Série 'Mistérios da Amazônia' mostra expedição inédita na Serra do Aracá (Foto: Antônio Lima)
Série 'Mistérios da Amazônia' mostra expedição inédita na Serra do Aracá (Foto: Antônio Lima)
Série 'Mistérios da Amazônia' mostra expedição inédita na Serra do Aracá (Foto: Antônio Lima)
Série 'Mistérios da Amazônia' mostra expedição inédita na Serra do Aracá (Foto: Antônio Lima)
Série 'Mistérios da Amazônia' mostra expedição inédita na Serra do Aracá (Foto: Antônio Lima)
Série 'Mistérios da Amazônia' mostra expedição inédita na Serra do Aracá (Foto: Antônio Lima)
Série 'Mistérios da Amazônia' mostra expedição inédita na Serra do Aracá (Foto: Antônio Lima)
Série 'Mistérios da Amazônia' mostra expedição inédita na Serra do Aracá (Foto: Antônio Lima)
Série 'Mistérios da Amazônia' mostra expedição inédita na Serra do Aracá (Foto: Antônio Lima)
Série 'Mistérios da Amazônia' mostra expedição inédita na Serra do Aracá (Foto: Antônio Lima)
Série 'Mistérios da Amazônia' mostra expedição inédita na Serra do Aracá (Foto: Antônio Lima)
Série 'Mistérios da Amazônia' mostra expedição inédita na Serra do Aracá (Foto: Antônio Lima)
Série 'Mistérios da Amazônia' mostra expedição inédita na Serra do Aracá (Foto: Antônio Lima)
Foi durante o Carnaval de 2017, quando eu fazia uma matéria em Barcelos (a 405 km de Manaus em linha reta e a 656 Km via fluvial), justamente sobre as belezas e o potencial turístico daquele município, que ouvi falar pela primeira vez na Serra do Aracá.
Ouvi histórias de que para povos indígenas o lugar é sagrado e só visitado para realização de rituais religiosos, e que para os não indígenas o lugar representa a possibilidade de enriquecimento rápido com o garimpo de pedras preciosas, semipreciosas, ouro, diamante e muita, muita tantalita, um mineral raro do qual o Brasil possui mais da metade das reservas de tudo o que existe no mundo.
Porém, o que me chamou a atenção mesmo foram os relatos das belezas naturais que me diziam existir nessa serra. Planaltos que vão de 1200 a 1600 metros de altitude. Fauna farta e exuberante, flora típica de região de elevada altitude, temperatura média anual abaixo dos 20ºC, rios, riachos, lagos, campos, florestas, campinas e inúmeras cachoeiras, cuja principal é conhecida por Cachoeira do Eldorado, com uma queda livre de 365 metros. Simplesmente a maior cachoeira do Brasil. Tanta informação me fez imaginar um local lindo e diferente de tudo o que já conheci em nosso Estado. Nunca havia imaginado um local assim em pleno Amazonas.
Na ocasião entrevistava Allen Gadelha, operador de turismo local, especialista em pesca esportiva, bastante conhecedor do Município de Barcelos. Ele relatava com muito entusiasmo e propriedade as belezas daquele lugar que, até então, eu só podia imaginar a partir do que ouvia.
Perguntei como eu poderia ir ao local e ele me disse que seria muito difícil e caro, pois seria necessário organizar uma expedição. “Não existe estrada, comunidades próximas, estrutura pra escalar a montanha e toda logística precisa ser pensada antes de partir, porque o lugar é muito isolado e de difícil acesso”, explicou Allen.
Cheguei a pensar por uma fração de segundo que tanta dificuldade seria uma desculpa e que o tal paraíso não existia. Foi então que ele disse que já havia realizado algumas expedições ao local e, mostrando vídeos e fotos em seu celular, me fez acreditar que o paraíso realmente existia e que era tão bonito quanto eu pude imaginar ao ouvir os relatos.
A partir daquele momento fixei a ideia de montar uma expedição. Combinamos que eu formaria uma equipe multidisciplinar de pesquisa científica e iria tentar buscar recursos para bancar os custos, e ele formaria a equipe de apoio, formada por carregadores, piloteiros, cozinheiras e cuidaria de toda logística com o barco principal, barco de apoio, voadeiras e canoas. A única observação de Allen foi que deveríamos aproveitar o período de maior cheia dos rios pra aproveitarmos o acesso via fluvial o mais próximo da montanha e, assim, diminuir consideravelmente a distância a caminhar.
