Árvore
O Brasil é a maior potência mundial em biodiversidade. As florestas cobrem 56% do território nacional, quase o dobro da média mundial, de 30% de área preservada. Mesmo assim, plantar árvores no País vem se tornando uma ação rentável para empresas que estão fazendo dessa atividade um novo nicho de negócios. É o caso da Florestas Inteligentes, empresa com sede em São Paulo, que nasceu em setembro do ano passado, já investiu R$ 10 milhões e espera fechar 2012 com uma receita cinco vezes maior. “Tiramos dinheiro do próprio bolso para estruturar a Florestas Inteligentes porque acreditamos que plantar árvore vai ser rentável por muito tempo”, diz o administrador de empresas Paulo Franzine. Ele foi o idealizador do negócio criado em parceria com o sociólogo Sérgio Cammarano e o empresário Carlos Alberto Abbondanza. Os três são amigos há 30 anos e atuavam nas áreas de construção civil e logística e no governo.
Tremembé: viveiros de mudas de árvores estão numa área de 7,8 hectares, em torno de um presídio estadual
Mas por que é preciso plantar florestas no Brasil, um país que tem 471,2 milhões de hectares de cobertura vegetal natural? Se comparado aos maiores países produtores de alimentos no mundo, o Brasil ganha disparado o título de guardião das florestas. Nos Estados Unidos, por exemplo, há cobertura florestal em apenas 33% de seu território. Na China são apenas 22% e na vizinha Argentina há apenas 12% de território preservados. O país que mais se aproxima do Brasil, segundo dados do Banco Mundial, é a Rússia, que preserva 49% de sua cobertura florestal. Para Franzine, o nicho promissor de negócios com florestas no Brasil está na atual mudança de cenário do passivo ambiental do País. “Cada vez mais, o Brasil terá de mostrar que cumpre as leis. Com o novo Código Florestal elas serão aplicadas ainda com mais rigor”, diz.
Semear florestas traz mais renda do que desmatá-las.
conheça as empresas que fazem dessa descoberta um negócio milionário
A lei que determina a quantidade de cobertura vegetal nas propriedades rurais não é nova. Desde 2001, em uma das muitas reformulações pelas quais passou o Código Florestal, ficou definido que no bioma amazônico 80% da vegetação nativa das fazendas deveria se manter intacta – no Cerrado são 35% e nos demais biomas, 25%.
Fonte: Banco Mundial – The Little Data Book 2010
“Quem estiver fora desse padrão de conservação, comprovado através da averbação de suas reservas legais, terá que se enquadrar, ou seja, plantar árvores”, diz Franzine. Por isso, para os donos da Florestas Inteligentes plantar árvores não significa apenas reflorestar áreas com eucalipto, teca, seringueira ou qualquer outra espécie comercial. O negócio deles é plantar árvores nativas, como mogno, embuia, ipê, cedro, jacarandá, jatobá, sucupira, curupixá ou qualquer outra espécie, desde que não seja exótica.
Presídio: detentos recebem treinamento e salário
O agricultor Enivaldo Mendes, dono da fazenda Santo Antônio, em São José do Rio Preto, município distante 440 quilômetros de São Paulo, descobriu que precisava plantar árvores há um ano, assim que comprou a propriedade de 343 hectares. “Comprei a fazenda para investir no cultivo de seringueira. Descobri que, além das árvores comerciais, para estar dentro da lei tinha que recuperar 15 hectares de matas nativas”, diz Mendes. O agricultor, que se tornou um dos clientes da Florestas Inteligentes, está gastando R$ 90 mil para recuperar a área. “É pesado para o produtor investir R$ 6 mil por hectare na formação de floresta, mas a cobrança para que se preserve o meio ambiente não vem somente do governo, vem de toda a sociedade.”
