No momento em que estou escrevendo este artigo,
o mercado de alumínio no mundo está passando por um período de grande volatilidade. Muita coisa está acontecendo e tudo tem a ver com a maneira como os Estados Unidos tratam o problema.
O preço do metal na Bolsa de Londres (London Metal Exchange), que é referência para o valor do alumínio no mundo inteiro, apresentou um salto desde o anúncio da sobretaxa de importação ao aço e alumínio por parte do governo norte-americano. Acima do valor da LME é cobrado um prêmio por fatores de oferta e logística na entrega do produto físico. Esse prêmio varia em função da oferta do alumínio aos mercados. Nos EUA, o valor do prêmio entrou em uma verdadeira montanha russa quando o governo americano começou a impor restrições à importação do metal.
Essas restrições são percebidas em função da retórica de guerra comercial, que vai e volta ao sabor dos tweets do “@realDonaldTrump”.
Toda essa história começou com o aumento das tarifas de importações de aço e de alumínio. Inicialmente, o argumento para a aplicação das medidas seria diminuir a diferença de preços entre os produtos “made in America” e os importados e, assim, recuperar a indústria de defesa americana.
Esse pretexto se mostrou completamente falso. A grande questão do governo Trump sempre foi diminuir o enorme déficit comercial dos EUA especialmente com a China e a medida inicial de aumento de tarifas faz parte de uma série de ações de uma escalada protecionista. Começou com o aço e o alumínio, mas rapidamente as restrições se estenderam para produtos chineses.
Isso fez com que o preço do alumínio nos EUA começasse a subir. No início do anúncio da medida houve uma enorme pressão nos mercados, especialmente no Canadá – o maior fornecedor de metal alumínio para os Estados Unidos.
O governo americano acabou retirando o Canadá e o México da aplicação das medidas por estarem no Nafta; o prêmio caiu. Depois, postergou a aplicação das medidas para Argentina, Austrália, Brasil, União Europeia e Coréia do Sul; e o prêmio caiu mais ainda.
Depois começou a negociar individualmente com cada país (o que ainda está acontecendo), utilizando a aplicação da medida como moeda de troca para outras questões e propondo estabelecimento de quotas. Lembro que o Ministro que está tratando do assunto (chamado US Representative) é Robert Lighthizer, da administração Reagan que, nos anos 1980, negociava quotas de importações de carros japoneses aos EUA. O que aconteceu? O prêmio subiu.
Depois começou a negociar individualmente com cada país (o que ainda está acontecendo), utilizando a aplicação da medida como moeda de troca para outras questões e propondo estabelecimento de quotas. Lembro que o Ministro que está tratando do assunto (chamado US Representative) é Robert Lighthizer, da administração Reagan que, nos anos 1980, negociava quotas de importações de carros japoneses aos EUA. O que aconteceu? O prêmio subiu.
Em seguida, apresentou uma demanda contra a China a respeito de proteção de direitos de atividade intelectual com impacto de dezenas de bilhões de dólares. A China anunciou o estudo de aplicações de impostos aos produtos americanos de igual valor.
EUA e China entraram com pedidos de análise um contra o outro na OMC (Organização Mundial do Comércio). Além do preço do alumínio, o mercado financeiro mundial se mexeu em busca de qualidade. O real desvalorizou.
O mercado começou a se estabilizar quando veio o segundo anúncio – os EUA impuseram sanções a empresários, empresas e funcionários russos, atingindo pessoas próximas ao presidente Vladimir Putin e, entre eles, a RUSAL, que produz cerca de 6% do alumínio do mundo e é o segundo fornecedor de metal alumínio para os EUA. Isso causou mais turbulências.
O preço da LME subiu de US$ 1.987 por tonelada para US$ 2.144. Os prêmios físicos dos EUA estão subindo novamente. É onde estamos agora…
É importante refletirmos sobre essas questões, porque muitas pessoas tendem a concordar com a ideia dos países de se colocar em “primeiro lugar” em oposição aos outros países, como se fosse o remédio para falta de competitividade da indústria.
Em primeiro lugar, déficits comerciais sistemáticos como o dos EUA tiveram um papel importante para aquele país: eles se beneficiaram pelo fato de consumir mais do que produziram e de ter investimentos maiores do que a sua poupança interna possibilitaria – o resto do mundo os financia. Quem dera o Brasil pudesse fazer isso sem quebrar. Ou, visto de outra forma, foi justamente esse déficit comercial que suportou o crescimento americano em uma situação de desemprego baixo.
Estamos acompanhando, junto ao governo brasileiro, as negociações sobre a aplicação das tarifas propostas pela Investigação 232 (como foi chamado e estudo que deu origem às medidas de proteção da indústria). O prazo encerra-se no último dia desse mês de abril.
Não estamos em um período promissor do comércio internacional, pelo contrário. A preocupação no mundo inteiro é a possibilidade de que isso inicie uma guerra de aumento de tarifas ou restrições de comércio entre os principais países produtores.
Não estamos em um período promissor do comércio internacional, pelo contrário. A preocupação no mundo inteiro é a possibilidade de que isso inicie uma guerra de aumento de tarifas ou restrições de comércio entre os principais países produtores.
Em segundo lugar, temos de diferenciar o resultado de exportações subsidiadas da China do que está relacionado com a falta de dinamismo da indústria americana. A mesma coisa acontece com o Brasil. O argumento inicial de garantir a “indústria de defesa” é meramente um pretexto. Ou seja, não existe uma “ética” de fair trade.
Por outro lado, a China suprime o princípio da ética na competição por outro mais cínico: quanto maior a competição, mais vale ser monopolista. Então, estamos em uma briga de grandes e maus.
Para o Brasil, a grande questão neste momento para o mercado de alumínio são os desdobramentos que uma guerra comercial entre os EUA (o maior mercado mundial) e a China (o maior exportador mundial) pode trazer para o resto do mundo. Primeiro devido à volatilidade dos preços, como já observamos nos mercados americanos. Depois porque, à medida em que os EUA adotarem restrições unilaterais, certamente haverá significativo desvio de comércio dos produtos chineses para o mercado brasileiro e os nossos outros mercados de exportação. O nosso papel é acompanhar atentamente todas as discussões sem nos tornarmos o dano colateral.
Neste cenário, o objetivo da ABAL é duplo: reduzir ao máximo os impedimentos às nossas exportações e monitorar o que pode acontecer com as importações.
Todos os países têm recorrido a práticas protecionistas em diferentes etapas do crescimento econômico. Isso é importante, afinal, nos manterá no jogo, mas de curta duração. Em longo prazo, existe um grande caminho a ser percorrido no sentido de construirmos uma indústria competitiva e sustentável.
Fonte: Revista Mineração.
Nenhum comentário:
Postar um comentário