terça-feira, 29 de maio de 2018

Ação coletiva pede que exploração de bauxita no Pará seja suspensa

Ação coletiva pede que exploração de bauxita no Pará seja suspensa




Foto da lavra de bauxita na Hydro Paragominas/João Ramid/Norsk Hydro
A Associação dos Caboclos, Indígenas e Quilombolas da Amazônia (Cainquiama), de Barcarena (PA), ajuizou ação coletiva à Justiça federal para que seja suspensa a exploração de bauxita da empresa Mineração Paragominas S/A, que pertence ao grupo norueguês Norsk Hydro.
A mina, denominada Miltônia, fica em Paragominas, na região sudeste do Pará.
Ismael Moraes, advogado que representa a Caiquiama, afirma a petição se baseou na pesquisa científica do Instituto de Geociências do Laboratório de Geoquímica da Universidade Federal do Pará (UFPA), que aponta a existência de “substâncias radioativas e altamente contaminantes encontradas junto à bauxita”.
“A ação então pede que seja paralisada a mina até que a Hydro, através de financiamento de pesquisas científicas, comprove que a Hydro tenha como neutralizar essas substâncias no refino da bauxita”, explica.
Em nota, Mineração Paragominas e Alunorte, ambas empresas de capital do governo norueguês, dono de mais de 50% da empresa Norsk Hydro, afirmam que são “improcedentes” os argumentos apresentados em ação judicial movida pela Caiquiama.
As empresas afirmam que o estudo apresenta, na verdade, “uma descrição geológica de como a bauxita foi formada na região” e não apresenta relação “entre a caracterização da bauxita e impactos na saúde humana”.

Terceira petição coletiva

Moraes explica que petição em medida cautelar solicita que o Judiciário determine que a Agência Nacional de Mineração e o Ministério das Minas e Energia suspendam a portaria de lavra que autoriza a Mineração Paragominas a explorar a jazida.
Esta é a terceira petição coletiva ajuizada pela associação contra a empresa Hydro. De acordo com o advogado da Cainquiama, a primeira foi movida em 2017 e pediu “a interdição da bacia de rejeitos DRS2, justamente a bacia de rejeitos de onde houve o vazamento em fevereiro de 2018”.
Após os vazamentos de efluentes químicos em Barcarena, a segunda ação coletiva foi ajuizada em março deste ano para que a Hydro custeie exames laboratoriais para moradores atingidos pela contaminação. A Justiça do Pará acatou a ação e determinou que os exames sejam realizados em 300 pessoas para amostragem.

Dona do ciclo

A mina Miltônia, segundo informações da Hydro, apresenta “capacidade de lavra de aproximadamente 10 milhões de toneladas métricas anuais” de bauxita.
Ainda de acordo com a empresa, a bauxita é lavada, triturada e transportada por meio de um mineroduto –uma tubulação de 244 quilômetros– que leva o produto até Barcarena para ser refinado em alumínio pela Hydro Alunorte. Daí, a bauxita é transportada para produtores de alumínio no Brasil e em outras partes do mundo.
Em 2016, a Hydro comprou ações remanescentes da Vale na Mineração Paragominas S.A, tornando-se 100% proprietária. De acordo com matéria publicada no site Nexo, a empresa já havia comprado ativos da Vale em 2010 que incluíam a Alunorte, as jazidas de bauxita em Paragominas e a Albras, fabricante de alumínio.
Com as aquisições, a empresa norueguesa se tornou dona de toda a produção do ciclo de alumínio do país.

Relembre o vazamento em Barcarena

– 17/02 | Moradores denunciam vazamento de rejeitos químicos de bacia da Hydro Alunorte. A empresa tentou negar o ocorrido.
– 18/02 | Inspeção de órgãos estaduais e municipais descobrem tubulação clandestina que jogava água vermelha direto no meio ambiente.
– 22/02 | O Instituto Evandro Chagas (IEC) confirma a contaminação do meio ambiente por efluentes químicos.
– 23/02 | MP e MPF pedem embargo imediato da bacia de rejeitos da empresa e recomendam fornecimento de água para as comunidades diretamente afetadas pelo vazamento.
– 28/02 | Justiça do Pará determina que Hydro Alunorte reduza a produção industrial em 50% e embarga uma das bacias de rejeitos químicos.
– 09/03 | Força tarefa do MP e MPF encontram uma segunda tubulação clandestina de despejo de efluentes sem tratamento no rio Pará.
– 22/03 | Justiça do Pará determinou que a Hydro Alunorte pague despesas de 17 tipos de exames para moradores atingidos pelo derramamento de rejeitos químicos.
– 30/04 | Justiça Federal mantem decisão que reduz operação parcial da Hydro Alunorte.

Fonte: Brasil de Fato

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