Morada dos ‘deuses’ e da biodiversidade
A Serra do Aracá é um “Tepui”, palavra que no idioma indígena “pemon” quer dizer simplesmente montanha e, como tal, “morada dos deuses”. Para entendermos o formato de um Tepui, basta lembrar uma mesa onde temos paredes verticais e um topo plano.
São formados geralmente por quartzito, arenito e ardósia, o que é característico do chamado “Escudo das Guianas”, principalmente na zona da “Gran Sabana venezuelana”, onde encontramos as maiores ocorrências de Tapuis, ficando a Guiana e o Brasil com poucas ocorrências.
Mas a principal característica de um Tapui é o fato de serem as formações rochosas expostas mais antigas do planeta. Sua origem data do período “Pré-cambriano”, responsável por 88% de nosso tempo geológico, iniciado a aproximadamente 4,5 bilhões de anos com o início da Terra, terminando com o surgimento dos fósseis. Os Tapuis ocorrem entre o norte do rio Amazonas e o rio Orinoco em território venezuelano e Estado de Roraima, entre a costa do Atlântico e rio Negro incluindo Guiana e o Estado do Amazonas.
A Serra do Aracá é a ocorrência de Tapui mais ao Sul existente, única no Amazonas.
Ao contrário de uma cadeia de montanhas como os Andes, por exemplo, os Tapuis são formações individualmente isoladas, ambiente naturalmente propício ao desenvolvimento de formas evolutivas únicas tanto de animais como de vegetais. Ao compararmos a Serra do Aracá à forma de uma mesa, adicionamos o mínimo de 1200 metros de altitude com o máximo de 1700, com um raio de algumas dezenas de quilômetros de uma quase planície em seu topo, onde encontramos rios com cascatas, lagos, corredeiras e inúmeras cachoeiras numa região isolada com grande potencial para novas descobertas científicas.
Na Venezuela os Tapuis são protegidos por leis como monumentos naturais e o acesso só é permitido em alguns deles. No Brasil temos como o mais conhecido o Monte Roraima.
Viagem rumo ao inexplorado
Com as equipes definidas, todo o equipamento de pesquisa organizado por equipe, mantimentos, combustíveis e principalmente as devidas licenças solicitadas e emitidas pelos órgãos competentes, marcamos o dia 7 de julho para nossa partida.
Para a equipe de Barcelos seria apenas mais um trabalho a ser cumprido em uma rotina bastante familiar e sem maiores expectativas. Já para nossa equipe em Manaus, os poucos dias que faltavam para nosso embarque pareciam insuficientes para deixar todo o equipamento de pesquisa pronto pra embarque e arrumar os itens pessoais, inclusive os recomendados e indispensáveis, como repelentes, lanternas, barras de cereais, medicamentos, kits de primeiros socorros, entre outros.
Um certo clima de tensão se formou, afinal, nem todos os membros de nossa equipe já haviam ido ao Aracá. Estávamos prestes a partir para o desconhecido.
Formando a equipe: corrida pela ciência
Como tenho um antigo e bom relacionamento com inúmeros pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e Universidade Federal do Amazonas (Ufam), não foi difícil encontrar quem já estivesse ido à Serra do Aracá e, quando falei de minha intenção de formar uma equipe de pesquisadores para uma nova expedição ao local, rapidamente a notícia se espalhou e muitos foram os pesquisadores que se interessaram pelo projeto.
Além de pesquisadores, convidei técnicos de secretarias de Estado, membros de ONGs, entre outras instituições e finalmente consegui definir um grupo que aceitou enfrentar o desafio de literalmente desbravar um caminho até o topo da montanha.
Enquanto isso, em Barcelos, Allen Gadelha reuniu sua equipe e definiu a estrutura de apoio e logística, pensando nos mínimos detalhes. Tínhamos o barco principal, o confortável “Dick Farney” (em homenagem ao ator, cantor, compositor e pianista brasileiro Farnésio Dutra e Silva, autor e intérprete de grandes sucessos nos estilos Jazz, Samba-Canção e Bossa Nova, cujo nome artístico era Dick Farney), reservado para nossa equipe. Um barco de apoio destinado à equipe de Allen e seis botes motorizados, todos rebocados pelo barco principal, aguardando o momento e o local certo de entrarem em ação.