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Como produzir com sustentabilidade é regra para ganhar mercado, a Florestas Inteligentes – com 17 projetos no campo – tem avançado para uma área também bastante rentável: o plantio de árvores na cidade. “Em 2012, entre campo e cidade, esperamos atender 200 projetos”, diz Franzine. Para dar conta da demanda, foram construídos em Tremembé, município a 154 quilômetros de São Paulo, dois viveiros em uma área de 7,8 hectares onde são produzidas 100 mil mudas adultas de árvores, por mês, todas com mais de um metro de altura.
Mas a recuperação da vegetação nativa não é uma prerrogativa apenas de Estados que por décadas a fio desflorestaram seus territórios, como é o caso de São Paulo. Rondônia, um Estado que fica totalmente dentro do bioma amazônico – e que por isso nas propriedades rurais é permitido desmatar apenas 20% da área -, também atrai interessados em gerenciar passivos ambientais. Em Jaru, município distante 250 quilômetros de Porto Velho, a empresa Visão Rural tem feito cerca de 70 projetos de recuperação florestal por ano. “No passado, os fazendeiros da região desmataram além da conta. Agora, terão que recuperar suas florestas”, diz Gutto Martins, sócio da Visão Rural. Segundo Martins, nos últimos três anos tem aumentado a demanda por serviços de reflorestamento, georreferenciamento e manejo florestal. “Com a aprovação do Código Florestal, a demanda deve crescer.”
A liberdade é verde
Para produzir mudas de árvores em Tremembé (SP), a Florestas Inteligentes construiu dois viveiros e uma sala de aula no Centro de Progressão Penitenciária Professor Edgard Magalhães Noronha. Os detentos são treinados para cuidar das plantas e, em troca, recebem um salário e a possibilidade de redução da pena. Faz parte do projeto a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), de Piracicaba (SP), que colaborou na metodologia de ensino e é a responsável por ministrar as aulas. “Com isso, o projeto ganhou muito reconhecimento”, diz Paulo Franzine, sócio-diretor da Florestas Inteligentes.
Os governos de Minas Gerais e Santa Catarina iniciaram conversas com os diretores da Florestas Inteligentes para aplicar o modelo de parceria público-privada nesses Estados. “Não fechamos nada ainda porque qualquer parceria deve envolver outros agentes da sociedade, como a Esalq, em São Paulo”, diz.
Gutto Martins: o diretor da Visão Rural, de Rondônia, diz que o País deve lucrar com suas florestas
Em Rondônia, a Lei do Zoneamento Socioeconômico- Ecológico prevê a utilização de 120,3 mil quilômetros quadrados com atividades agropecuárias, agroflorestais e florestais, área eqsuivalente a 50,4% do território. Do total de área para as atividades de campo, 96,2 mil quilômetros quadrados (9,6 milhões de hectares) deveriam permanecer intocados, mas não é isso que ocorre.
“A madeira ajuda a mover a economia local, mas, como em todo o País, as fazendas devem se adequar ao que determina a lei. Muitas desmataram além dos 20% permitidos”, diz Martins.
Neste ano, a Visão Rural começa a construir seu primeiro viveiro de mudas exóticas e nativas em Theobroma, município a 30 quilômetros de Jaru, em uma área de cinco hectares. “A previsão é chegar a 22 hectares de viveiros de mudas, estufas e barracões para insumos e implementos.” Além da estrutura própria, a empresa investe na construção de viveiros nas propriedades a ser recuperadas. São criados viveiros temporários, com o banco de sementes extraído da própria Reserva Legal ou ainda de reservas próximo em recuperação. Para Martins, nas propriedade com o passivo ambiental recuperado, é possível estimular o comércio de produtos legais originados da floresta. “É importante para o País promover a sua regularização ambiental, inibir o comércio ilegal de madeira e também lucrar com a floresta.” Em Rondônia, o custo para recuperar um hectare de mata nativa é de cerca de R$ 4,8 mil.
Fonte: Dinheirorural
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