Mas qual a origem dessa fumaça icônica, constantemente retratada em filmes, como "Taxi Driver", de Martin Scorsese?
O que se vê ao andar nas ruas de Nova York é somente a ponta do iceberg de um fenômeno muito maior.
Trata-se do mesmo vapor que viaja mais discretamente por túneis e tubulações de edifícios emblemáticos da cidade, como o Empire State Building, o terminal da Grand Central e a sede das Nações Unidas.
A "fumaça" também é usada para diferentes finalidades nos hospitais, museus, lavanderias e até queijarias.
Nova York possui um sistema de vapor único, com 169 km de tubos subterrâneos, que é um dos maiores do mundo em escala urbana.
Sem essa rede de vapor, quem sabe até a silhueta da cidade, que combina antigos e modernos arranha-céus, seria diferente: "Nunca teriam construído esses edifícios, porque não seria possível aquecê-los", afirma Dan Hologan, autor de 22 livros sobre o tema.
Mais de 130 anos
O sistema de vapor nova-iorquino data da década de 1880 e seu primeiro cliente foi o edifício United Bank, na esquina de Wall Street, que o utilizava como fonte de energia para os elevadores.
Atualmente, a rede chega a 1.650 clientes ou edifícios de Manhattan, segundo dados proporcionados pela Con Edison, a companhia que opera o sistema, com quatro estações de vapor e duas que geram vapor e eletricidade ao mesmo tempo.
O que surge na superfície das ruas de Nova York são as infiltrações desse vapor, que corre pelo subterrâneo da cidade e se dissipa por bueiros e chaminés instaladas especialmente para evitar que a fumaça afete a visão dos transeuntes e condutores.
"São infiltrações nas tubulações que precisam ser reparadas", explica Allan Dury, porta-voz da Con Edison. "Não é perigoso, não é necessário pressa", assegura.
O sistema é utilizado principalmente para garantir calefação, ar-condicionado e água quente aos edifícios. Mas o vapor de Nova York também é usado para cozinhar ou limpar pratos em restaurantes, umidificar salas de museus, passar roupas em lavanderias e esterilizar materiais de hospitais.
"O vapor é muito valioso para os queijeiros. Necessitamos de muita energia para a pasteurização e também para aquecer o tanque de fermentação, enquanto fazemos o queijo", diz Jon Gougar, queijeiro da empresa Beecher, que tem uma produção no centro de Manhattan.
Graças ao sistema de vapor "podemos operar em um espaço bem menor e fazer queijo em área urbana, o que não é usual", afirmou
Explosões
Nas décadas passadas, houve algumas explosões fatais de tubulações de vapor. Uma das delas matou, em 1989, três pessoas (incluindo dois operários da Con Edison que estavam em serviço), no bairro Gramercy Park.
Outra, em 2007, deixou um morto e dezenas de feridos perto do terminal Grand Central, assim como uma gigantesca nuvem de vapor no meio de Manhattan.
O que causou esta última explosão tem sido motivo de controvérsia nos tribunais, com acusações a uma empresa do Texas que havia reparado a tubulação e à empresa Con Edison.
"Houve múltiplos pedidos de reparação naquela localidade, sabiam que havia problemas", disse Rick Rutman, um advogado que representou vítimas do acidente.
A Con Edison já pagou milhões de dólares em compensações a quem sofreu danos e assegura que recentemente iniciou um monitoramento remoto de seu sistema de vapor.
"Continuamos estudando mudanças nos procedimentos e melhorias nos equipamentos que possam aumentar ainda mais a segurança", disse Drury, porta-voz da Con Edison.
A empresa passou recentemente a prestar serviços para um novo cliente importante, o 432 Park Avenue, um dos arranha-céus mais altos de Manhattan.
Mas admite que a tendência "tem sido de leve queda" na quantidade de clientes, algo que contribui, entre outras coisas, ao baixo preço relativo do gás natural.
Contudo, o uso de vapor para calefação em Nova York vai além da rede subterrânea- boa parte dos edifícios usam caldeiras nos sótãos para produzir seu próprio valor, explica Dan Holohan, autor de 22 livros sobre o uso de vapor em NY.
Ele avalia que mudar a forma de calefação dos edifícios antigos seria um despropósito.
"Às vezes ouço as pessoas dizerem que é preciso se desfazer de tudo isso. E o que vamos fazer com o Empire State Building?" questiona.
"Não é possível adotar um serviço de calefação mais eficiente nesse edifício", assegura.
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