Commodities minerais voltam a ganhar a atenção do investidor
Os ativos de commodities minerais como petróleo e minério voltaram a ganhar a atenção do investidor. Diante do avanço das fusões e aquisições nestas atividades, o mercado prevê retorno gradual dos investimentos à indústria de recursos naturais. O sócio da KPMG, Paulo Guilherme Coimbra, explica que mesmo diante de um cenário de preços de petróleo e minério de ferro mais baixos em relação a alguns anos atrás, a tendência é de crescimento das fusões e aquisições nestes segmentos.
“A mineração e a indústria petrolífera demandam altos níveis de eficiência e por isso cotações menores estimulam uma consolidação do mercado”, avalia. De acordo com estudo da KPMG, das três indústrias que compõem os setores de recursos naturais, a de óleo e gás foi a que mais registrou fusões e aquisições no primeiro trimestre. Em relação ao mesmo período de 2016, o número de transações concluídas dobrou. ”Com as mudanças regulatórias e um cronograma mais definido de leilões, o setor de óleo e gás no Brasil tem atraído mais investimentos”, destaca.
De acordo com o sócio do setor regulatório do Siqueira Castro Advogados, Renato Kloss, o Brasil tem se mostrado mais oxigenado para atrair investimentos em infraestrutura e indústria pesada. “O atual cenário não tem afugentado a busca por ativos. Até porque o investidor está acostumado ao risco e ele cobra por isso”, observa. O sócio da área societária do Siqueira Castro, Leonardo Cotta, acrescenta que o apetite do investidor pelo Brasil deve crescer. “Existe uma tendência de aumento das fusões e aquisições tanto em petróleo quanto em mineração”, analisa.
No entanto, nos três primeiros meses do ano o número de transações no setor mineral se manteve estável em relação ao mesmo período do ano passado, revela o estudo da KPMG. ”Há menos movimentação na mineração principalmente porque o governo federal precisa definir de uma vez o marco regulatório”, diz Coimbra. Kloss alerta que a discussão acerca do novo código mineral travou investimentos e pode continuar atrapalhando o avanço dos negócios na área. “O setor encara o marco regulatório como uma incógnita. Não há uma clareza sobre o futuro.”
Cotta adiciona que o ambiente de negócios se mostra mais acolhedor para a atividade mineral em outros países, como Canadá e Austrália. “Como o ambiente regulatório ainda está incerto no Brasil, o investidor tende a procurar outros lugares para colocar o seu dinheiro.”
Queda dos preços
Os segmentos de petróleo e minério de ferro possuem em comum o fato de que os preços recuaram drasticamente de meados de 2011 para cá. O barril do tipo Brent, por exemplo, superou US$ 100 à época e, hoje, está cotado em cerca de US$ 48. O minério de ferro já chegou a ultrapassar a casa dos US$ 170 a tonelada há seis anos. Atualmente, a cotação gira em torno de US$ 62 por tonelada. “Especialmente no segmento de minério de ferro, a atração de investimentos é pautada pela demanda global, em particular a China”, explica Cotta.
Segundo ele, mesmo com a desaceleração do consumo chinês, o país asiático deve continuar demandando volumes expressivos da commodity. Além disso, ele salienta que os planos do presidente norte-americano Donald Trump de investir US$ 1 trilhão em obras de infraestrutura geram mais atratividade para o negócio de minério de ferro no mundo. Por último, o advogado destaca que a apreciação do dólar frente ao real torna os ativos brasileiros mais baratos. “Esses três fatores devem impulsionar as fusões e aquisições no segmento de minério de ferro.”
Ele acrescenta que, após a derrocada dos preços do insumo nos últimos dois anos, muitas mineradoras tiveram problemas de caixa. “Neste sentido, parcerias e desinvestimentos são uma solução rápida para equacionar a falta de caixa.” A Vale é uma das mineradoras que está com um plano de desinvestimentos com foco em ativos non core, como por exemplo fertilizantes e carvão.
Mas conforme explica o executivo da KPMG, mineração é uma atividade muito globalizada e com menos players. “As transações tendem a ser em menor número, mas com valores mais altos”, pontua Coimbra. Ele ressalta que o potencial maior de fusões e aquisições se concentra em ativos não relacionados a minério de ferro.
Já o setor de petróleo, no Brasil, depende não só de leilões do governo federal, mas dos planos da Petrobras de vender ativos e fazer parcerias, uma vez que a empresa é responsável por mais de 90% da produção no País. Coimbra pondera que a petroleira está com uma agenda bem estruturada de planos de desinvestimentos. “Provavelmente a empresa deve conseguir concretizar as vendas programadas.” Para Kloss, o momento é convidativo para o setor. “Com um cronograma de leilões e a estratégia da Petrobras, a tendência é de aumento dos negócios no País.”
Fonte: DCI - Juliana Estigarríbia
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