Ações da Vale surfam na alta de preço do minério de ferro
Iniciar o ano acumulando um ganho de mais de 30% parece quase impossível. Mas foi isso que ocorreu com quem começou 2017 com ações da Vale na carteira de investimentos. O primeiro mês do ano nem acabou e esses papéis já subiram mais de 30%. Os analistas até acreditam em mais ganhos ainda a curto prazo, embora de menor intensidade, porém alertam que iniciar agora os investimentos nesses papéis embute um sério risco: uma reversão na tendência de alta do minério de ferro, principal motivo para a valorização da mineradora.
Até a última sexta-feira, as ações preferenciais da Vale tinham subido 37,5% no ano, cotadas a R$ 32,10. Isso significa que quem tinha R$ 1.000 nesse tipo de papel da mineradora no fim do ano passado já tem agora R$ 1.370 — lembrando que, ao fazer o resgate, há o recolhimento de impostos sobre os ganhos. Os estrangeiros que aplicaram nos recibos de ações na Bolsa de Nova York (ADRs, na sigla em inglês) também registram rendimentos expressivos em 2017, de 40%. Analista do setor de mineração do banco Santander, Bruno Giardino explica que a disparada de preço das ações da Vale é justificada, principalmente, pela recuperação dos preços do minério de ferro no exterior. A cotação da commodity saiu da casa de menos de US$ 40 no início do ano passado para mais de US$ 80.
— O preço do minério de ferro não para de subir, e a Vale vai junto. Há outros fatores que ajudam, como uma gestão financeira mais disciplinada da empresa, que está reduzindo seu endividamento, mas a alta do minério de ferro é o principal fator — explica.
O minério de ferro começou a subir com a sinalização de que a desaceleração na economia chinesa não seria tão brusca quanto os analistas temiam. A expansão do Produto Interno Bruto (PIB) chinês foi de 6,7% no ano passado, pouco abaixo dos 6,9% de 2015. Além disso, o governo chinês sinalizou estímulos para a economia, que passam pela manutenção dos investimentos em infraestrutura, o que aumenta a demanda por aço — que é produzido a partir do minério de ferro e do carvão.
REDUÇÃO DA DÍVIDA
A interpretação é que na China há um excesso de oferta desses itens, mas, ainda assim, manteve-se a perspectiva de alta nos preços do aço, o que puxou junto os materiais básicos. No entanto, ninguém sabe ao certo até quando irá durar essa tendência, e é aí que está o risco do investimento nas ações da Vale.
— Em algum momento, haverá a reversão do preço do minério de ferro, e essa é a nossa principal preocupação. Ninguém sabe quando isso vai acontecer. Mas, enquanto não tem essa queda, o papel da Vale vai continuar indo bem — lembra Giardino, que por enquanto recomenda a manutenção do investimento no papel.
Os analistas do Citigroup concordam que a valorização do minério de ferro é causada por uma forte demanda por parte da China. Mas, enquanto a projeção para o preço da tonelada do minério foi revisada para cima para os primeiros trimestres de 2017, para o fim do ano é esperada uma queda. O valor estimado para a tonelada da commodity é de US$ 77 no primeiro trimestre, ante US$ 60 da projeção anterior. Para o período de outubro a dezembro, no entanto, a estimativa cai para US$ 53, e o preço médio para 2018 é de US$ 48.
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Apesar de esperar uma queda no preço do minério, o Citi recomenda a compra das ações da Vale, em especial por causa da gestão da empresa. Mas reconhece que há um risco nessa estratégia. “A demanda por metais continua muito dependente da China. Qualquer redução no consumo de metais por parte da China poderia estimular uma pressão de baixa nos preços e nos fluxos de caixa para a Vale”, explicaram Alexander Hacking e Thiago Ojea.
Quando se fala em gestão da Vale, o que os analistas mais destacam é o esforço que a empresa tem feito nos últimos trimestres para reduzir sua dívida líquida. Para isso, tem vendido ativos, concentrando sua operação no negócio de minério de ferro. Mas a alta dos preços do minério de ferro contribui para que a empresa não precise acelerar o seu plano de desinvestimento — e, por isso, poderá vender seus ativos a preços mais atraentes.
Ao fim do terceiro trimestre, a dívida líquida (dívida bruta menos a geração de caixa) da empresa estava em torno de US$ 26 bilhões. O objetivo é que fique entre US$ 15 bilhões e US$ 17 bilhões até o fim de 2017. Mesmo que o minério de ferro caia para o patamar de US$ 60, essa meta será atingida sem a necessidade de venda de ativos.
Na avaliação de Pablo Spyer, diretor da Mirae Asset, outro fator que ajuda o cenário de alta para o minério de ferro é a economia americana. Com a posse de Donald Trump, economistas estão esperando uma aceleração dos investimentos em infraestrutura.
— Os Estados Unidos estão querendo investir muito em infraestrutura, e o apetite da China por investimentos também não arrefeceu como se esperava. Há um cenário menos negativo para a economia global, e isso favorece as commodities de uma forma geral — afirma.
IMPACTOS DA SAMARCO
Outros fatores tendem a influenciar o comportamento das ações da Vale. Um deles é o desdobramento que pode ter a catástrofe ambiental da Samarco, de junho de 2015, em Mariana (MG). A empresa é uma joint venture entre Vale e BHP Billiton.
A mineradora brasileira já fez um ajuste contábil em seu balanço relacionado ao prejuízo dessa parceria, mesmo que não esteja descartada a volta da operação da Samarco. O problema é que ainda não há um termo final de responsabilidades e indenizações, que devem resultar dos estudos dos impactos ambientais da catástrofe.
Os analistas ainda lembram que a Vale precisa renovar o seu acordo de acionistas, que vence em abril, mas que isso deve ser equacionado. Os controladores da mineradora são a Litel Participações, Bradespar, a japonesa Mitsui e o BNDES.
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