Segundo maior município do Brasil, só perde para Parintins em potencial turístico, mas faltam investimentos na área
Fundada em 6 de maio de 1758, Barcelos foi a primeira capital do Amazonas e só passou à categoria de município no ano de 1931. Com 122.476 km², é o 2º maior município brasileiro em extensão territorial, perdendo apenas para Altamira, no Pará. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), sua população, em 2016, era de 27.589 habitantes.
Barcelos fica na margem direita do Rio Negro e faz fronteira com a Venezuela, o Estado de Roraima e os municípios amazonenses de Novo Airão, Codajás, Maraã e Santa Isabel do Rio Negro.
O maior município do Amazonas em território é, segundo a Empresa Brasileira de Turismo – Embratur, o segundo em potencial turístico, ficando atrás apenas de Parintins. Já na década de 1980 ganhou fama internacional com a exportação de peixes ornamentais, chegando a exportar mais de 20 milhões de animais/ano sendo que, de cada cinco peixes exportados um era o Cardinal (Paracheirodon axelrodi), chegando a ser a principal atividade econômica de Barcelos. Com a reprodução artificial das principais espécies nativas, em grande parte por laboratórios asiáticos e estadunidenses, as exportações caíram para menos de 5% nos dias atuais.
Mas os peixes de Barcelos ainda fazem a fama nacional e internacional do município. Só que, ao invés de exportados, são pescados e soltos logo em seguida. É a pesca esportiva que atrai pescadores de todo o mundo, dispostos a pagar em média, R$ 6 mil por cinco dias de pesca esportiva e a estrela da vez é o Tucunaré-Açú (Cichla temensis). Infelizmente, o retorno à economia local deixa muito a desejar, pois, apesar de milhares de pescadores de todo o mundo buscarem Barcelos todos os anos para a prática da pesca esportiva, a maioria fecha pacotes de viagem fora do Amazonas e até fora do Brasil, entrando e saindo do Estado e do município de Barcelos quase sem serem vistos, contribuindo muito pouco com a economia local, inclusive no que se refere a impostos por parte das operadoras de turismo.
Município abrange dois parques
A natureza foi muito generosa com Barcelos. A beleza de suas florestas, lagos, rios e praias produzem cenários dos mais lindos da Amazônia fazendo com que o potencial turístico do município necessite de mais atenção por parte do poder público. Além da falta de regulamentação na operação turística da pesca esportiva, existem as áreas protegidas que, de proteção mesmo, só existem nas palavras dos textos que as criaram, pois estão à mercê de quem queira explorá-las de forma legal ou não.
No Município de Barcelos encontramos parte do Parque Nacional do Jaú (Amazonas e Roraima), com área superior a 2 milhões de hectares, sendo a quarta maior reserva florestal do Brasil e o terceiro maior parque em floresta tropical do mundo, destinado exclusivamente a fins científicos, culturais, educativos e recreativos. Administrado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o Parque é uma imensidão que deveria, mas não gera nenhuma atividade econômica ao Município de Barcelos, apesar de ser oficialmente reconhecido pelo ICMBio como “ótimo para a prática de caminhadas, canoagem e contemplação de suas belezas naturais”. Dentre os chamativos já mencionados do Parque do Jaú, lá encontramos Anamã, o maior lago amazônico
Serra do Aracá
Em situação semelhante e talvez pior, está o Parque Estadual Serra do Aracá, onde encontramos a maior queda d’água livre do Brasil, que é a Cachoeira do Eldorado ou Cachoeira do Aracá, com quase 400 m de altura.
O Parque não possui vigilância, fiscalização ou qualquer tipo de controle de entrada ou saída. De acordo com declarações de diversos moradores de Barcelos e comunidades próximas que pediram para não serem identificados, caçadores profissionais chegam a capturar e abater em média até vinte animais por caçada, como pacas, capivaras, antas, entre outros animais silvestres. Tudo pra atender uma clientela fiel em Manaus, formada principalmente por políticos e empresários.
