Vale mira pequenas siderúrgicas locais na China
Na briga por mercado na China, principal consumidor global de minério de ferro, a Vale tenta se aproximar de novos clientes locais. Há pouco mais de dois meses a mineradora estreou no varejo, vendendo a commodity em yuan, a moeda chinesa. A intenção é atrair pequenas siderúrgicas. Tradicionalmente, a negociação é feita em dólar, em grandes contratos de longo prazo.
A iniciativa será combinada à estratégia de misturar minérios mais ricos em ferro com os de menor qualidade, processo chamado no jargão do setor de blendagem. A Vale aposta ainda em investimentos em automação, que podem gerar uma economia de US$ 2 bilhões. O racional da blendagem é reduzir a necessidade de investimentos na reposição de capacidades de minas que estão se exaurindo, como as do Sistema Sul da Vale, em Minas Gerais. Ao misturar minérios fracos com outros como o de Carajás (PA), de altíssimo teor de ferro, a Vale melhora seus preços recebidos. Além disso, presta um serviço ao cliente e facilita sua distribuição.
Hoje a mistura é feita na Malásia, Omã e na própria China, em mais de dez portos. Até o fim do ano o volume usado nesse processo será de 70 milhões de toneladas, o equivalente a quase 20% da produção de minério projetada pela empresa. Em 2018, o total saltará a 100 milhões. Em entrevista ao Estadão/Broadcast, o diretor executivo de Ferrosos da Vale, Peter Poppinga, contou que a companhia está fazendo parcerias com ferrovias e operadoras de barcaças para conseguir levar seu principal produto até o interior da China. A ideia é se aproximar de siderúrgicas de menor porte, sem acesso a financiamento e interessadas em comprar lotes menores por questões de logística interna.
“É um passo importante para ganhar mercado. Nos primeiros 60 dias foram quase 20 clientes novos, que antes compravam no mercado doméstico”, diz. As vendas no varejo poderão somar 20 milhões de toneladas até 2019, quando a Vale terá uma produção anual de 400 milhões de toneladas de minério. O modelo começou a ser replicado na Índia, de forma embrionária.
Competitividade
Maior produtora global de minério de ferro, a Vale quer reduzir o custo de produção de seu produto entregue na China em US$ 5 por tonelada, ao câmbio atual, para um patamar de US$ 30 por tonelada. A expectativa é que isso ocorra em três anos. Na prática, isso significará uma economia anual de US$ 2 bilhões. Para isso, a empresa entrou no que chama de segunda onda de competitividade. Nela, o foco será investir em automação e tecnologia operacional. A primeira onda de competitividade ocorreu entre 2014 e 2016, período em que a mineradora cortou custos e renegociou contratos. O preço do minério colocado na China, incluídos custos de manutenção, saiu de US$ 65 por tonelada para cerca de US$ 35 por tonelada nesse período.
Um dos pilares do aumento da eficiência na cadeia de produção de minério será o Centro de Operações Integradas (COI), em construção em Belo Horizonte, Minas Gerais. A partir do fim do ano, uma equipe de 50 pessoas vai monitorar dia e noite a operação da Vale, no Brasil e no exterior. Na gestão de Fabio Schvartsman, novo presidente da Vale, a diretoria de ferrosos voltou a concentrar também a logística da Vale, antes separada.
Outra frente para atingir a redução de custos é a negociação de contratos de afretamento de longo prazo para uma nova frota de navios. Armadores chineses e de outros países vão construir navios VLOC (Very Large Ore Carriers), de 350 mil toneladas, tendo como contrapartida contratos de 30 anos com a Vale. A Vale já tem contratos de longo prazo para 66 navios Valemax, de 400 mil toneladas.
A nova frota estará pronta em três anos. Segundo Poppinga, a Vale conseguiu fechar contratos a um preço bem abaixo do spot (à vista). Hoje em US$ 14 por tonelada, ele já teve picos de US$ 18 por tonelada em 2017.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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