa CoopCarmos, de Mesquita. Há 11 anos, os achados vão para um bazar, às sextas-feiras. Com as vendas, a cooperativa fatura R$ 1 mil por mês, dinheiro que ajuda na manutenção do local, segundo a coordenadora Hada Silva. “Se não tivéssemos o bazar, nosso gasto seria maior. Devolvemos a tartaruga para a dona e o cachorro ficou conosco três anos, mas acabou morrendo”, contou.
Na abertura da Copa deste ano, o achado das catadoras da cooperativa CoopCarmo no lixo as acompanhou durante o torneio: uma bandeira do Brasil. O item ajudou na torcida e, com a desclassificação brasileira, ficou no rol de achados inusitados. “Achei um desrespeito jogarem o símbolo da Pátria no lixo, mas nós aproveitamos”, ralhou Hada.
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