Minas de ouro desativadas viram atração turística em Onça de Pitangui
Grupo de amigos organiza expedição a galerias construídas no século 20.
Durante percurso, visitantes têm contato com parte da história regional.
A ideia de criar a expedição partiu do pesquisador Vandeir Santos, que conhece muito do que há debaixo da terra na região. "Onça do Pitangui foi formada por bandeirantes e garimpeiros que buscavam ouro nessa região no início do século 18, praticamente ao mesmo tempo que ocorria o mesmo em Pitangui", contou.
O grupo seguiu até uma propriedade particular onde fica a entrada do local onde mineradores alemães extraíam ouro nas primeiras décadas do século 20. Hoje o terreno pertence ao arquiteto Rodrigo Vilaça, que abriu as porteiras para os visitantes e acompanhou os procedimentos.
Antes de entrar pelo pequeno buraco que dá acesso ao primeiro corredor subterrâneo, o grupo fez uma pausa para revisar os equipamentos de segurança. Vandeir Santos reforçou algumas dicas que já havia dado ao grupo, como usar calçados fechados, chapéu, blusa e calça compridas e, se possível, carrapaticida.
"Essas galerias sempre têm morcegos e aranhas. O Cláudio Faria, que também as frequenta há mais tempo, já viu uma cascavel em uma das minas de Onça. Aviso ao pessoal que todos devem ficar alertas aos predadores, evitar correr e não esbarrar nas paredes. Já os carrapatos costumam estar nas matas de acesso às fendas".
O risco de desabamento, diz o pesquisador, é muito pequeno. "Dentro não tem perigo. O terreno é bem estável. Existem canais escavados há séculos e que estão do mesmo jeito até hoje. Só se ocorresse um terremoto, o que é bem difícil no Brasil, é que correríamos algum perigo".
superiores (Foto: Vandeir Santos/Arquivo pessoal)
Quando já não havia mais o que percorrer nesse conjunto de corredores, o grupo seguiu de carro até outro ponto, localizado a um 1,3 quilômetro ao norte do Centro de Onça de Pitangui. No local, ficam as terras de José de Abreu, um morador de Pitangui que também autorizou a entrada do grupo, que seguiu o curso do Rêgo de Água Limpa, recentemente atingido por rejeitos de mineração.
Ao final, muitos visitantes que ainda não conheciam as galerias ficaram encantados. É o caso da auditora trabalhista Patrícia Ribeiro. "É entretenimento para quem gosta e uma oportunidade para quem ainda não conhece. Cresci brincando nos quintais em Onça de Pitangui, mas não sabia sobre essas minas", disse ela.
Segundo Vandeir Santos, existem outras galerias subterrâneas em Onça de Pitangui. Uma delas foi descoberta recentemente, durante uma obra. Essa teve a entrada obstruída por terra.
O fotógrafo Nicodemos Rosa é um explorador de galerias de primeira viagem. Ele conta que deixou o medo de lado e isso valeu a pena. "Ir às entranhas da terra não era algo que me atraía. Mas, quando já estava dentro dos túneis, me fiz um monte de perguntas. Como eram as disposições físicas e mentais das pessoas que trabalharam ali? Isso foi o que me atormentou durante todo o tempo", confidenciou.
primeira vez (Foto: Vandeir Santos/Arquivo pessoal)
No meio da equipe de visitantes havia um geólogo, profissional que estuda a formação das camadas do solo. William Campos trabalhou por muito tempo em uma mineradora na região. "Fui ao passeio porque tenho interesse em ver de perto as condições desses locais onde ocorria extração de ouro. Também quis comparecer para fornecer informações técnicas aos participantes durante o percurso", detalhou.
Para o especialista, o potencial de produção de ouro da região é grande. "A parte por onde andamos não tem ouro. Mas, abaixo dela existem rochas onde com certeza há. Já existem, inclusive, algumas empresas de olho nisso, pois alguns locais das galerias possuem marcações recentes, feitas com sprays, que indicam locais onde alguém esteve para analisar o solo. Essas estruturas também têm enorme potencial turístico, como o que é trabalhado em cidades como Ouro Preto e Diamantina", explicou.
O potencial turístico das galerias é a bandeira defendida por Vandeir Santos, que guiou o grupo nessa expedição e já planeja a próxima. "O importante é estarmos sempre alertas e procurando buscar a preservação dos valores históricos", finalizou.
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