A rota das esmeraldas
Jazidas descobertas em Itabira e Nova Era provocam corrida ao garimpo e invasão de grandes empresas
No Brasil do século XVII, quem desejasse riqueza subia o Rio das Velhas, mergulhando na mata fechada à procura de gemas preciosas. Foi o caminho do bandeirante Fernão Dias, em 1674. Mais de 300 anos depois, Minas Gerais volta à rota dos caçadores de pedras. O novo foco da cobiça concentra-se em uma área de cerca de 20 quilômetros quadrados, entre os municípios de Itabira e Nova Era, a 160 quilômetros de Belo Horizonte. Lá, encravadas na rocha, escondem-se esmeraldas. Apreciadas pela cor e transparência, podem valer mais que diamantes – 1 grama chega a ser negociado no Exterior por até US$ 10 mil.
Empresas nacionais e estrangeiras disputam a exploração. À frente da corrida está uma canadense, a Seahawk Minerals, representada no Brasil pela Piteiras Mineração. Dona de quase 10 mil hectares na região, há três meses anunciou a descoberta da maior jazida de esmeraldas no país, com 740 mil toneladas. Planeja começar a produção em 2002, com investimento de US$ 5 milhões, para processar inicialmente 30 mil pedras por ano. A reserva ultrapassa a de Santa Terezinha de Goiás, a 300 quilômetros de Goiânia, até agora considerada a maior mina nacional. O Brasil está entre os quatro maiores produtores mundiais.
Também estão seguindo a trilha do tesouro mineiro americanos ligados ao ramo de joalheria. Formaram no ano passado a Brazilian Emerald Inc. do Brasil (Beibra), com o propósito específico de participar da corrida da mineração no país.
Os estrangeiros deixam preocupados os concorrentes nacionais. “A chegada deles está transformando isso aqui em um queijo suíço”, reclama Luiz Carlos Terto, engenheiro da mineira Belmont. Segundo Terto, dois lugares no mundo hoje monopolizam a atenção dos desbravadores do século XXI: Austrália e Minas Gerais.
A Belmont não pretende ficar atrás dos canadenses e dos americanos. Garante que já tem identificadas áreas com minério com grandes teores de águas-marinhas e esmeraldas. A empresa vem investindo US$ 600 mil por ano em pesquisa. Tem 2 mil hectares e uma mina a céu aberto, atualmente com as atividades suspensas e onde foi encontrada a primeira esmeralda da região de Itabira.
Em 1979, diz a lenda contemporânea das esmeraldas brasileiras, Mauro Ribeiro Lage era caminhoneiro. Prestava serviços para a Companhia Vale do Rio Doce e mantinha uma fazenda modesta a 15 quilômetros da cidade. Nas águas da represa que banhava suas terras foram achados por acaso pedaços de minério com esmeraldas. Mauro procurou o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) e obteve o decreto de lavra dois anos depois, fundando a Belmont. Atualmente a empresa tem 95 funcionários e é administrada pelos seis filhos do caminhoneiro. Ele morreu há quatro meses, aos 71 anos, antes de ver sua região ser alçada à condição de capital nacional das pedras verdes.
A Belmont paga entre R$ 300 e R$ 400 a seus empregados. Edimilson Ferreira da Silva, de 29 anos, precisou apurar a visão para ganhar a vaga de catador de pedras. Hoje é capaz de apontar de longe uma esmeralda. Foram mais de dois anos de treino para saber identificar a pedra no meio de pedaços de rocha sem valor. “Às vezes o companheiro da frente acha uma esmeralda. Fico apreensivo, porque quer dizer que a pedra passou por mim e eu não vi”, conta Edimilson, que todo ano faz um exame de vista obrigatório. Trabalha com uniforme sem bolsos, cuidado tomado pela empresa para evitar furtos
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