#MUSTREAD ou Charles Chaplin fez fortuna investindo em ações
Fantástico, fabuloso, histórico e ao mesmo tempo super atual: #mustread! É assim que defino o livro recém-lançado pelo já consagrado Ivan Sant´Anna. O autor nos presenteia com um enredo sobre os bastidores da quebra da bolsa de Nova York em 1929, uma crise sem precedentes. Com riqueza de detalhes a narrativa discorre sobre como era a vida de algumas pessoas antes do mercado financeiro colapsar, e o impacto sofrido por todos.
O autor nos presenteia com um enredo sobre os bastidores da quebra da bolsa de Nova York em 1929, uma crise sem precedentes. Com riqueza de detalhes a narrativa discorre sobre como era a vida de algumas pessoas antes do mercado financeiro colapsar, e o impacto sofrido por cada uma delas.
A narrativa se baseia em dois sentimentos: a ganância e o medo – que são os sentimentos que movem os mercados – evidenciados através de personagens contrastantes (ricos/pobres, famosos/anônimos). Entre eles, o ator Charles Chaplin, o músico Irving Berlin, o político Winston Churchill, Adolf Hitler, o empresário Henry Ford, o professor Irving Fisher, o banqueiro John Pierpont Morgan, a multimilionária Helena Rubinstein, o empresário John D. Rockefeller, o lendário Jesse Livermore, a vidente Evangeline Adams, o carteiro Homer Dowdy, o engraxate Pat Bologna e a jovem Jolan Slezsak. A leitura é leve e divertida.
De um lado estavam os “touros”, do outro, os “ursos” – esses termos vêm da época em que touros lutavam contra ursos para diversão dos garimpeiros durante a “Corrida do Ouro” do final da década de 1840, na Califórnia. Como o touro ataca de baixo para cima com os chifres, e o urso de cima para baixo com as patas, vem daí a analogia. Os touros são os otimistas de plantão – apostam na alta do mercado – e os ursos são pessimistas – apostam na queda das cotações.
Os crashes de 24 e de 29 de outubro (mais conhecidos como “quinta-feira negra” e “terça-feira negra“), reverberaram mundo a fora, impactando todas as bolsas e mercados do mundo. E enterrando definitivamente o sonho dourado e ilusório dos “esfuziantes anos 20”, época em que, muitos acreditavam numa sociedade em que todos seriam ricos, e na prosperidade permanente.
Leia abaixo alguns trechos – adaptados – do livro:
Charles Chaplin (market timing) x Irving Berlin (buy & hold)
(…) Em 1917, Chaplin, agora ganhando mais de um milhão de dólares por ano, começou a investir em ações. (…)
(…) Hipnotizados pela força descomunal do bull-market, os especuladores não queriam nem saber dos fundamentos da economia. E, no entanto, 14 milhões de americanos estavam desempregados no final da primavera. Esse dado estatístico, divulgado pelo Departamento do Trabalho (US Department of Labor), passou despercebido pelos investidores. Mas não por todos. O número impressionou o ator Charles Chaplin, que, excetuando-se sua participação na United Artists, tinha todo seu dinheiro disponível aplicado na Bolsa. Chaplin, que não era dado a hesitações, não pensou duas vezes. Liquidou sua carteira de ações, no valor de 5 milhões de dólares. (…)
(…) Na véspera do crash, Charles Chaplin e o compositor Irving Berlin jantaram juntos em Hollywood. Berlin repreendeu Chaplin por este ter vendido sua carteira de ações, o que considerou um ato impatriótico. O colapso em Nova York pegou os dois em posições antagônicas, Chaplin “zerado” e o músico com todas as suas economias aplicadas na Bolsa. Berlin perdeu quase tudo com o crash – e seja por teimosia, seja por perspicácia, seja por patriotismo – continuou comprando ações mensalmente pelos 60 anos que se seguiram. Quando morreu – aos 101 anos – além dos direitos autorais de mais de 1,5 mil canções, Berlin deixou para seus filhos uma carteira de títulos no valor de 1,1 BILHÃO DE DÓLARES. Muitos defensores do mercado de ações dizem que Irving Berlin mostrou que aplicar dinheiro na Bolsa, por todo o tempo, seja na alta ou na baixa, é um método infalível de se enriquecer. Mas se esquecem de assinalar que para isso é preciso ter outras rendas e viver um século. (…)
=> Será que aqui no Brasil, um país que tem a taxa de juros entre as mais altas do mundo, essa estratégia seria vencedora? Deixo essa excelente reflexão a você, caro leitor.
