SÃO PAULO (Reuters) - O dólar fechou com alta de mais de 1 por cento nesta quinta-feira, aproximando-se do patamar de 3,30 reais, com o placar da votação na Câmara dos Deputados indicando menor apoio político a Michel Temer, o que manteve a cautela do mercado mesmo após a segunda denúncia contra o presidente ser barrada
O dólar avançou 1,22 por cento, a 3,2846 reais na venda, depois de bater 3,2898 reais na máxima do dia, renovando as máximas em mais de quatro meses. O dólar futuro era negociado com alta de cerca de 1,55 por cento no final da tarde.
"Estou pessimista quanto à reforma da Previdência, o máximo que pode ser aprovado é uma reforma intraconstitucional", afirmou mais cedo o diretor da Wagner Investimentos, José Faria Júnior.
A Câmara dos Deputados rejeitou a segunda denúncia contra Temer na noite passada, mas sinalizou, com o placar abaixo do esperado pelo governo e a demora de parlamentares da base em marcar presença na votação, que o Planalto deve encontrar dificuldades para tocar sua agenda.
Para analistas ouvidos pela Reuters, de modo geral, o placar da votação agora --251 votos, contra 263 votos na primeira denúncia-- indica o esgotamento do capital político do governo, o que complica o já difícil cenário para aprovação de reformas, como a da Previdência.
O dólar começou o dia bem comportado, com leves variações frente ao real, mas o movimento de alta ganhou tração sobretudo no início da tarde.
"Quando o mercado fica tanto tempo parado quanto ficou nesses últimos meses, um movimento súbito acaba pegando muita gente de surpresa. O que era para ser uma marola acaba virando um tsunami", disse o operador de um banco internacional.
Desde meados de julho, a moeda norte-americana vinha sendo negociada basicamente numa banda entre 3,15 e 3,20 reais. Mas, desde o último dia 19, ela acumula alta de 3,78 por cento, já com ceticismo sobre a cena política.
O cenário externo também contribuiu para o movimento, com expectativa sobre a escolha do novo chair do Federal Reserve, banco central norte-americano.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, vinha dizendo que ainda avaliava três nomes: o diretor do Fed Jerome Powell, o economista da Universidade de Stanford John Taylor e a atual chair do Fed, Janet Yellen.
Taylor é visto como mais conservador pelos mercados e sua escolha pode significar mais altas dos juros pelo Fed. Juros mais elevados nos EUA tendem a atrair para a maior economia do mundo recursos aplicados hoje em outros mercados ao redor do mundo, o que pode resultar em fluxo de saída de capitais do Brasil.
Nesta manhã, no entanto, saíram notícias de que Yellen estaria fora da disputa e, assim, apenas Powell e Taylor estariam no radar ainda de Trump.
Para alguns analistas, o dólar já pode ter mudado de patamar frente ao real. "A gente viu que vai ter realmente esse novo momento de corte de impostos (nos Estados Unidos), então provavelmente vai ficar um pouco mais alto mesmo o dólar", afirmou o economista da corretora Renascença, Marcos Pessoa.
Fonte: Reuters
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