Se você entrar em qualquer loja da cadeia de joalherias Michaels Jewelers, do norte de Connecticut, para dar uma olhada nos brilhantes para presente, pode não notar qualquer diferença nas pedras; desde o final do ano passado, porém, os clientes perceberam que havia uma opção nada comum: diamantes provenientes do solo ou da superfície.
Um dos materiais mais duros do mundo, ele se forma a partir de milhões de anos de pressão geológica e deve ser extraído de minas nas profundezas da terra. Esse processo de trabalho intensivo, juntamente com um controle rígido da indústria e do marketing que dá a ideia da raridade e do fascínio, eleva seu preço.
Só que a versão de superfície não é uma imitação, como a zircônia cúbica ou a moissanita; são pedras que têm as mesmas propriedades químicas do diamante, mas foram feitas em laboratório.
Nos últimos cinco anos, a qualidade dos diamantes sintéticos – cuja produção começou na década de 1950 para uso industrial, como corte e polimento – aumentou a ponto de chegarem a joalherias, enfeitando anéis, colares e brincos.
Na Michaels Jewelers, essas pedras são vendidas com um rótulo branco, o Treasure Chest Grown, para distingui-las dos brilhantes naturais da mesma coleção. A cadeia de joias compra os diamantes da Pure Grown Diamonds, empresa de Nova Jersey que, por sua vez, tem a produção na Ásia.
Os brilhantes "cultivados" – um termo que a Associação de Produtores de Diamante contesta, dizendo ser enganosa – custam ao consumidor de 30 a 40 por cento menos que os naturais.
Assim, não é surpresa que empresas como a De Beers, a Rio Tinto e outros membros da associação tenham feito uma denúncia, dizendo que os diamantes de laboratório não são autênticos. Os fabricantes das pedras sintéticas, por outro lado, promovem os benefícios ambientais de seu processo, na esperança de atrair os millennials, mais preocupados em serem verdes e em poupar do que embarcar na ideia de que "um brilhante é para sempre".
Porém, talvez os compradores desses diamantes sintéticos, particularmente os que tentam conseguir mais por menos, acabem perdendo no final.
Os primeiros foram criados na década de 1950 para usos industriais por empresas como a General Electric; só atingiram a qualidade de pedra preciosa nas décadas de 1970 e 1980, o que começou com brilhantes coloridos.
Tom Moses, que supervisiona os laboratórios e faz pesquisa no Instituto Americano de Gemologia, disse que só nos últimos cinco anos os produtores de diamantes sintéticos começaram a criar pedras que poderiam competir com diamantes naturais – e enganar quem as comprava.
Não há diferença a olho nu, e muita gente envolvida no comércio de diamantes diz que os consumidores estão sendo enganados.
"Dizer que são a mesma coisa que diamantes do ponto de vista econômico é quase como fraudar o público consumidor", disse Tom Gelb, um dos fundadores do Laboratório de Durabilidade de Diamantes e consultor da indústria.
Gelb aposta na queda do valor dos diamantes sintéticos com a queda dos custos de produção. É a raridade de uma pedra preciosa, diz ele, que mantém seu valor. Se o preço for o problema, ele sugere a compra das imitações, como a zircônia cúbica: "Se pode comprar por US$25, então por que pagar US$3.500 por um diamante sintético?".
Mas nem todos os designers de joias concordam com o argumento da raridade.
"Os diamantes são um produto rigidamente controlado em termos de prospecção e marketing. Não considero a maioria rara e incomum, exceto aqueles realmente únicos, cuja cor natural pode ser verde, vermelha, rosa, roxa e amarela", disse Jeffrey D. Feero, sócio-diretor da Alex Sepkus, que cria joias sofisticadas.
Mesmo não levando esse argumento em consideração, há duas áreas principais onde os compradores podem ser prejudicados financeiramente: a primeira é a capacidade de revenda dos diamantes sintéticos. Uma das ideias da compra de pedras preciosas é que sejam uma fonte de riqueza.
Isso vale principalmente para os diamantes grandes e raros, como também rubis ou safiras. Mas os pequenos brilhantes, como os usados em anéis de noivado, são amplamente disponíveis, o que torna sua compra mais acessível, mas o que geralmente faz com que o preço pago por eles na loja não se mantenha na revenda.
"Talvez 2, 3, até 4 por cento dos brilhantes têm a chance de ver seu preço subir ao longo do tempo", disse o comerciante da pedra Alan Bronstein, presidente do grupo comercial Associação de Diamante de Cor Natural.
Isso não é uma grande vantagem para os diamantes naturais, mas sempre há um comprador disposto a pagar um determinado preço. Bronstein disse que não existe mercado secundário para os brilhantes sintéticos, em grande parte porque os comerciantes não querem saber deles.
"A pessoa pensa que está fazendo um bom negócio ao comprar um diamante sintético, mas o desconto de que se beneficia não vale nada, se pensarmos que talvez ela não seja capaz de recuperá-lo em uma eventual revenda."
O segundo risco, porém, é que um alguém pode comprar o brilhante sintético acreditando que seja natural. Feero, que afirma usar apenas pedras naturais, disse estar preocupado com as falsificações, porque a qualidade dos diamantes sintéticos melhorou sensivelmente.
"Não tenho nenhum problema com pedras preciosas criadas em laboratório, mas sim com a falta de divulgação. A honestidade pode ser o ingrediente crucial."
O Instituto Americano de Gemologia e outros grupos criaram ferramentas para distinguir os dois tipos de brilhantes.
Kelly Good, diretora de marketing da Pure Grown Diamonds, disse que a empresa joga aberto, marcando a laser cada diamante para mostrar que foi produzido em laboratório. Ela afirma que os brilhantes sintéticos têm valor, e encorajou os compradores a fazer seguro, como fariam se a pedra fosse natural.
"Não é que você pode ligar uma máquina e produzir diamantes ininterruptamente. É preciso muito dinheiro para produzi-los. Não é barato manter um laboratório desses funcionando, e seu produto também não é", disse ela.
James Shigley, chefe de pesquisa no Instituto de Gemologia, revelou que o risco mais comum para os consumidores está nos pequenos brilhantes, conhecidos como melee, que são usados para dar contraste às joias. "Eles são difíceis de testar. Milhares deles podem ter poucos quilates."
Existem máquinas para testá-los, mas os compradores se preocupam que alguém poderia misturar pequenas pedras sintéticas com brilhantes de verdade, fazendo-os passar despercebidos.
Mark Michaels, executivo-chefe e quinta geração de proprietários da joalheria que leva seu nome, disse que sua empresa começou a vender as pedras sintéticas em setembro, com cautela. Ele não estava preocupado com os brilhantes sintéticos sendo confundidos com os naturais porque sua empresa mostra claramente qual é qual, mas se preocupa que as opções mais baratas poderiam canibalizar as vendas dos brilhantes naturais.
Porém, na temporada de fim de ano, mais da metade das vendas de sintéticos em suas lojas foi feita a pessoas que não poderiam comprar um diamante de outra forma. E a maior parte do restante era de gente que tinha um orçamento definido e que optou por um brilhante sintético maior.
Essa é a mudança que os produtores de diamantes temem agora. Mas, no futuro, isso pode significar menos – ou nenhum – valor para o proprietário do brilhante.
Por Paul Sullivan
Fonte: Negócios

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