Está difícil fazer a galinha voar
Tristemente reconhecido mundialmente como a economia dos vôos de galinha, o Brasil tem conseguido decepcionar até mesmo aqueles que esperavam a manutenção da nossa velha trajetória econômica de vôos de curta distância e baixa altura.
A galinha consegue pelo menos dar um bom salto nos primeiros instantes de seu vôo, mas nem isso estamos conseguindo mais replicar. A decolagem da nossa economia parece desnorteada, sem plano de vôo. Continuamos à espera de empurrões (benefícios) e quando não tem colheita na fazenda, o desespero aumenta.
O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) deu um banho de água fria nesta sexta-feira ao anunciar que o PIB (Produto Interno Bruto) do terceiro trimestre deste ano expandiu 0,1% frente ao trimestre anterior. O crescimento paupérrimo ainda é louvado por alguns integrantes do governo, pois nos salvou de um vexame ainda maior de retração no trimestre.
O número é ridiculamente baixo não somente para um país de porte emergente, mas para qualquer economia, independente de sua categoria, pois diante de um ambiente positivo e de elevada liquidez no mercado financeiro mundial, com vários países trabalhando dentro de um bom ritmo de expansão, espera-se, no mínimo, que uma economia seja puxada pelo resto do planeta ou ao menos tente acompanhar o ritmo.
A pesquisa do IBGE mostrou uma retomada econômica, que mal começou, já perdendo impulso. No primeiro trimestre de 20117 o Brasil cresceu 1,3% na comparação com o trimestre anterior. No segundo trimestre deste ano a expansão foi de apenas 0,7%, mesmo com medidas de impulso artificiais, como a liberação de saques do FGTS.
O vilão do resultado decepcionante deste terceiro trimestre recaiu sobre a agropecuária, não por ironia considerada a grande heroína do resultado do primeiro trimestre. Ou seja, quando tem colheita na fazenda, a economia vai bem. Quando não tem colheita, temos de suar para ganhar uns trocados.
Alguns analistas ressaltam que a FBCF (Formação Bruta de Capital Fixo) foi um ponto positivo do resultado terceiro trimestre deste ano. De fato, a FGCF subiu 1,6% em relação ao segundo trimestre de 2017, mas a base é muito baixa. Para uma taxa de investimento que está na lona, 1,6% a mais não representa quase nada. Mesmo com a alta deste terceiro trimestre, a taxa de investimento ficou em 16,1% do PIB, muito distante da média de países emergentes em torno de 30% PIB.
O fato é que parece difícil enxergar pontos positivos quando não se olha para a agropecuária. No acumulado dos três primeiros trimestres deste ano, o Brasil cresceu “incríveis” 0,6%, ante igual período de 2016. A indústria encolheu 0,9% e os serviços 0,2%. A agropecuária cresceu 14,5%, o único segmento que registra expansão acumulada no ano.
Não fosse a agropecuária, mais especificamente a supersafra de grãos de 2017, o Brasil ainda estaria em período recessivo. Somente a safra de milho deve crescer 54,9% neste ano, segundo projeções do LSPA (Levantamento Sistemático da Produção Agrícola). É possível imaginar que o país dos vôos de galinha só conseguiu sair da recessão porque vendeu muito milho.
Para fechar a semana azeda, temos de engolir o upgrade na Argentina. Nesta sexta-feira a agência de classificação de risco Moody’s elevou o rating dos hermanos de B3 para B2, com perspectiva estável, destacando as reformas macroeconômicas do governo Macri. A nota da Argentina ainda está abaixo da brasileira, mas a diferença diminuiu para três degraus.
Enquanto os argentinos comemoram o upside no rating soberano, mantendo trajetória ascendente, nós brasileiros, em trajetória descendente, cruzamos os dedos para não levarmos mais um downgrade. Merecido o upside argentino que de fato tem conseguido fazer reformas estruturantes relevantes, algo diferente do que se costuma chamar de reforma aqui no Brasil.
Fonte: Jornal ADVFN
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