A extração mineral clandestina, contrabando de plantas (biopirataria) e drogas são ameaças ao Parque que, apesar das constantes ações da Polícia Federal e Exército brasileiro, continuam acontecendo na Serra do Aracá.
Temperatura amena
Com temperatura média anual entre 25 a 28º C, o município apresenta temperatura agradável na maior parte do ano e de acordo com dados do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET – Dados entre 1961 e 2013) seu dia mais quente foi registrado em 7 de novembro de 1978, quando os termômetros marcaram 39,6ºC. Já o dia mais frio foi registrado em 3 de fevereiro de 1989 com temperatura mínima de 10,7º C.
Próximos desafios
Motivados com a possibilidade de novas descobertas científicas, planejamos permanecer dez dias no topo da montanha. Na próxima edição acompanhe nossa partida de Manaus, passando por Barcelos, caminhada até o topo da montanha, o trabalho dos pesquisadores, as belezas naturais.
Fonte: JORNAL A CRÍTICA
Ouvi histórias de que para povos indígenas o lugar é sagrado e só visitado para realização de rituais religiosos, e que para os não indígenas o lugar representa a possibilidade de enriquecimento rápido com o garimpo de pedras preciosas, semipreciosas, ouro, diamante e muita, muita tantalita, um mineral raro do qual o Brasil possui mais da metade das reservas de tudo o que existe no mundo.
Porém, o que me chamou a atenção mesmo foram os relatos das belezas naturais que me diziam existir nessa serra. Planaltos que vão de 1200 a 1600 metros de altitude. Fauna farta e exuberante, flora típica de região de elevada altitude, temperatura média anual abaixo dos 20ºC, rios, riachos, lagos, campos, florestas, campinas e inúmeras cachoeiras, cuja principal é conhecida por Cachoeira do Eldorado, com uma queda livre de 365 metros. Simplesmente a maior cachoeira do Brasil. Tanta informação me fez imaginar um local lindo e diferente de tudo o que já conheci em nosso Estado. Nunca havia imaginado um local assim em pleno Amazonas.
Na ocasião entrevistava Allen Gadelha, operador de turismo local, especialista em pesca esportiva, bastante conhecedor do Município de Barcelos. Ele relatava com muito entusiasmo e propriedade as belezas daquele lugar que, até então, eu só podia imaginar a partir do que ouvia.
Perguntei como eu poderia ir ao local e ele me disse que seria muito difícil e caro, pois seria necessário organizar uma expedição. “Não existe estrada, comunidades próximas, estrutura pra escalar a montanha e toda logística precisa ser pensada antes de partir, porque o lugar é muito isolado e de difícil acesso”, explicou Allen.
Cheguei a pensar por uma fração de segundo que tanta dificuldade seria uma desculpa e que o tal paraíso não existia. Foi então que ele disse que já havia realizado algumas expedições ao local e, mostrando vídeos e fotos em seu celular, me fez acreditar que o paraíso realmente existia e que era tão bonito quanto eu pude imaginar ao ouvir os relatos.
A partir daquele momento fixei a ideia de montar uma expedição. Combinamos que eu formaria uma equipe multidisciplinar de pesquisa científica e iria tentar buscar recursos para bancar os custos, e ele formaria a equipe de apoio, formada por carregadores, piloteiros, cozinheiras e cuidaria de toda logística com o barco principal, barco de apoio, voadeiras e canoas. A única observação de Allen foi que deveríamos aproveitar o período de maior cheia dos rios pra aproveitarmos o acesso via fluvial o mais próximo da montanha e, assim, diminuir consideravelmente a distância a caminhar.
Morada dos ‘deuses’ e da biodiversidade
A Serra do Aracá é um “Tepui”, palavra que no idioma indígena “pemon” quer dizer simplesmente montanha e, como tal, “morada dos deuses”. Para entendermos o formato de um Tepui, basta lembrar uma mesa onde temos paredes verticais e um topo plano.
São formados geralmente por quartzito, arenito e ardósia, o que é característico do chamado “Escudo das Guianas”, principalmente na zona da “Gran Sabana venezuelana”, onde encontramos as maiores ocorrências de Tapuis, ficando a Guiana e o Brasil com poucas ocorrências.
