2 de agosto de 2017 |
Famosa pelo garimpo a céu aberto que levou milhares de pessoas a procurarem ouro na década de 1980, a região de Serra Pelada passa a ser conhecida também como o local da queda mais recente de um meteorito (por sinal, de um tipo raríssimo) no Brasil.
O bloco rochoso que tinha entre 40 e 50 cm de tamanho e pesava entre 5 e 6 kg caiu na manhã do dia 29 de junho perto da Escola Rita Lima de Sousa, na Vila de Serra Pelada, que hoje pertence ao município de Curionópolis, no Pará.
Paulo Anselmo Matioli, 42 anos, mestre em Geologia pelo Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (Igc-USP) e diretor e curador do Museu de Ciências Naturais Joias da Natureza, considera-se um privilegiado por ter identificado o meteorito.
O curioso é que o especialista, natural de Santos, estava a quilômetros de distância do local da queda. Matioli viu uma postagem nas redes sociais do colega geólogo Marcílio Rocha, de Marabá, do Pará, a quem foram entregues alguns pedaços do material – ele buscava algum especialista em meteoritos para auxiliar na análise.
“Eu já fiquei louco ao ver a foto. Quando ele me mandou um pedaço da amostra, eu já tinha visto hotel, passagem de avião… E muitas pessoas que ele procurou não deram muita bola. Sugeriram que fizessem testes e meio que deixaram para lá. Agora devem estar com dor de cabeça, arrependidos”, brinca Matioli.
Ele diz isso porque não só confirmou que sim, trata-se de um meteorito, como ainda de um tipo bem raro: um eucrito, da classe dos acondritos, cuja origem é o asteróide Vesta – o segundo maior do Sistema Solar.
Matioli conta que só dois meteoritos deste tipo haviam sido encontrados no Brasil anteriormente (em Serra de Magé, Pernambuco, em 1923, e em Ibitira, Minas Gerais, em 1957). Esta também se torna a segunda queda comprovada de meteorito no Estado do Pará (a primeira foi em Ipitinga, em 1989). Atualmente, existem cerca de 71 meteoritos descritos e descobertos no país.
“Fazer parte dessa história de perto e estudar uma rocha proveniente de um asteróide é algo incrível. Vamos levar para o mundo inteiro esse novo meteorito brasileiro”, comemora o geólogo.
Serra Pelada de volta ao mapa
Matioli passou uma semana na Vila de Serra Pelada. Lá, soube que as crianças estavam em aula no momento da queda do meteorito, cujo barulho despertou as mais diferentes reações.“Uns falaram de bomba, outros trovão, avião e alguns até pedaço de ferro (a Vale tem um projeto que extrai minério na região)… Já o vigia da escola, testemunha ocular, conta que viu a queda levantar poeira e o rastro de fumaça, que é deixado pelos minerais sendo fundidos na superfície. Eles agora sabem da raridade do evento que presenciaram, pois não é todo mundo que vê a queda de um meteorito”, destaca.
Passado o susto com o estrondo, os moradores da Vila foram ao local da queda e viram os fragmentos de perto. “Uma estudante em especial, a Vitória, pegou vários pedaços, encheu a camisa e foi distribuindo. Agora ela sabe o quanto isso foi importante para nós e para a ciência”, diz o geólogo, que falou a todos da importância em se registrar o episódio.
Matioli usará um fragmento no acervo do Museu de Ciências Naturais Joias da Natureza, que atualmente está trabalhando de forma itinerante. Ele também já encaminhou uma parte do meteorito para os Estados Unidos para análises que identificarão as propriedades físico-químicas do material. Concluídos os estudos, uma revista especializada internacional fará a publicação oficial do mais novo meteorito brasileiro. E ele já tem nome: Meteorito Serra Pelada.
“A Vila de Serra Pelada é humilde, simples, mas tem pessoas acolhedoras, gentis e muito calorosas. Fui muito bem tratado por todos eles. Só tenho a agradecer. Os governantes poderiam olhar com mais atenção para um local que já teve o maior garimpo a céu aberto do mundo”, pontua o geólogo. “Fico feliz de ajudar a colocar Serra Pelada de novo no mapa. Não por causa da corrida do ouro, mas agora por causa da corrida do meteorito!”.
Por: Eduardo Carneiro
Fonte: UOL
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