Empresa britânica luta para dar nova vida ao mercado de esmeraldas e rubis
Uma empresa de mineração pouco conhecida está modernizando o caótico comércio de pedras preciosas na esperança de gerar demanda para suas esmeraldas e rubis. Na maior mina de esmeraldas do mundo, perto da fronteira da Zâmbia com a República Democrática do Congo, a Gemfields PLC está extraindo milhões de quilates a cada mês.
Em novembro, dezenas de trabalhadores da mina Kagem coletavam fragmentos de rocha e os enviavam para a “sala de lavagem”, onde cerca de 50 pessoas debruçadas sobre esteiras transportadoras usavam ganchos de metal para tentar encontrar vestígios de esmeralda. Observados de perto por gemólogos e seguranças, os funcionários separavam as rochas com esmeraldas em cestos.
No ano encerrado em 30 de junho, a receita da Gemsfields somou US$ 171 milhões. Além da Zâmbia, a empresa, que conta com 2 mil funcionários, também opera em Moçambique e detém licenças para exploração em Madagascar e no Sri Lanka.
A operação na Zâmbia tem ajudado a empresa — que negocia suas ações no AIM, o mercado de pequenas empresas da bolsa de Londres — a dominar um setor que vem crescendo rápido e se tornando cada vez mais lucrativo.
A Gemfields é dona de 75% da mina Kagem e o governo da Zâmbia detém os outros 25%.
Desde 2008, a empresa triplicou a produção na Kagem ao contratar geólogos para identificar as melhores áreas de mineração e usar caminhões e equipamentos pesados, além de mais trabalhadores, para processar e transportar as pedras de forma mais eficiente.
Além disso, a Gemfields — ao adotar técnicas de marketing mais astutas que evocam a estratégia da gigante dos diamantes De Beers para dar impulso à demanda por brilhantes nas décadas de 40 e 50 — ajudou a aumentar os preços globais da esmeralda em quase 14 vezes desde 2009, segundo dados de vendas fornecidos pela empresa.
Estatísticas da Organização das Nações Unidas mostram que o comércio global de esmeraldas, rubis e safiras dobrou desde 2011, para cerca de US$ 5 bilhões por ano, e continua crescendo. E a Gemfields não enfrenta concorrentes do seu porte.
A família Gupta, dona da Gemfields, atua no mercado de pedras preciosas há décadas, mas a empresa era pequena e não tinha condições de levantar capital suficiente para crescer. Até que nos anos 2000, o fundador Rajiv Gupta entrou em contato com Brian Gilbertson, ex-diretor-presidente da gigante anglo-australiana BHP Billiton Ltd., que tinha criado uma firma de private equity para investir no setor de mineração. Com o apoio de Gilbertson, a Gemfields comprou a fatia na mina Kagem em 2008.
A Gemfields está bem posicionada para tirar proveito de sua posição como única produtora formal e de larga escala de rubis e esmeraldas no mercado mundial, dizem analistas.
“Nó ultimo ano, o crescimento de pedras preciosas coloridas foi muito maior que o de diamantes”, diz Daniel Struyf, diretor internacional de joias da casa de leilões britânica Bonhams.
O mercado de pedras preciosas coloridas soma US$ 8,6 bilhões ao ano e, com produtores questionáveis em países como Mianmar e Colômbia, ainda funciona nas sombras do mercado de diamantes mais formal, que é dez vezes maior.
“A Gemfields facilitou a vida de todos os grandes compradores de pedras preciosas”, diz Eckehard Julius Petsch, proprietário da Julius Petsch Jr., uma trading alemã especializada no setor fundada há 115 anos. Petsch foi o avaliador oficial de esmeraldas da Zâmbia entre 1988 e 1990.
A oferta estável tem ajudado a estimular a demanda, elevando os preços das esmeraldas brutas de alta qualidade da Kagem de US$ 4,40 o quilate em 2009 para US$ 60 no ano passado. A empresa produziu 30,1 milhões de quilates em esmeraldas e berilo — uma versão semipreciosa da esmeralda — no ano encerrado em 30 de junho, 49% a mais que no ano anterior. Isso dá à esmeralda um brilho raro num mercado de commodities hoje sombrio. O preço do ouro caiu cerca de 16% em 2015. O do cobre, principal produto exportado pela Zâmbia, caiu cerca de 25%. Até o mercado de diamantes enfraqueceu. A De Beers informou que as vendas de diamantes no terceiro trimestre caíram 59% ante o mesmo trimestre do ano anterior.
Há poucas garantias de que o mercado de pedras preciosas coloridas continuará aquecido, já que a demanda dos países emergentes por bens de luxo está caindo diante da desaceleração na China e das turbulências macroeconômicas globais.
O líder executivo da Gemfields, Ian Harebottle, diz que a empresa poderia ser ainda mais rentável, mas uma expansão oferece riscos, já que a base da demanda é pequena. “Já esprememos bastante a nossa margem”, diz ele.
Mas executivos da Gemfields acreditam que há espaço para crescer, já que as pedras preciosas coloridas respondem por apenas 8% do mercado americano de joias no valor em dólar em comparação com 45% dos diamantes, de acordo com Russell Shor, analista sênior do setor do Instituto Gemológico da América.
A empresa espera obter sucesso replicando as estratégias usadas pela De Beers para converter sua gigantesca mina em Kimberley, na África do Sul, em um mercado global para diamantes, com a realização de leilões diretamente a compradores e o criação de um sistema de classificação para suas pedras. Para ampliar seu domínio no mercado de pedras preciosas coloridas para além das esmeraldas, em 2011, a Gemfields comprou 75% da mina de rubi Montepuez, em Moçambique, por US$ 2,5 milhões.
Fonte: WSJ
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