Mas a principal característica de um Tapui é o fato de serem as formações rochosas expostas mais antigas do planeta. Sua origem data do período “Pré-cambriano”, responsável por 88% de nosso tempo geológico, iniciado a aproximadamente 4,5 bilhões de anos com o início da Terra, terminando com o surgimento dos fósseis. Os Tapuis ocorrem entre o norte do rio Amazonas e o rio Orinoco em território venezuelano e Estado de Roraima, entre a costa do Atlântico e rio Negro incluindo Guiana e o Estado do Amazonas.
A Serra do Aracá é a ocorrência de Tapui mais ao Sul existente, única no Amazonas.
Ao contrário de uma cadeia de montanhas como os Andes, por exemplo, os Tapuis são formações individualmente isoladas, ambiente naturalmente propício ao desenvolvimento de formas evolutivas únicas tanto de animais como de vegetais. Ao compararmos a Serra do Aracá à forma de uma mesa, adicionamos o mínimo de 1200 metros de altitude com o máximo de 1700, com um raio de algumas dezenas de quilômetros de uma quase planície em seu topo, onde encontramos rios com cascatas, lagos, corredeiras e inúmeras cachoeiras numa região isolada com grande potencial para novas descobertas científicas.
Na Venezuela os Tapuis são protegidos por leis como monumentos naturais e o acesso só é permitido em alguns deles. No Brasil temos como o mais conhecido o Monte Roraima.
Viagem rumo ao inexplorado
Com as equipes definidas, todo o equipamento de pesquisa organizado por equipe, mantimentos, combustíveis e principalmente as devidas licenças solicitadas e emitidas pelos órgãos competentes, marcamos o dia 7 de julho para nossa partida.
Para a equipe de Barcelos seria apenas mais um trabalho a ser cumprido em uma rotina bastante familiar e sem maiores expectativas. Já para nossa equipe em Manaus, os poucos dias que faltavam para nosso embarque pareciam insuficientes para deixar todo o equipamento de pesquisa pronto pra embarque e arrumar os itens pessoais, inclusive os recomendados e indispensáveis, como repelentes, lanternas, barras de cereais, medicamentos, kits de primeiros socorros, entre outros.
Um certo clima de tensão se formou, afinal, nem todos os membros de nossa equipe já haviam ido ao Aracá. Estávamos prestes a partir para o desconhecido.
Formando a equipe: corrida pela ciência
Como tenho um antigo e bom relacionamento com inúmeros pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e Universidade Federal do Amazonas (Ufam), não foi difícil encontrar quem já estivesse ido à Serra do Aracá e, quando falei de minha intenção de formar uma equipe de pesquisadores para uma nova expedição ao local, rapidamente a notícia se espalhou e muitos foram os pesquisadores que se interessaram pelo projeto.
Além de pesquisadores, convidei técnicos de secretarias de Estado, membros de ONGs, entre outras instituições e finalmente consegui definir um grupo que aceitou enfrentar o desafio de literalmente desbravar um caminho até o topo da montanha.
Enquanto isso, em Barcelos, Allen Gadelha reuniu sua equipe e definiu a estrutura de apoio e logística, pensando nos mínimos detalhes. Tínhamos o barco principal, o confortável “Dick Farney” (em homenagem ao ator, cantor, compositor e pianista brasileiro Farnésio Dutra e Silva, autor e intérprete de grandes sucessos nos estilos Jazz, Samba-Canção e Bossa Nova, cujo nome artístico era Dick Farney), reservado para nossa equipe. Um barco de apoio destinado à equipe de Allen e seis botes motorizados, todos rebocados pelo barco principal, aguardando o momento e o local certo de entrarem em ação.
Segundo maior município do Brasil, só perde para Parintins em potencial turístico, mas faltam investimentos na área
Fundada em 6 de maio de 1758, Barcelos foi a primeira capital do Amazonas e só passou à categoria de município no ano de 1931. Com 122.476 km², é o 2º maior município brasileiro em extensão territorial, perdendo apenas para Altamira, no Pará. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), sua população, em 2016, era de 27.589 habitantes.
Barcelos fica na margem direita do Rio Negro e faz fronteira com a Venezuela, o Estado de Roraima e os municípios amazonenses de Novo Airão, Codajás, Maraã e Santa Isabel do Rio Negro.