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A dinastia Kennedy(…) Não foi preciso muito tempo para que Joe Kennedy aprendesse os aspectos menos éticos do negócio e começasse a se valer fartamente deles, inclusive, e principalmente, o de operar amparado por informações privilegiadas – insider information. Mas, logo vieram outras jogadas especulativas, cada uma mais sofisticada que a anterior, com destaque para os pools de ações. Nesses pools, que poderíamos definir como “puxadas”, vários corretores se reuniam, adquiriam grandes lotes de determinado papel e começavam a espalhar notícias favoráveis a respeito dele, inclusive subornando jornalistas. Isso atraía levas de compradores gananciosos, em busca de um lucro fácil. Os preços então subiam e os integrantes do pool se desfaziam de maneira ordenada de seus títulos, deixando para a manada de investidores que vinha atrás o prejuízo quando sobreviesse a inevitável baixa, numa espécie de jogo das cadeiras. Cada pool tinha um organizador, a quem competia definir as estratégias operacionais e centralizar as decisões. Kennedy costumava ser um deles, um dos melhores. (…)
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Uma “arma de destruição” a serviço da ganância: a ALAVANCAGEM(…) A “alavancagem” voltava a ser a palavra mágica, a chave da riqueza fácil e quase instantânea. (…)
(…) outras modas excitantes estavam surgindo. Entre elas a de se especular com ações, atividade que, tal como acontecia com a compra de automóveis, deixara de ser exclusiva dos ricos. Pois agora os bancos ofereciam “empréstimos com chamadas de margem” (margin calls ou call loans) para pessoas de classe média. Se um investidor, por exemplo, dispunha de mil dólares para investir na Bolsa, as sociedades corretoras lhe ofereciam, digamos, um termo e realizar o prejuízo. Só que isso raramente acontecia, pois o mercado de ações não fazia outra coisa a não ser subir. Por causa dessa alta, muita gente que jamais sonhara com a hipótese enriquecia facilmente. E espalhava para os amigos. “Pode comprar. Os bancos emprestam quase todo o dinheiro. Se você for audacioso e tiver um pouco de sorte, pode transformar quinhentos dólares em 10 mil. Foi o que aconteceu comigo.” (…)
(…) Logo um financista mais esperto — e financista esperto era o que não faltava naquela época — surgiu com uma ideia brilhante. Em vez de o consórcio comprar ações na Bolsa, por que não adquirir cotas de outros consórcios , que por sua vez comprariam as de outros? Assim seria possível alavancar a alavancagem e a alavancagem da alavancagem. Dez dólares aplicados na ponta inicial significavam cem, mil, 10 mil dólares lá no fim. Como o mercado só subia, o efeito dessas reaplicações em cascata dava lucros fenomenais, assim como fenomenais taxas de sucesso. (…)
=> O crédito era fácil e podia-se operar sem ter o dinheiro. Porém, quando o ativo caia, perdia-se o que tinha e o que não tinha.
