Brumadinho sente efeitos colaterais de Inhotim
Uma série de demissões colocou sob suspense a pequena cidade de Brumadinho, município da Grande Belo Horizonte, a 60 quilômetros da capital. Esses desligamentos não vieram das empresas de mineração, o setor econômico que responde por 90% da economia do município, mas do que hoje é considerado o orgulho da cidade, o Instituto Inhotim, um dos maiores centros de exposição de arte a céu aberto do mundo.
Com as demissões, e as consequentes suspeitas sobre crise financeira no instituto, políticos locais, donos de pousadas e restaurantes passaram a temer a possibilidade de, no futuro, com o fim da atividade de mineração, conseguir outra fonte de recursos para a cidade. “Não há mais como pensar Brumadinho sem o Inhotim”, afirma o secretário municipal de Turismo e Cultura, Marcos Paulo Amabis.
Segundo o secretário, de quatro anos para cá, o quadro de funcionários de Inhotim foi reduzido pela metade. O motivo foi a crise econômica no País. Segundo os últimos relatórios financeiros tornados públicos pelo instituto, a captação de recursos via patrocínio e convênios de Inhotim caiu de R$ 17,9 milhões em 2015 para R$ 14 milhões em 2016.
O diretor-executivo de Inhotim, Antonio Grassi, afirma que em 2017, até novembro, o montante foi de R$ 13,9 milhões. Conforme informações do instituto, o total de demissões em 2017 foi de 124. O número, ainda segundo o instituto, engloba também pedidos de demissão. O quadro hoje é de 600 funcionários, entre diretos e indiretos. “As demissões fizeram parte de um processo de adaptação do Inhotim, uma instituição cultural sem fins lucrativos, à realidade brasileira”, justifica Grassi.
Concomitantemente ao atual cenário financeiro de Inhotim, seu idealizador, Bernardo Paz, foi condenado a nove anos e três meses de prisão por lavagem de dinheiro em empresas que possuía no setor de mineração. Na última segunda-feira, Paz deixou a presidência do conselho de administração do instituto. Em seu lugar, assume um economista, Ricardo Gazel.
Responsável por uma pousada em Brumadinho, Paula Moreira afirma que 90% de seus hóspedes vão para a cidade por causa de Inhotim, e que, no último mês, registrou queda de 40% no movimento. “Estamos oferecendo desconto de 10% para ver se melhora”, afirma Paula. “Existem muitas dúvidas sobre Inhotim. Tem gente que liga e pergunta se ele vai ser fechado”. Os preços de diárias oscilam entre R$ 150 e R$ 400 por casal.
O empresário Marcio André Rodrigues, 42 anos, proprietário de um dos maiores restaurantes de Brumadinho, afirma que o Inhotim não é o responsável pela maior parte de sua clientela. Porém, conta que, há cerca de 10 anos, com o instituto, 30% dos frequentadores de seu estabelecimento são de pessoas de cidades mais distantes e outros países, que vão à cidade por causa de Inhotim. O percentual poderia ser maior, no entanto, restaurantes dentro de Inhotim acabam fazendo concorrência com os que ficam na cidade. “As pessoas ficam dentro do instituto e se alimentam por lá”, diz. O empresário também afirma que houve redução no movimento, o que atribui à crise.
Funcionários do Inhotim evitam falar sobre os problemas pelos quais passa o instituto. Nas poucas vezes em que falam, sob anonimato, atribuem a situação à crise e afirmam não haver relação entre os negócios de Paz e o Inhotim. “É importante separar as questões de âmbito pessoal de Bernardo Paz e suas empresas”, diz Grassi.
Para encontrar uma saída que melhore o cenário financeiro, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), via Inhotim, realiza um levantamento sobre outros potenciais econômicos de Brumadinho. Três reuniões já foram realizadas, envolvendo empresários locais e a prefeitura. A última, há cerca de um mês. “Quem vem à cidade fica em média dois dias. Queremos que fique quatro dias, uma semana. Para isso, é preciso explorar outras atrações, além de Inhotim”, diz Pedro Henrique da Silva, turismólogo da prefeitura. Entre os pontos que na avaliação do município poderiam atrair turistas estão uma rampa para paraglider e asa delta.
Sobre uma possível crise no Inhotim, o diretor-executivo do instituto afirma que “instituições culturais dificilmente são financeiramente sustentáveis”. “É necessário buscar patrocínios anualmente. Desde o início da crise econômica brasileira, o instituto vem se adaptando, sem perder a qualidade dos serviços ofertados. Nesse processo, é preciso focar na essência do instituto, que é promover o desenvolvimento humano por meio do amplo acesso a seus acervos artístico e botânico”.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Diário da Região
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