quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

A SELVA MINERAL

A Selva Mineral

A série da revista Manchete de 1983, aqui abordaremos a questão da exploração mineral na Amazônia. Reconheço que não dou conta do assunto, que não passa da superficialidade, principalmente pelo papel econômico que ele representa para o país. Mas, não dá prá discutir questões como desenvolvimento na Amazônia, conservação ambiental, código florestal, sem falar nisso. Quem sabe aparecem aí uns engenheiros e economistas entendidos no assunto prá nos ensinar um pouco? 
“Pensava-se que a Amazônia era apenas uma imensa floresta, mas esta visão é literalmente superficial: suas maiores riquezas estão no subsolo”
“A maior vocação da Amazônia é a exploração das inimagináveis riquezas minerais. É a atividade menos predatória e mais rentável”. O autor da frase, o geólogo José Belfort dos Santos Bastos, então diretor do 8º Distrito do Departamento Nacional de Produção Mineral, estava convencido de que o futuro da Amazônia estava na mineração.
É possível que esteja convencido disso até hoje. Carajás, por exemplo, é hoje uma das maiores áreas de exploração de minérios do mundo.
Em 1983, Carajás estava só começando. A previsão da primeira exportação era para o ano seguinte, 1984. Estrategicamente pensado, o projeto Carajás incluía sua própria estrada de ferro, que liga o sudoeste do Pará ao litoral do Maranhão, e até hoje transporta minério e pessoas.
Os principais descritores de busca que trazem pessoas a este blog estão relacionados a garimpos. Os posts Garimpo Bom Futuro, Garimpos de Cassiterita e Campo Novo de Rondônia são, de longe, os mais visitados.
Diamante, nióbio, manganês, minério de ferro, cassiterita, ouro, bauxita, cobre. Esta é uma atividade econômica que dá muito dinheiro, tanto a grandes empresas quanto a pequenos garimpeiros.
“O patrimônio total, escondido sob as árvores, sob o solo e sob as águas dos rios, ainda é desconheido.  Apesar disso, podemos afirmar, com base nos trabalhos já realizados, que a região é uma das maiores províncias metalíferas do mundo”
Serra pelada, no auge na década de 80, com 25 mil homens cavando o chão, era uma vedete apenas, perto dos 300 mil homens que estimava-se haver na Amazônia, garimpando ouro. Em 1983, Itaituba e Jacareacanga, no Pará, eram referência para a exploração de ouro, e o são até hoje.
O avião era peça fundamental para acessar esses garimpos. Um dos pilotos disse à reportagem:
“Lei para o Rio e São Paulo não pode funcionar aqui. E o burocrata que conhece a Amazônia pelo mapa só atrapalha. Veja o caso dos que requerem prospecção pelo mapa e vêm prejudicar os que estão aqui, convivendo com a malária e tirando ouro do chão há muitos anos. A lei do sul é que detém o progresso da Amazônia.”
Na Amazônia convivem garimpos manuais e exploração mineral de ponta, feita pelas maiores empresas do mundo, como a Vale.
“Apesar das clareiras, a mineração é das atividades menos predatórias das que se podem realizar na região. E as riquezas vão se transformando em divisas.”
O mundo moderno não pode prescindir desses metais, e de 1983 para cá tanto a tecnologia de exploração como a preocupação com o meio ambiente cresceram enormemente, mas cresceram também os conhecimentos sobre biodiversidade, necessidade de preservação de ecossistemas e espécies. Eu gostaria de ouvir um bom debate sobre a mineração ser uma das atividades menos predatórias, à luz dos conhecimentos que se tem hoje.
Lendo sobre esse assunto, entretanto, uma coisa me volta à mente: o governo brasileiro continua ignorando a importância de se investir pesado em novas pesquisas científicas – e considerar os resultados delas, obviamente. Uma simples incursão pela história da Vale nos mostra que a reserva de minério de ferro de Carajás foi descoberta pela empresa norte-americana United States Steel; engenheiros ingleses descobriram as reservas de minério de ferro de Itabira; por que diabos até hoje investe-se tanto nas coisas descobertas no passado, quase sempre por pesquisadores estrangeiros, e tão pouco em pesquisa brasileira de ponta para se descobrir novas possibilidades de uso da floresta em pé?
Termino ilustrando o que disse acima com uma citação de Marina Silva, no livro Marina: a vida por uma causa (pag. 178), sobre um besouro brasileiro que vem fazendo sucesso nos Estados Unidos:
“Pesquisadores da Universidade de Utah acreditam ter encontrado o cristal fotônico ideal na carapaça do besouro Lamprocyphus augustus. Esse cristal é essencial para a construção de circitos eletrônicos que manipulem dados por meio de luz (fótons), em vez de cargas elétricas (elétrons). (…). Não duvido que, apenas com a tecnologia decorrente das pesquisas com esse único besouro, os americanos produzam mais riqueza do que todo o valor anual da exploração ilegal de madeira, da soja e do gado na Amazônia.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário