segunda-feira, 9 de abril de 2018

Preço alto do lítio pode tornar Portugal em potência dos carros elétricos


Preço alto do lítio pode tornar Portugal em potência dos carros elétricos

É à quinta-feira que Martim Facada define o preço do lítio. Quando não anda pelas minas da Bolívia, é no escritório da Industrial Minerals em Londres que o analista português contacta produtores e consumidores, até chegar ao valor que a cada semana serve de referência em todo o mundo. Hoje, o quilo do carbonato de lítio, aquele que é usado nas baterias, ronda os 23,30 dólares.
Um preço “alto”, segundo o especialista, que Portugal pode aproveitar. “Portugal ainda está numa fase júnior na exploração de lítio, mas tem muito potencial”, sublinha em entrevista ao DN/Dinheiro Vivo o market reporter e analista do grupo Metal Bulletin, a agência mais antiga do mundo que publica o preço de quase quatro mil minerais e metais cotados e não cotados nas bolsas. A prova desse potencial está nos mais de 40 pedidos de licenças de exploração que o Governo já recebeu. Mas nem tudo é fácil nesta corrida ao ouro do século XXI. Entre o desejo e a concretização podem passar “à vontade” mais de dez anos.
O que por vezes afasta os investidores interessados no lucro rápido. Na melhor das hipóteses, Portugal começará a produzir a matéria-prima para os compostos de lítio usados na indústria automóvel no final de 2019. É essa a meta da Savannah Resources, uma empresa britânica que está a explorar uma mina em Trás-os-Montes. “Depois de se começar a produzir o spodumeno de lítio, com cerca de 5% ou 6% de conteúdo de lítio, ainda é preciso vender o material para fábricas de produção de compostos de lítio usados em baterias, se a empresa que explora não tiver a sua própria fábrica”, explica o analista.
É aqui que Martim Facada acredita que Portugal se pode posicionar. “Com os preços altos, os investidores estão interessados em aplicar alguns milhões no desenvolvimento de uma mina para depois, por exemplo, assinarem um contrato com fabricantes automóveis, como a BMW, Volkswagen, Mercedes ou Renault, e venderem em exclusivo os derivados de lítio com grau bateria. A Toyota fez isso com a Orocobre da Argentina. Se houver um acordo entre uma empresa que explore lítio em Portugal com uma fabricante automóvel, poderá depois ser possível construir fábricas no país, algo que temos visto na indústria nos últimos anos”, destaca o analista. Mas para aqueles que acreditam que o lítio será o petróleo português, Martim Facada aconselha a pôr um travão no entusiasmo. “Dizer que o lítio pode desenvolver a economia e industrializar o país é um exagero. Não é por ter uma matéria-prima que vale muito que um país é rico.
No caso do lítio, se for estabelecida uma indústria de extração e de produção de carbonato e hidróxido de lítio, isso vai criar emprego qualificado e desenvolver as regiões em torno das minas. Mas não vai fazer de Portugal uma economia rica”, esclarece o analista. A febre do lítio surgiu há cerca de dois anos, quando o preço do mineral mais do que triplicou, de 7 para 27 dólares. O trampolim veio da China e do seu plano de descarbonização. A produção de carros elétricos cresceu 200% entre o primeiro trimestre de 2017 e o período homólogo de 2018, o que mantém a procura por compostos de lítio muito acima da oferta, fazendo com que o preço se mantenha em níveis historicamente altos, acima dos 20 dólares no mercado chinês, onde se produzem mais de 60% das baterias a nível mundial. A Europa já parte atrasada na corrida, admite Martim Facada, mas ainda vai a tempo de apanhar o comboio.
“Os grandes produtores vão continuar a ser chineses, mas a Europa já está a acordar e o mercado vai ganhar relevância. França e Alemanha tomaram medidas no ano passado, o que é bom para Portugal, porque está próximo dos consumidores”, sublinha. Portugal está no top dez mundial das reservas de lítio, que estão estimadas em 60 mil toneladas métricas. No mês passado, o secretário de Estado da Energia, Jorge Seguro Sanches, revelou que este ano as licenças de prospeção vão passar a ser leiloadas. O lítio já é explorado em Portugal há décadas, mas o seu uso tem sido quase exclusivo na indústria cerâmica.
Fonte: Dinheiro Vivo

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