sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Em Ascensão e Queda do Império X, Sergio Leo narra história do empresário que perdeu bilhões

Em Ascensão e Queda do Império X, Sergio Leo narra história do empresário que perdeu bilhões
A história do empresário brasileiro Eike Batista, que, após ser considerado o sétimo homem mais rico do mundo, perdeu bilhões de dólares e causou prejuízo a dezenas de investidores, é narrada no mais recente livro do jornalista Sergio Leo.
Ascensão e Queda do Império X, da editora Nova Fronteira, já teve lançamentos no Rio de Janeiro e em Brasília. Em entrevista ao R7, o autor contou detalhes sobre a vida do "excêntrico" ex-bilionário.
Ilustrações retratam manias e superstições de Eike
Confira a entrevista completa abaixo.
R7 — Este livro é uma biografia?
Sergio Leo — Certamente não é uma biografia. Ele menciona episódios da biografia do Eike Batista porque a biografa do Eike se confunde muitas vezes com a história das suas empresas. É um livro que tenta contar essa história empresarial não só para quem se interessa por negócio, mas [para] quem tenta entender a economia brasileira, para saber como funcionam essas engrenagens.
O meu principal objetivo mesmo é entreter com histórias interessantes. Ele (Eike Batista) se meteu em uma quantidade de empreendimentos, do minério ao petróleo, ao estaleiro, ao cosmético. Até empresa de Correio, feito o Sedex, ele tentou fazer, mas foi um fiasco.
Como você chegou até as “histórias exóticas de um excêntrico bilionário”?
Essas histórias são bastante conhecidas, o próprio Eike se encarregava de espalhar. Fazia parte um pouco do marketing pessoal do Eike, como um milionário excêntrico. Ele de fato é um cara meio místico, tem umas manias e isso acaba afetando, às vezes, a maneira de fazer negócio. Ele virou as chamas do sol, que era o símbolo da empresa (EBX), porque uma mística disse para ele que os negócios estavam andando para trás porque o sol estava virado para o lado errado.
Você não consegue entender o que aconteceu com as empresas X só apelando para o lado racional. A gente costuma imaginar que um cara bem sucedido é um cara que pesa, mede cada passo, investimento. Às vezes o cara é guiado por algum intuição, alguma mania, uma superstição. O Eike é uma espécie de empresário “funk ostentação”. Essa ideia de mostrar, de exibir riqueza, é exatamente o que o Eike faz numa escala bilionária.
No livro, você diz que o governo gostava dele, mas os empresários não simpatizavam. Por quê?
Sempre teve gente do mercado que desconfiou, pensou que não ia dar certo. Mas a verdade é que o Eike apareceu para todo mundo como um empresário convincente. (...) Qual o cenário do mundo que você tinha? A Europa e os Estados Unidos entrando em rescessão com a crise econômica, os fundos de investimento, aplicações cheias de dinheiro, que não perderam tanto, precisando achar um lugar onde colocar dinheiro, e aparecia o Brasil como um país Bric (grupo de países emergentes formado por Brasil, Rússia, Índia e China), como um lugar para estar naquele momento.
O governo também precisava de um empresário disposto a se mostrar, disposto a investir do zero. Eike representava o tipo de empresário que dava a imagem que o governo precisava, para mostrar que um governo de esquerda pode ter seu capitalista. O mercado financeiro abraçou o Eike. Ele mostrava que o mercado de ações dava muito dinheiro e oferecia oportunidades maravilhosas para quem resolvesse comprar. O fracasso foi compartilhado por muita gente do setor privado e público.
Quando ele começou a fracassar?
Uma das razões para o fracasso das empresas é que ele apostou alto demais. Ele comprou por um preço muito alto as reserva de petróleo e apostou num grau de produção que era o mais otimista que havia. Superdimensionou as plataformas, as encomendas. Ele gritava com os executivos, dizia que eles tinham calças curtas, que não serviam para trabalhar com ele, que gostavam de puxadinho. [Eike dizia que] não fazia puxadinho, fazia logo uma coisa para durar. Foi a perda da credibilidade dele que anunciou o começo do fracasso. É quando a OGX anuncia que as reservas, que eram gigantescas, na verdade não eram nem viáveis.
Qual imagem o povo brasileiro tem dele?
Você vai ter de tudo. No lançamento do livro, eu encontrei gente que ainda acha que o Eike vai se levantar, e gente que o xingava, dizia que era uma farsa. Eike é uma figura interessantíssima porque ele conseguiu cativar amigos e inimigos fiéis.
Você acha que ele conseguirá sair desta situação?
Isso é um grande mistério. Ele já mostrou outras vezes que foi capaz de cair e se levantar e fingir que nada tinha acontecido, mas nunca ele tinha levado um tombo tão grande. Nesse caso agora, ele cravou os holofotes, levou um tombo na frente de todo mundo em cadeia nacional. A credibilidade dele ficou muito abalada. (...) O crescimento dele foi muito baseado no talento que era o de despertar confiança. Subitamente ele virou o maior visionário do Brasil e as pessoas resolveram pagar caro pelas ações que ele vendeu na bolsa.
