Impossible Foods: Por que até Bill Gates está investindo em hambúrguer?
Imagine uma cena em que estivesse Bill Gates (co-fundador da Microsoft), Larry Page e Sergey Brin (co-fundadores do Google) em uma lanchonete comendo hambúrguer. Quem representaria a inovação mais disruptiva deste momento? Se perguntasse para eles, haveria a possibilidade de apontarem o hambúrguer já que investiram quase US$ 100 milhões em uma startup que até agora só produz isso. O próprio Google tentou comprar esta fabricante do hambúrguer por um valor entre US$ 200 e 300 milhões, mas o empreendedor declinou. Só o interesse destes bilionários visionários, além de outros como o bilionário chinês Li Ka-shing e do indiano Vinod Khosla, que também investiram na startup Impossible Foods, já seria algo para chamar a atenção de quem lida com empreendedorismo e inovação ao redor do mundo, mesmo que isto pareça que seja apenas um hambúrguer.
Entretanto, estamos vivendo uma era em que há tantas inovações disruptivas que quase ninguém conhece Pat Brown, o fundador da Impossible Foods. Ele é considerado um dos principais cientistas dos Estados Unidos, foi professor de bioquímica na Universidade de Stanford durante 25 anos e neste período inventou o Chip de DNA, que foi vital nas principais descobertas genéticas nos últimos anos. Esta trajetória já tinha trazido fama, reconhecimento e dinheiro. Mas em 2009, aos 55 anos, percebeu que talvez até estivesse feliz e realizado, mas não mais motivado. Decidiu parar todas as suas atividades durante 18 meses durante um período sabático para refletir sobre o que gostaria de fazer no resto da sua vida.
Nas suas pesquisas e reflexões, ficou alarmado com o fato de que um terço de todo o terreno agriculturável na Terra estava sendo utilizado para a criação ou produção de ração para a pecuária. E para piorar, a pecuária tinha muitos impactos negativos ambientais como na utilização de recursos naturais, desmatamentos e aumento do Efeito Estufa. Imaginou que se a pecuária ocupasse um espaço menor, os produtores poderiam se dedicar a outros alimentos, barateando a alimentação e reduzindo drasticamente os resultados criticáveis da produção e consumo de carne.
Ainda com a cabeça de pesquisador, explica, quando retornou do período sabático, organizou um simpósio convidando as principais referências no assunto para discutir o problema, mas entendeu quão utópico era a sua nova motivação e ingênua era sua abordagem. Todos já conheciam o “problema”, conduziam pesquisas sobre o assunto, escreviam papers e até participavam de movimentos que tratavam do problema. Mas ninguém, com a exceção de grupos ecologistas mais ativistas, estavam, de fato, trabalhando para reduzir os danos deixados pela indústria da carne.
Incomodado em não se tornar mais um que estuda, avisa, mas não toma nenhuma atitude prática para eliminar o problema ou reduzir seus efeitos, em 2011, Pat Brown reuniu uma equipe de pesquisadores para produzir carne. Mas com um detalhe, esta carne seria obtida a partir de plantas que, cientificamente comprovada, deveria ter um menor impacto do que a produção de carne e deveria ser não apenas exatamente igual em todos os seus aspectos para o consumidor final, porém melhor. A startup que fundou, a Impossible Foods em Redwood City, no Vale do Silício, começou pelo hambúrguer: “Nossa missão não é produzir um hambúrguer decente. É fazer o melhor hambúrguer que o mundo jamais viu.” – explica Brown.
Quem olha e consome o hambúrguer fica impressionado pelo sabor e mais deslumbrado ainda quando sabe que aquilo ali não veio de um boi e é muito mais saudável. A equipe de pesquisadores da Impossible Foods conseguiu uma combinação de ingredientes vegetais e uma fórmula que atinge todas as mesmas características do hambúrguer, inclusive a gordura e o sangue, que todos sabem (mas não se lembram) que estão presentes, inclusive mesmo depois de ser grelhado.
Com esta motivação, apesar de ser vegetariano assim como a sua inovação, Brown visa atender qualquer pessoa que goste, mesmo que pareça paradoxal, de uma boa carne.
Mesmo já tendo captado mais de US$ 270 milhões dos principais investidores dos Estados Unidos e China (os dois maiores consumidores de carne do mundo) e mirando um mercado que movimenta cerca de US$ 1 trilhão anualmente, o jovem empreendedor Pat Brown, agora com 63 anos, está mais motivado do que nunca esteve ao tentar oferecer uma alimentação mais saudável e sustentável.
Fonte: Estadão
Nenhum comentário:
Postar um comentário