John Malone, o megainvestidor americano que supera Warren Buffett
Poucas pessoas geraram mais ganhos aos investidores ao longo dos últimos 30 anos do que John Malone. Ele transformou um pequeno grupo de sistemas de TV a cabo, originalmente formado nos anos 70, na Tele-Communications Inc. e, em 1999, vendeu a empresa para a operadora americana de telefonia AT&T por US$ 48 bilhões.
Com um punhado de antigos ativos da TCI, o bilionário americano, por meio de frequentes manobras financeiras, acabou construindo um outro império de mídia e cabo, a Liberty Media. Ao lado de Greg Maffei, diretor-presidente da Liberty desde 2005, ele continua esse trabalho.
Os investidores vêm sendo bem recompensados ao longo dessa trajetória. Nos últimos dez anos, o retorno dos investimentos de Malone superou o da Berkshire Hathaway, de Warren Buffett. Um detentor de ações da Liberty Media original em 2004, antes de seus ativos serem divididos entre as operações nos EUA e outros países, teria tido ganhos anualizados de 13% em comparação com 7,5% da Berkshire e 7,7% do índice Standard & Poor’s 500, segundo Christopher Marangi, diretor de investimentos da firma americanaGamco Investors.
E, apesar desses polpudos retornos, ainda há espaço para mais crescimento.
As empresas e ativos da Liberty estão distribuídos entre cinco principais guarda-chuvas corporativos: Liberty Media, Liberty Broadband, Liberty TripAdvisor Holdings, Liberty Interactive e Liberty Global. Dentro desse grupo estão nove ações, incluindo sete “tracking stocks”, ações cujo dividendo segue o desempenho de uma certa subsidiária. A complexa estrutura pode barrar alguns investidores, mas os que dedicaram tempo para entendê-la a consideram atrativa.
“A fórmula mágica de Malone começa com boas empresas que estão no centro da sua principal área de atuação, aí, ele instala o time de gestores certo para melhorar o desempenho dessas companhias de forma apropriada”, diz Marangi. Os fundos de Mario Gabelli, fundador da Gamco, possuem uma carteira com empresas da Liberty. “Uma das nossas regras de ouro para investir em mídia e TV a cabo é estar do mesmo lado da mesa que John Malone e de aliar os nossos interesses aos dele”, diz.
Aos 75 anos, Malone continua sendo o motor de propulsão da Liberty — e continua famoso por sua aversão a pagar impostos. A Liberty é conhecida por transferir ativos por meio de transações que minimizam a carga tributária, incluindo desmembramentos, “tracking stocks” e outras manobras financeiras.
“Nenhum outro executivo nos Estados Unidos domina os meandros do código tributário com a mesma profundidade que Malone”, diz o especialista em impostos Robert Willens. “Ficamos constantemente pasmos com as estruturas que ele e seus assessores elaboram para reorganizar suas amplas holdings, sempre sem consequências tributárias, da forma mais vantajosa.”
Em uma recente entrevista exclusiva, Greg Maffei, diretor-presidente dos negócios da Liberty nos EUA por mais de dez anos, disse que a missão do grupo é simples: “Estamos tentando criar valor para os nossos acionistas”.
Maffei, de 56 anos, e Malone veem o mundo de forma parecida e operam um pouco como Buffett e seu sócio de longa data na Berkshire, Charlie Munger. As duas duplas se concentram em estratégia, aquisições e alocação de capital, deixando a gestão do dia a dia das várias empresas do conglomerado com outras pessoas. “Nós nos beneficiamos da nossa habilidade de sermos acionistas de longo prazo e com frequência controladores, além da nossa experiência e conhecimento do setor”, disse Maffei.
Mas, ao contrário de Buffett, que já disse que o tempo de um investimento da Berkshire é “para sempre”, Malone e Maffei estão dispostos a vender um ativo caso o preço oferecido seja o que consideram correto. Eles orquestraram a venda da operadora de TV por satélite DirecTV, da qual a Liberty era controladora, para a AT&T em 2015, em um momento oportuno. Ao longo do tempo, a Liberty fez um trabalho extraordinário na alocação de capital, priorizando a recompra de ações em vez de dividendos. Isso reflete em parte a aversão de Malone aos impostos. O empresário, arredio à imprensa, não estava disponível para uma entrevista.
O império de Malone na Liberty compreende empresas com um valor de mercado conjunto de US$ 80 bilhões. Sua participação pessoal nelas está avaliada em torno de US$ 4 bilhões. Malone é o presidente do conselho de quatro das cinco empresas da Liberty. A Liberty TripAdvisor, de viagens, é a exceção. Ele detém controle efetivo sobre as empresas por meio de poucas ações que dão um “superdireito” de voto (ações de classe B), apesar de sua participação geralmente se manter entre 3% e 9%. A estrutura de controle de Malone pode não ser um grande exemplo de governança corporativa — ações com “superdireito” de voto tiram esse direito dos acionistas não controladores — mas poucos investidores se queixam. Acordos semelhantes estão em vigor em várias empresas de mídia de controle familiar, como a CBS, Viacom, New York Times e a News Corp, holding que controla o The Wall Street Journal e Barron’s.
A razão de muitas das maquinações financeiras é evitar impostos sobre ativos que possuem há muito tempo e cujo valor disparou, admite Maffei.
As apostas da Liberty geralmente acabaram se mostrando um bom investimento. Durante a crise financeira de 2008-2009, ela ficou com 40% da empresa de rádio via satélite Sirius XM Holdings, hoje avaliada em US$ 13 bilhões, em troca de um empréstimo de US$ 530 milhões. E a Liberty comprou 27% da empresa de comunicaçòes Charter de um grupo de investidores institucionais em 2013, sendo que, desde então, o valor da sua participação quase triplicou.
Entre outras empresas que se destacam do conglomerado, está a Liberty Global, que tem operações de TV a cabo na Europa Ocidental. Cerca de 37% de seu faturamento vem da Grã Bretanha, e o resto se divide entre Alemanha, Holanda e Bélgica. Há também a Liberty Media, que fechou recentemente a compra da Fórmula 1 por US$ 8 bilhões, algo bem recebido por Wall Street. A transação teve todas as características de Malone: complicada, alavancada e com benefícios como baixa carga de impostos e pouca exigência de capital. Maffei a considera “um grande negócio”, com o qual podem explorar oportunidades como patrocínio e direitos de transmissão. A compra, porém, foi cara e os lucros da Fórmula 1 não mudaram muito nos últimos anos.
Andew Bary é colunista do semanário Barron’s.
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