O maior município do Amazonas em território é, segundo a Empresa Brasileira de Turismo – Embratur, o segundo em potencial turístico, ficando atrás apenas de Parintins. Já na década de 1980 ganhou fama internacional com a exportação de peixes ornamentais, chegando a exportar mais de 20 milhões de animais/ano sendo que, de cada cinco peixes exportados um era o Cardinal (Paracheirodon axelrodi), chegando a ser a principal atividade econômica de Barcelos. Com a reprodução artificial das principais espécies nativas, em grande parte por laboratórios asiáticos e estadunidenses, as exportações caíram para menos de 5% nos dias atuais.
Mas os peixes de Barcelos ainda fazem a fama nacional e internacional do município. Só que, ao invés de exportados, são pescados e soltos logo em seguida. É a pesca esportiva que atrai pescadores de todo o mundo, dispostos a pagar em média, R$ 6 mil por cinco dias de pesca esportiva e a estrela da vez é o Tucunaré-Açú (Cichla temensis). Infelizmente, o retorno à economia local deixa muito a desejar, pois, apesar de milhares de pescadores de todo o mundo buscarem Barcelos todos os anos para a prática da pesca esportiva, a maioria fecha pacotes de viagem fora do Amazonas e até fora do Brasil, entrando e saindo do Estado e do município de Barcelos quase sem serem vistos, contribuindo muito pouco com a economia local, inclusive no que se refere a impostos por parte das operadoras de turismo.
Município abrange dois parques
A natureza foi muito generosa com Barcelos. A beleza de suas florestas, lagos, rios e praias produzem cenários dos mais lindos da Amazônia fazendo com que o potencial turístico do município necessite de mais atenção por parte do poder público. Além da falta de regulamentação na operação turística da pesca esportiva, existem as áreas protegidas que, de proteção mesmo, só existem nas palavras dos textos que as criaram, pois estão à mercê de quem queira explorá-las de forma legal ou não.
No Município de Barcelos encontramos parte do Parque Nacional do Jaú (Amazonas e Roraima), com área superior a 2 milhões de hectares, sendo a quarta maior reserva florestal do Brasil e o terceiro maior parque em floresta tropical do mundo, destinado exclusivamente a fins científicos, culturais, educativos e recreativos. Administrado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o Parque é uma imensidão que deveria, mas não gera nenhuma atividade econômica ao Município de Barcelos, apesar de ser oficialmente reconhecido pelo ICMBio como “ótimo para a prática de caminhadas, canoagem e contemplação de suas belezas naturais”. Dentre os chamativos já mencionados do Parque do Jaú, lá encontramos Anamã, o maior lago amazônico
Serra do Aracá
Em situação semelhante e talvez pior, está o Parque Estadual Serra do Aracá, onde encontramos a maior queda d’água livre do Brasil, que é a Cachoeira do Eldorado ou Cachoeira do Aracá, com quase 400 m de altura.
O Parque não possui vigilância, fiscalização ou qualquer tipo de controle de entrada ou saída. De acordo com declarações de diversos moradores de Barcelos e comunidades próximas que pediram para não serem identificados, caçadores profissionais chegam a capturar e abater em média até vinte animais por caçada, como pacas, capivaras, antas, entre outros animais silvestres. Tudo pra atender uma clientela fiel em Manaus, formada principalmente por políticos e empresários.
A extração mineral clandestina, contrabando de plantas (biopirataria) e drogas são ameaças ao Parque que, apesar das constantes ações da Polícia Federal e Exército brasileiro, continuam acontecendo na Serra do Aracá.
Temperatura amena
Com temperatura média anual entre 25 a 28º C, o município apresenta temperatura agradável na maior parte do ano e de acordo com dados do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET – Dados entre 1961 e 2013) seu dia mais quente foi registrado em 7 de novembro de 1978, quando os termômetros marcaram 39,6ºC. Já o dia mais frio foi registrado em 3 de fevereiro de 1989 com temperatura mínima de 10,7º C.
Próximos desafios
Motivados com a possibilidade de novas descobertas científicas, planejamos permanecer dez dias no topo da montanha. Na próxima edição acompanhe nossa partida de Manaus, passando por Barcelos, caminhada até o topo da montanha, o trabalho dos pesquisadores, as belezas naturais.
Fonte: JORNAL A CRÍTICA