A exposição dele exagerada contribuiu para essa queda?
Talvez [a exposição o] tenha distraído de coisas realmente práticas que ele deveria estar trabalhando, na própria gestão das empresas. Não sei se [seu estilo] é por causa da visibilidade, ou se a visibilidade é por causa do estilo de gerência, que não é compatível com os negócios. Acho que a celebridade fez mais mal ao próprio Eike e aos filhos do que às empresas.
O casamento com Luma de Oliveira ajudou ou prejudicou?
Procurei sair do aspecto mais íntimo e falar da intimidade quando tivesse ligado ao negócio. No casa da Luma, ele mesmo dizia que era mais conhecido como marido da Luma do que como empresário. É uma faceta importante da vida empresarial dele. Evidente que uma mulher celebre, charmosa, como era Luma de Oliveira, ajudava nos negócios, abria as portas, facilitava o reconhecimento, ajudava no marketing pessoal dele.
Você acredita que o Eike era puro marketing?
Ele não era puro marketing porque, de fato, criou empreendimentos, mobilizou capitais, começou negócios onde não havia nada. Tinha de fato um lado concreto além do marketing.
De que forma ele foi ajudado nos negócios por seu pai (Eliezer Batista foi ministro de Minas e Energia do governo João Goulart, em 1962 e 1963, e também presidente da Companhia Vale do Rio Doce)?
Foi o pai dele que ajudou, no começo da carreira, a colocá-lo no lugar certo, com as pessoas que podiam ajudar a fazer negócios. O pai dele nos bastidores buscava aliados ou investidores para ajudar o filho. A própria relação com a [presidente] Dilma foi facilitada porque a Dilma era uma profunda admiradora do Eliezer Batista. (...) Agora ele [Eike] tinha luz própria. Em alguns momentos, conseguiu sim superar e ir além do que o pai queria.
E a história de que Eike teria recebido do pai um mapa com a localização das riquezas naturais do Brasil? É verdade ou mentira?
Eu não descarto nada, mas eu ficaria muito surpreso.  A maioria das pessoas com quem eu falei, gente que conhece profundamente a carreira do Eike, me garante que não é isso. Até porque, se você olhar, as minas mais produtivas que ele teve nos melhores negócios eram conhecidas. A grande diferença do Eike é que ele foi capaz de mobilizar capital e ajuda do governo para explorar essas minas. Esse é o tipo de mito que o próprio Eike ajudava a espalhar, porque, quando ele foi para a OGX, uma coisa que ajudou a vender as ações da empresa foi o número de grandes funcionários da Petrobras que ele levou para lá. Parecia que ele tinha nas mãos algo que ninguém sabia.
Os minoritários da OGX, que perderam muito dinheiro quando as ações passaram a valer centavos, afirmam que não houve fiscalização dos órgãos competentes.
Fiscalização houve, mas foi incipiente. Quando você vê dez acionistas perderem muito com a empresa é natural. Mas é muito grande a quantidade de gente que estava na OGX e que, de uma hora para outra, foi informada que as informações das empresas não valiam nada.
Os acionistas minoritários foram enganados?
Você tem uma mistura de tudo. Tem gente que sabia que aquilo ia estourar e não foi ágil para sair a tempo. Tem gente que merecia ser enganado porque não se informou direito. E tem quem achava que estava sendo bem informado, porque confiou na fiscalização e nas informações prestadas pela empresa. O cara confiava no sistema e o sistema tinha umas malandragens que ele não contou.
O que faltou ao Eike para que ele evitasse essa decadência?
Nenhum grande desastre tem uma causa só. Isso vale para fenômenos meteorológicos, implosão de prédio e vale para implosão de carreiras. [A explicação passa por] falta de profissionalismo na gestão, mudança de ânimo dos investidores estrangeiros em relação ao Brasil e alguns azares que eu conto no livro.
Quanto Eike ainda tem de dinheiro?
Só ele pode saber. Muitas das empresas dele são fechadas, os números são desconhecidos. Não se sabe quais que foram entregues em garantias ao fundo árabe Mubadala, o maior credor dele privado, e tem os processos na Justiça.
Quais as lições que ficam sobre a queda do império X?
Eu acho que ficam varias lições. Uma é o seguinte: tanto os investidores quanto a imprensa econômica devem cobrar uma transparência maior do mercado de valores, da bolsa, da CVM e dos órgãos regulatórios e fiscalizadores.
A gente tem que ter mais atenção e cuidado com essas celebridades, essas pessoas que convencem, porque já convenceram alguém antes e não porque a gente sabe alguma coisa sobre elas. Eu acho que essa história é meio exemplar, vai além do mundo das finanças.

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