quinta-feira, 13 de abril de 2017

De modelo a proprietária de uma mina de ouro e diamantes na África

De modelo a proprietária de uma mina de ouro e diamantes na África

De modelo a proprietária de uma mina de ouro e diamantes na África
Tiguidanke Camara durante entrevista em Guingouiné, no dia 25 de fevereiro de 2017 - AFP
A ex-modelo guineana Tiguidanké Camara trocou os vestidos de gala e os saltos altos por camisa e botas ao se tornar a primeira mulher proprietária de uma empresa de mineração na África Ocidental.
Em Guingouiné, uma pequena aldeia no oeste da Costa do Marfim, Camara está à frente de uma equipe de dez pessoas (geólogos e operários) que prospectam o solo em busca de ouro. E não hesita em se meter na lama para extrair amostras destinadas ao laboratório de pesquisa.
“Quando era modelo, desfilei para joalheiros. Tinham licenças na África que os abasteciam de pedras preciosas”, explica.
Esses desfiles “despertaram minha curiosidade. Disse para mim mesma: e se os africanos ou africanas se apropriassem do negócio do setor mineiro?”, conta.
“Sou a resposta a essa pergunta”, aponta Camara, considerada pela revista Jeune Afrique uma das “50 mulheres de negócios mais influentes da África francoparlante”.
Aproveitando que seu pai, ex-prefeito, tinha contatos na zona, a ex-modelo lançou em 2010 o Tigui Mining Group e comprou duas licenças de exploração de ouro e diamantes na Guiné, seu país natal, gastando as economias acumuladas nos desfiles e publicidades para marcas de luxo.
Em 2016, obteve mais uma autorização para explorar e prospectar ouro na Costa do Marfim, atualmente “sua base na África Ocidental”.
“Sou proprietária de uma companhia mineira que me pertence 100%”, diz com orgulho a fundadora e diretora-executiva da Tigui. Ela é uma exceção no continente, “exceto na África do Sul, onde há outras mulheres com cargos de responsabilidade”, aponta.
‘Exasperada’
Devido à sua silhueta de modelo, muitos homens lhe perguntavam: “De quem você é assistente?”, conta. “Exasperada, um dia me vi obrigada a mostrar meu crachá de diretora”. Mas, de um modo geral, Camara não se considera vítima de comportamentos machistas.
Em Guingouiné, os moradores sonham com grandes mudanças que poderiam beneficiar a aldeia se o local resultar ser rico em ouro e se uma mina for cavada.
Na língua local yacuba, “Guingouiné significa felicidade, mas carecemos de tudo”, lamenta o chefe da aldeia, Alphonse Doh, vestido com um boubou (túnica tradicional) branco e azul.
“A escola, com seis turmas, é um barraco sem eletricidade. As mulheres que vão dar à luz são transportadas em carretas ao longo de dez quilômetros até o centro de saúde mais próximo”, explica.
Para ele, a instalação de uma mina permitiria transformar a vida de cerca de mil habitantes. A ex-modelo tem a intenção de ajudar a aldeia se os negócios prosperam.
Além dos benefícios econômicos, Doh espera que Camara sirva de modelo de sucesso nesta região, onde o nível de analfabetismo chega a 80% entre as meninas.
Cooperativa
Entretanto, “a mineira”, como a conhecem na região, ressuscitou na aldeia uma cooperativa de mulheres, à qual forneceu material agrícola e dois painéis solares.
“Estamos muito contentes com esta colaboração”, afirma Elise Kpan, responsável das mulheres de Guingouiné. Esta organização lhes permitiu colocar seus cultivos “no mercado e ganhar dinheiro”.
O setor de mineração marfinense, dominado pela produção de manganês (duas minas) e de ouro (cinco), está em plena expansão há uma década. A atividade contribui com 5% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, cujo subsolo também é rico em diamantes, ferro, níquel, bauxita e cobre.
Mas as mulheres representam apenas 112 dos 6.000 empregados diretos, e cerca de 400 entre os 30.000 indiretos no setor, segundo a Agrupação Profissional de Mineiros da Costa do Marfim.

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