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A astróloga (e “estrategista de investimentos” dos figurões)(…) Evangeline Adams era a mais famosa vidente da América. Em seu consultório no prédio do Carnegie Hall, em Nova York, ela se valia do estudo dos astros, de bolas de cristal, cartas de tarô e leitura de mãos. Ficara rica prevendo o futuro, principalmente o futuro do mercado de ações, cujas altas e baixas vinha acertando desde 1927. A pitonisa de Wall Street se limitava a prever como o índice industrial Dow Jones, da Bolsa de Valores de Nova York, iria se comportar. Como o Dow praticamente não fazia outra coisa exceto subir, e era isso que ela quase sempre vaticinava, o percentual de acerto da vidente era enorme. (…)
(…) A vidente continuava a fazer grande sucesso. Muitos investidores, inclusive corretores e operadores profissionais, a procuravam. Entre seus clientes estava Charles Schwab, magnata do aço , ex-presidente da United States Steel, de onde se transferira para a liderança da Bethlehem Steel. Antes de comprar ou vender qualquer título na Bolsa, Schwab consultava Evangeline. O mesmo fazia a rainha do cinema, Mary Pickford. Para a arraia-miúda, que não tinha condições financeiras de consultá-la pessoalmente, Evangeline Adams editava um boletim mensal explicando como a mudança da posição dos planetas afetava o preço das ações. Cada um dos 100 mil exemplares do boletim era vendido por cinquenta centavos. (…)
(…) Dizia-se que o próprio John Pierpont Morgan pai, falecido em 1913, não fazia negócios sem consultá-la. Certa vez, ainda segundo rumores jamais investigados, o venerando financista fizera um investimento de 100 milhões de dólares simplesmente porque a astróloga lhe dissera que Áries estava em posição favorável em relação ao sol. De acordo com os adeptos da vidente, J. P. obtivera um lucro tão grande com a aplicação dos 100 milhões que levara Evangeline em seu iate para um extenso cruzeiro particular , no qual o magnata se esmerou em descobrir “os métodos científicos” usados por ela. Se encontrou uma resposta para seus questionamentos, Morgan a guardou para si. Alguns integrantes da realeza europeia também consultavam Evangeline regularmente. Quanto mais ela cobrava, mais sua fama crescia. E acabou se tornando uma autora de profecias autorrealizáveis. “Vai subir”, a astróloga do Carnegie vaticinava. Todos compravam e o mercado subia mesmo. O mesmo acontecia na baixa. As paredes da antessala de Evangeline Adams eram decoradas com retratos autografados de alguns de seus clientes mais célebres, entre eles o tenor Enrico Caruso (Peixes), John Pierpont Morgan pai e Mary Pickford (ambos Áries) e Charles Schwab (Aquário), cuja foto ampliada ocupava uma parede inteira. (…)
(…) Durante o crash, Evangeline Adams foi obrigada a cancelar as consultas individuais, trocando-as por sessões coletivas. Caso contrário não poderia dar conta da fila de consulentes que aguardavam suas previsões para o comportamento do mercado nos próximos dias. A vidente aproveitou para recomendar que seus clientes comprassem ações, enquanto – secretamente – zerava sua carteira. (…)
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O engraxate, Pat Bologna – banca número 60 de Wall Street(…) Para chegar com os calçados totalmente limpos no escritório, MacVeagh parava todas as manhãs na banca de engraxate de um jovem de 19 anos, Pat Bologna, situada no número 60 de Wall Street, a pouco mais de um quarteirão da Casa Morgan. Por um dime (dez centavos), Bologna fazia um sapato parecer novo em folha. E, muito mais do que isso, provia seus clientes com as dicas e boatos que influenciariam a Bolsa naquele dia. Pudera. Pat Bologna era engraxate de Ben Smith — um dos chefões da W. E. Hutton —, de Joseph Kennedy, de Charles Mitchell e de Billy Durant, além de diversos outros banqueiros, investidores e especuladores do primeiro time da Rua. De cada um que sentava na cadeira de sua banca, Bologna pedia conselhos sobre o mercado de ações e depois repassava as indicações para os demais, que também davam seus pitacos. Sem exagero, podia se afirmar que Bologna formava o consenso do mercado para a sessão do dia. Muita gente até dava uma lambuzadinha no sapato só para ter o pretexto de parar lá. A uma certa altura, o engraxate praticamente abandonara sua profissão. Embora continuasse ao lado de sua banca, no número 60 de Wall Street, ele agora se limitava a dar consultas sobre investimentos. Os forasteiros faziam fila para ouvir seus conselhos sobre as tendências do mercado e sobre os melhores papéis para aplicar o dinheiro. Nessas sessões Bologna ganhava em uma hora o que levaria um dia para faturar engraxando e lustrando sapatos. Em meio às suas dicas, citava Joe Kennedy, Charles Mitchell e Jack Morgan como se fosse amigo íntimo deles. Os fregueses arregalavam os olhos de admiração. (…)
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A piada da épocaHouve um aumento no índice de suicídios após o crash e durante a depressão.
(…) “O senhor está se registrando para dormir ou para pular?”, perguntava, num diálogo tragicômico de um show de variedades da Broadway, o recepcionista de um hotel nova -iorquino. “Se for para pular, senhor, por favor, pague adiantado.” (…)
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A leitura do livro nos permite constatar que não existe milagre para ficar rico da noite para o dia (licitamente). E quando se trata de investimentos, não existe maneira mais “barata”, que aprender com o passado. Observar a história é muito instrutivo, afinal, ela sempre se repete!Fonte: Exame
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