Commodities sustentam Ibovespa no azul em 2018
A alta do Ibovespa em 2018 está mais ligada a movimentos globais e não a perspectivas otimistas para a economia brasileira, com menos de um terço das ações que compõem a carteira apresentando desempenho melhor do que o índice, grande parte delas de companhias de setores ligados a commodities. Até o fechamento desta quarta-feira, o índice de referência do mercado acionário brasileiro acumula alta de 13,3 por cento. Das 67 ações que compõem o Ibovespa, contudo, apenas 21 tinham valorização superior a do indicador, com Petrobras, a fabricante de papel e celulose Suzano e a mineradora Vale entre os destaques.
Os estrategistas do BTG Pactual Carlos Sequeira e Bernardo Teixeira destacaram que, desde a máxima em 26 de fevereiro (87.652 pontos) até o fechamento da véspera, o Ibovespa acumulava queda de 2,9 por cento. “Se excluirmos a forte performance das ações com peso significativo no índice da Petrobras e da Vale, o índice da bolsa brasileira caiu 7,7 por cento”, escreveram em relatório a clientes.
No ano até a véspera, as ações ordinárias da Petrobras acumulam elevação de 87 por cento e os papéis preferenciais sobem 70 por cento. Vale avança 40 por cento. A ponta positiva é liderada por Suzano, com elevação de quase 140 por cento.
De acordo com gestores e estrategistas ouvidos pela Reuters,esse quadro reflete principalmente a alta dos preços de commodities, como petróleo, minério de ferro e celulose, mas também a valorização do dólar ante o real, que segue um fortalecimento global da moeda norte-americana, na esteira de expectativas sobre os juros dos Estados Unidos.
Eventos específicos dessas empresas ajudaram a impulsionar as ações, como a mudança na política de preços no caso da Petrobras e a fusão da Suzano com a Fibria, que criou a maior fabricante de celulose de mercado, disse o estrategista de renda variável para o Brasil do Itaú BBA, Luiz Cherman.
O setor de commodities ainda tem um peso relevante na composição do Ibovespa. Na carteira teórica do índice em vigor até agosto, as ações da Vale detêm a maior participação, de 11,36 por cento. Vale, Petrobras e Suzano detêm juntas mais de 20 por cento do Ibovespa.
Ações mais sensíveis à economia doméstica, por sua vez, têm em tido desempenho abaixo do Ibovespa, diante da retomada mais lenta do que a esperada da atividade para a economia brasileira.
“A economia começou a decepcionar nos últimos meses”, disse Cherman, destacando que vem aumentando a divergência entre o comportamento das ações ligadas a commodities das demais. Segundo ele, a economia ainda vai crescer e ainda há um “vento favorável” nesse sentido, mas o quadro macro tem piorado.
Nesta quarta, outro dado econômico frustrou expectativas. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), espécie de sinalizador do Produto Interno Bruto (PIB), recuou 0,74 por cento em março ante fevereiro, segundo dado dessazonalizado. O resultado foi bem pior do que a expectativa em pesquisa da Reuters com analistas, de queda de 0,10 por cento.
Na pesquisa Focus mais recente, a mediana das projeções já aponta expansão de 2,51 por cento no PIB este ano, ante expectativa de 3 por cento alguns meses atrás.
Na ponta negativa do Ibovespa, figuram ações como as de shopping centers, com BRMalls em queda 18 por cento, e de educação, com KROTON perdendo quase 37 por cento, conforme os dados de empregos ainda não empolgam apostas mais otimistas quanto ao consumo.
Entre as exceções, está a varejista Magazine Luiza, que figura entre as companhias com maior valorização das ações no ano, de cerca de 40 por cento. “A empresa vem entregando bons resultados desde o desastre econômico do governo anterior”, disse um gestor que pediu para não ter o nome citado.
Os profissionais ouvidos pela Reuters afirmaram ser difícil prever se essa fotografia permanecerá à frente, particularmente em razão da volatilidade dos preços de commodities. Mas veem chances reduzidíssimas de uma reviravolta do lado da economia doméstica. E uma piora em vários dados de confiança em abril endossa tal perspectiva para o curto prazo.
Fonte: Exame
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