segunda-feira, 30 de abril de 2018

Nestlé deixa o negócio de água mineral engarrafada no Brasil


Nestlé deixa o negócio de água mineral engarrafada no Brasil

Em uma decisão que faz parte de uma estratégia de reposicionamento no mercado nacional, a Nestlé Brasil confirmou no fim de março a venda total de seu negócio de água mineral engarrafada no país para o grupo brasileiro Edson Queiroz.
A divisão Nestlé Waters Brasil será repassada integralmente aos novos donos, que compraram também as cinco fábricas responsáveis pela produção e engarrafamento das marcas comercializadas pela empresa de origem suíça no Brasil.
O valor do negócio é mantido em sigilo por ambas as empresas, mas, segundo especulações do mercado, pode ter atingido nove dígitos. Além de adquirir as fábricas responsáveis pela produção e distribuição das duas principais marcas nacionais da Nestlé – as águas Petrópolis (sem gás) e São Lourenço (gasosa natural) – o Grupo Edson Queiroz, pelo acordo firmado, recebeu concessão de longo prazo para distribuir também a marca Nestlé Pureza Vital, que continuará no mercado com o mesmo nome, e as marcas internacionais Perrier, Saint-Pellegrino e Acqua Panna, atualmente distribuídas no Brasil pela Nestlé.
A confirmação do negócio impactou o mercado, pois, desde que a Nestlé anunciou há nove meses sua intenção de se desfazer da divisão de águas no Brasil, outros candidatos de peso à compra haviam surgido, entre empresas e fundos de investimento nacionais e estrangeiros. A decisão, entretanto, recaiu sobre o Grupo Edson Queiroz, que produz e distribui as marcas nacionais Minalba e Indaiá e é líder do mercado brasileiro de água mineral engarrafada com cerca de 11% de participação. Agora a posição do grupo brasileiro deve melhorar ainda mais, atingindo, segundo previsões do mercado, uma fatia de cerca de 13%.
A Nestlé Waters Brasil, por sua vez, detém somente 2% de participação no mercado nacional, por isso, segundo a empresa, a divisão de água mineral engarrafada no país deixou de ser uma prioridade estratégica para o grupo suíço: “O negócio faz parte de um reposicionamento global da empresa, que decidiu manter seus negócios de águas apenas em mercados onde tem posição de liderança e capilaridade de distribuição”, disse a direção da Nestlé Brasil, por intermédio de sua assessoria, à swissinfo.ch.
“Foi uma decisão estratégica, levando em conta a necessidade de capilaridade do negócio, considerando, principalmente, a extensão territorial do Brasil. Nossa presença e distribuição não garantiam as melhores oportunidades de desenvolvimento para nossas marcas”, afirmou a empresa.
A escolha do comprador, segundo a direção da Nestlé, também faz parte desse reposicionamento estratégico: “Tomamos essa decisão por ter encontrado no Grupo Edson Queiroz e nas marcas Indaiá e Minalba a sinergia adequada para o desenvolvimento contínuo do potencial de águas no país e o compromisso de fazer negócios alinhados com nosso princípio fundamental de ‘Criar Valor Compartilhado’, impactando positivamente a sociedade”.

Setor em expansão

De acordo com um estudo de mercado publicado este ano pela empresa internacional de consultoria Euromonitor, o setor de água mineral engarrafada no Brasil em 2017 movimentou R$ 24 bilhões com a comercialização de 10,3 bilhões de litros. Esses resultados representam um crescimento de 12,9% nas receitas e de 3,7% no volume de vendas, na comparação com o ano anterior. Para 2018, segundo o estudo, a expansão do setor deve continuar, com previsão de crescimento de 5,9% nas receitas e de 3,3% no volume de vendas.
Com a compra do negócio de águas da Nestlé Brasil e a obtenção dos direitos de distribuição de prestigiadas marcas internacionais no país, o Grupo Edson Queiroz, além de se consolidar como líder nacional, pretende fortalecer seu nome no mercado global, onde ocupa o lugar de sétima maior empresa de água mineral: “As marcas da Nestlé Waters Brasil, reconhecidas e respeitadas em todo o mundo, incrementarão o nosso portfólio de águas minerais e bebidas prontas, colaborando para o fortalecimento da nossa relação com os consumidores”, afirmou, em nota à imprensa, Abelardo Gadelha Neto, que é presidente da empresa brasileira.
As cinco fábricas que pertenciam à Nestlé Waters Brasil são localizadas nas cidades de São Lourenço (MG), Perus (SP), Santa Bárbara (SP), Petrópolis (RJ) e Vale do Sol (RJ). Nestas unidades trabalham atualmente 289 pessoas, e o acordo de venda firmado com o Grupo Edson Queiroz inclui a garantia de que ninguém será demitido: “Todos os colaboradores serão transferidos para a nova empresa, onde certamente poderão contribuir com as estratégias de crescimento e aceleração dos negócios na Indaiá/Minalba no Brasil”, disse à swissinfo.ch a direção da empresa de origem suíça.

Dor de cabeça

Além de readequar as prioridades da Nestlé no Brasil, deixar o negócio de águas engarrafadas significa para a empresa se livrar de uma dor de cabeça. A Nestlé sempre foi alvo de críticas por parte de organizações do movimento ambientalista nacional e internacional, que a acusavam de explorar acima da capacidade e exaurir os mananciais históricos de São Lourenço.
A direção da empresa nega que este fato tenha influenciado na concretização do venda: “Não, de forma alguma. As críticas sempre existirão, em qualquer atividade ou negócio. O legado que a companhia deixou na região, no entanto, é inquestionável. Desde a aquisição do negócio de águas no Brasil e da marca São Lourenço pela Nestlé, em 1992, a empresa assumiu também o Parque das Águas de São Lourenço e realizou uma série de melhorias no local, que integra o Circuito das Águas”.
Negócio familiar
Fundado em 1951, o Grupo Edson Queiroz é líder do mercado brasileiro de água mineral engarrafada, mas também é um conglomerado empresarial com atuação destacada nos setores de agronegócio, gás, tintas e eletrodomésticos. Atualmente, o grupo conta com 182 unidades e cerca de 12 mil funcionários em todo o país. Com a aquisição da divisão de águas da Nestlé Brasil, atinge 13% de fatia no mercado, e seus principais concorrentes no setor, com desempenho bem inferior, são Coca-Cola (com 3,5% do mercado), Pepsico (3%) e Danone (2%).
Fonte: Swissinfo

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