Eike Batista construiu um império ‘X’ que ruiu
Sem a banca de rei Midas que manteve pelo menos durante os 10 anos em que alimentou a vaidade de poderosos e a sede de ganho de investidores, o ex-bilionário Eike Batista, hoje recluso em uma cela do complexo de Bangu, no Rio de Janeiro, retrata a imagem da ruína de um vendedor de sonhos no mercado financeiro. Uma semana depois de deflagrada a Operação Eficiência pela Polícia Federal e Ministério Público Federal, que levou à prisão do dono do ex-império X, prejuízos financeiros de quem acreditou nos projetos de Eike ainda são contados.
No jargão do mercado financeiro, viraram pó as ações de 14 empresas constituídas no guarda-chuva da então EBX (iniciais do nome do fundador acrescidas do sinal da multiplicação), com mais de R$ 50 bilhões captados. Eike errou ao vender expectativas de fartas retiradas a acionistas e não entregar os bons resultados prometidos em relatórios de suas companhias, dos setores de mineração à tecnologia e petróleo. A ascensão veio num ciclo positivo da economia brasileira, a despeito da crise mundial de 2008.
No fim de 2013, a ruína estava na cara dos investidores. Não havia a terra prometida em reservas de óleo anunciadas por Eike e nem o retorno esperado de reservas de minério de ferro em Minas.
•O HOMEM QUE CALCULAVA Com seu primeiro bilhão conquistado, Eike construiu seu império no início de 2000 com o grupo EBX, nome que combina as suas iniciais e o sinal da multiplicação. Eram 14 empresas, com desdobramentos em mais de 30 companhias, dos setores de mineração a petróleo e tecnologia.
•HENRY FORD TUPINIQUIM Espelhado no criador da produção automobilística em série, Eike lançou em 1993 o jipe Montez na JPX, em Pouso Alegre (MG), como versão nacional do utilitário francês de sucesso. Até o naufrágio da fábrica, em 2001, foram perdidos US$ 22 milhões investidos e 350 empregos US$ 1 trilhão Foi a estimativa anunciada pela OGX do patrimônio que a empresa detinha de petróleo em águas rasas só na bacia de Campos, no Rio de Janeiro
• APOIO OFICIAL Eike fez da ex-presidente Dilma Rousseff uma espécie de avalista aos olhos dos investidores e levou ex-ministros para trabalhar como conselheiros independentes de suas empresas. Assim, passou a impressão de credibilidade e de que teria apoio e acesso facilitado a capital para investir.
• MEGARRESERVASMINEIRAS As investidas em Minas anunciaram investimentos de bilhões de reais na mineração de ferro, por meio da MMX e do chamado Sistema Minas-Rio, envolvendo superjazida na Serra do Espinhaço, mineroduto cortando Minas e o Rio e o Porto Sudeste, projetos de extração complexa e cara. “O Eike é o nosso padrão, nossa expectativa e orgulho do Brasil quando se trata de um empresário do setor privado”
• Ex-presidente Dilma Rousseff, em abril de 2012, na inauguração dos trabalhos da OGX R$ 0,15 Era o que valiam as ações da OGX no fim de novembro de 2013, quando a empresa pediu recuperação judicial. Nos bons tempos, os papéis chegaram a valer R$ 23
• FIM DO SONHO Em outubro de 2013, foram requeridas as recuperações judiciais da petroleira OGX e da construtora naval OSX. Sem a confiança dos investidores, em razão de comunicados aquém dos planos prometidos, as empresas X perderam mais de R$ 30 bilhões em valor de mercado
• CORRIDA aos TRIBUNAIS Seguiram-se dezenas de ações judiciais de acionistas contra Eike. O valor de mercado da OGX despencou de US$ 22 bilhões para US$ 1 bilhão à época e os prejuízos dos pequenos investidores ficaram difíceis de calcular.
• CONTO Do vigário Com poder de persuasão, Eike vende, em 2008, à Anglo American, o Sistema Minas-Rio, uma das maiores minas de minério de ferro do mundo, e de complexa extração.
• PROMESSA DESCUMPRIDA Em novembro de 2016, foi a vez dos pedidos de recuperação judicial da MMX Mineração e Metálicos e sua subsidiária MMX Corumbá. Criada em 2005, a MMX acumulou dívidas de R$ 500 milhões e não cumpriu as promessas de manter emprego e gerar renda na Grande BH
• SEM REPASSE E ACIONISTA Preso no Complexo de Bangu (RJ), a derrota do ex-bilionário deixa outras duas marcas de sua gestão desastrosa em Minas. Ele abandonou o investimento partilhado com o governo estadual há cerca de quatro anos para a construção da primeira fábrica de semicondutores da América Latina em Ribeirão das Neves e o patrocínio do Museu das Minas e do Metal.
Eike Batista: “Se você consegue fazer o grande, pra que é que vai fazer pequeno? Se eu consigo capital para fazer acontecer, eu posso pensar grande”
Fonte: EM
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