China ocupa vácuo deixado pelos EUA na América Latina
À proporção inversa que os Estados Unidos se afastam sistematicamente da América Latina — tendência simbolizada pela conspícua ausência de Donald Trump na Cúpula das Américas, realizada no Peru em abril, e sua retórica xenófoba em relação à região — a China vem preenchendo o vácuo deixado por Washington. Nesse processo, o continente se tornou o segundo maior destino dos investimentos de Pequim, ficando atrás apenas da Ásia.
Embora a expansão da presença chinesa já viesse ocorrendo antes mesmo de Trump chegar à Casa Branca, ela ganhou maior impulso com a gestão mais hostil de Washington. Agressividade, diga-se, que pode ser medida pela guerra comercial declarada mediante taxações unilaterais contra importantes parceiros, sobretudo a China.
Um exemplo emblemático foi o acordo com a Argentina para montar uma base de rastreamento espacial na Patagônia. A estação, segundo o jornal “Clarín”, foi construída pelo Exército chinês ao custo de US$ 50 milhões.
De acordo com a Bloomberg News, nos últimos anos, a China já superou os EUA nas negociações de cobre com o Chile, e de itens de agricultura e mineração com o Brasil. No caso brasileiro, desde 2009, a China tomou o lugar dos EUA como principal destino de nossas exportações, principalmente de soja e minério de ferro. A única exceção no continente é o México, devido ao Nafta, mas até isso pode mudar a favor dos chineses, porque Donald Trump pretende rever o acordo com o Canadá e o vizinho do sul.
A influência econômica dos EUA na América Latina continua substancial, mas na última década as vendas da região para a China cresceram bastante, chegando a US$ 103 bilhões anuais, em 2016 (dados mais recentes do Atlantic Council). No caso brasileiro, as exportações para a China superaram as vendas para os americanos, respectivamente US$ 35,9 bilhões ante US$ 30,5 bilhões anuais.
A diversificação de produtos, porém, ainda é maior nas trocas com os EUA. Enquanto o Brasil (o mesmo vale para o resto da América Latina) vende matérias-primas para os chineses, ficando refém das oscilações dos preços das commodities, para os EUA as exportações incluem produtos manufaturados, beneficiando a cadeia industrial.
Esse quadro revela o acerto dos chineses ao valorizar a integração global e tirar proveito de instâncias multilaterais e blocos comerciais. Presos na visão populista e xenófoba de Trump, os EUA se isolam, abrindo espaço para novos atores econômicos. Trata-se de um grave erro, sobretudo diante de um déficit fiscal projetado para ultrapassar US$ 1 trilhão até 2020, pondo em risco a economia mundial.
Fonte: O Globo
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