BC opta por cautela, reduz Selic a 10,25% e sinaliza cortes menores em meio à crise política
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Por Marcela Ayres BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central reduziu a taxa básica de juros em 1 ponto percentual nesta quarta-feira, a 10,25 por cento ao ano, e já indicou que deve optar por um corte menor da Selic em sua próxima reunião, em julho, em meio à intensa crise política. "Em função do cenário básico e do atual balanço de riscos, o Copom entende que uma redução moderada do ritmo de flexibilização monetária em relação ao ritmo adotado hoje deve se mostrar adequada em sua próxima reunião", informou o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC em comunicado. Em pesquisa Reuters, a mediana das projeções apontava para redução de 1 ponto percentual da Selic agora. "As incertezas políticas limitam um pouco a extensão do ciclo (de afrouxamento monetário), cujo fim está mais próximo. O BC sinalizou que vai cortar a Selic em 0,75 ponto percentual na próxima reunião", afirmou o economista-chefe do Haitong Securities, Jankiel Santos, para quem a taxa vai a 9 por cento ao ano, cenário que já havia antes da crise política. Antes das delações de executivos da JBS (JBSS3.SA: Cotações) virem à tona e colocarem em xeque o governo do presidente Michel Temer, boa parte dos agentes econômicos apostava que o BC aceleraria o passo e cortaria os juros em 1,25 ponto nesta reunião diante da evolução favorável da inflação e da fraqueza na atividade econômica. A perspectiva, contudo, foi abandonada diante das incertezas políticas e temores de atraso na tramitação de reformas consideradas cruciais para a retomada mais sustentável do crescimento, com destaque para a da Previdência. A esse respeito, o BC informou entender como fator de risco principal o aumento de incerteza sobre a velocidade do processo de reformas e ajustes na economia. "Isso se dá tanto pela maior probabilidade de cenários que dificultem esse processo, quanto pela dificuldade de avaliação dos efeitos desses cenários sobre os determinantes da inflação", informou. Em outro trecho, o BC reiterou que a extensão do ciclo de flexibilização monetária dependerá, entre outros fatores, das estimativas da taxa de juros estrutural da economia. Mas ressaltou que esse quadro passou a ficar mais turvo. "O Comitê entende que o aumento recente da incerteza associada à evolução do processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira dificulta a queda mais célere das estimativas da taxa de juros estrutural e as torna mais incertas. Essas estimativas continuarão a ser reavaliadas pelo Comitê ao longo do tempo." Esta foi sexta vez seguida que a autoridade monetária diminuiu a Selic, num ciclo iniciado em outubro passado que contou com dois cortes iniciais de 0,25 ponto percentual, seguidos por outros dois de 0,75 ponto e um de 1 ponto. O BC continuou defendendo que a inflação permanece favorável, "com desinflação difundida inclusive nos componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária". Mas, mais uma vez, ressaltou que é necessário "acompanhar possíveis impactos do aumento de incerteza sobre a trajetória prospectiva da inflação". Nesse cenário, diminuiu a projeção de inflação pelo cenário de mercado a 4 por cento em 2017, sobre 4,1 por cento na reunião anterior. Para 2018, por outro lado, a estimativa subiu levemente a 4,6 por cento, contra 4,5 por cento antes. A meta oficial é de 4,5 por cento pelo IPCA nos dois anos, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos. Para o economista-chefe do banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, a mensagem do BC pavimenta o caminho para uma Selic mais alta ao fim do ciclo. "Se não houver um avanço nas reformas, na velocidade do processo, claramente o Banco Central vai cortar menos e acompanhar o andar da carruagem", afirmou. "Dada a incerteza política, é possível diminuir o ciclo de afrouxamento monetário." Economistas ouvidos pelo BC na mais recente pesquisa Focus ainda enxergavam juros em 8,5 por cento ao fim de 2017, percentual que embasou os cálculos do BC para a inflação em seu comunicado divulgado nesta quarta-feira. Mas o Top 5 --grupo que mais acerta as projeções-- já havia passado a ver a Selic fechando o ano em patamar mais alto, a 8,63 por cento no cenário de médio prazo. Na semana anterior, a expectativa era de que ela iria a 8,13 por cento.
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