ESMERALDAS
A esmeralda é a gema mais antiga conhecida da humanidade; foi comercializada há cerca de 6000 anos na Babilônia, anterior ao diamante. Era muito apreciada na Pérsia e na Índia. Seu nome vem do grego smáragdos, latinizado smaragdus, provavelmente derivado do sânscrito marakatam, originário do idioma acadiano barraqtu, que significa pedra reluzente, brilhante. O nome era usado para pedras de diferentes composições químicas, mas geralmente de cor verde. Atribuiu-se à esmeralda o significado de imortalidade.
A esmeralda é a variedade verde do mineral berilo, um silicato dos metais berílio e alumínio (Be3Al2Si6O18), que forma cristais de prismas hexagonais. Outras variedades com qualidade de gema são a água-marinha (azul), o heliodoro (amarelo) e a morganita (rosa). A variação de cor é causada pela inclusão de traços de elementos metálicos, chamados cromóferos, no caso da esmeralda cromo e/ou do vanádio. Entre todas as variedades, a esmeralda é a mais rara, formada em condições geológicas muito específicas. Esmeraldas transparentes e de cor verde intensa e uniforme são muito raras, podendo atingir preços superiores aos dos diamantes, considerando sempre como base de preços o quilate (0,2 g).
Esmeralda da Lavra Carnaíba – Carnaíba, BA, em exposição na atração
Inventário Mineral do MM Gerdau – Museu das Minas e do Metal.
Inventário Mineral do MM Gerdau – Museu das Minas e do Metal.
As minas de esmeraldas mais antigas encontram-se no Egito, na costa do Mar Vermelho, e já foram exploradas há 5.000 anos ou mais, fornecendo gemas para o Oriente e para gregos e romanos. há cerca de 2.000 anos os romanos descobriram esmeraldas nos Alpes da Áustria, perto de Salzburgo. Estas pedras abasteceram o mercado europeu durante séculos até a descoberta das esmeraldas no Peru pelos espanhóis.
As primeiras esmeraldas das Américas foram levadas à Europa pelos espanhóis depois da conquista do México por Hernando Cortez (1485-1547) nos anos de 1519/22, onde foram saqueadas em templos e túmulos. Não há notícias de minas de esmeralda no México. Foram trazidas provavelmente do Peru, onde as minas de esmeralda já eram exploradas há mais de 1000 anos.
O fato mais importante na história das esmeraldas nas Américas, foi a conquista do Peru por Francisco Pizarro (ca. 1475 -1641) com uma tropa de somente 180 homens, nos anos 1530 a 1533. Acharam muitas esmeraldas com os nativos, mas os espanhóis não conseguiram localizar as minas. Em março de 1537, eles receberam de presente algumas esmeraldas dos índios, que também indicaram a localização das minas de Chivor, situadas na encosta oriental da Cordilheira de Bogotá. Como o um lugar era de acesso muito difícil, os espanhóis abandonaram logo os trabalhos. Pouco tempo depois tiveram conhecimento de outras minas nas terras da tribo Muzo, que ofereceu muita resistência aos conquistadores. Somente em 1555 os espanhóis, liderados por Antonio Lanchero, conseguiram derrotá-los, tendo, assim, acesso às minas das melhores esmeraldas do mundo.
O vale dos Muzo está situado cerca de 100 km a norte de Bogotá, e a exploração de esmeraldas começou em 1558. Ambas as ocorrências estão situadas nas montanhas Somondoco, que significa deus das pedras verdes na língua dos nativos da tribo chibcha.
A produção de esmeraldas na Colômbia foi tão grande, que afetou o preço das esmeraldas orientais (e da Áustria) na Europa. O padre jesuíta José d’Acosta relata que, quando voltou do Peru à Espanha em 1587, foram transportadas no mesmo navio duas caixas com algumas dezenas de quilos de esmeraldas.
Até hoje, a Colômbia produz aproximadamente 60 % das esmeraldas no mundo e 80 % das de melhor qualidade. Até a descoberta das esmeraldas nos Montes Urais na Rússia, em 1831, a Colômbia forneceu quase toda a produção mundial. Geologicamente, a ocorrência do vale Muzo se distingue das jazidas mencionadas (Egito, Áustria, Rússia e outros países) como também das brasileiras. Ali a esmeralda ocorre em finos veios de calcita, intercalados em xistos carbonosos e calcíferos, fortemente dobrados.
Uma pedra do tamanho de um ovo de galinha foi encontrada, junto com objetos de ouro, por Antonio de Sepulveda, em 1580, quando tentou drenar o Lago Guatavita, um lago formado em uma cratera vulcânica a cerca de 60 km ao norte de Bogotá. Este e outros lagos eram locais de cultos e cerimônias de consagração de caciques. Depois de untados com óleo e cobertos com ouro em pó, os novos caciques eram levados ao meio do lago em uma balsa carregada com objetos de ouro e esmeraldas, onde se banhavam, tirando o ouro em pó. Os objetos de ouro também eram jogados na água como oferendas ao deus do sol. Essa cerimônia deu origem à lenda do Eldorado, que não é propriamente dito um lugar, mas sim o homem dourado.
Preparação do cacique Manoa para a cerimônia de posse, tendo seu corpo coberto com ouro em pó, virando o El Dorado. (Theodore de Bry, Grand Voyages, vol. 8, 1599)
As riquezas em ouro, prata e esmeraldas, encontradas pelos espanhóis no México e no Peru, provocaram a inveja do soberano português, no caso D. João III (1502/1521-1557), e também de seus sucessores. D. João III iniciou a colonização do Brasil e em 1548 incumbiu Tomé de Souza, primeiro governador-geral do Estado do Brasil (1549-1553) com sede em Salvador, de explorar o interior do país. Este contatou o espanhol Felipe de Guillén, morador em Porto Seguro desde 1538, que havia passado pelo Peru, e tinha conhecimentos de química e mineralogia, pedindo-lhe que organizasse uma expedição de reconhecimento. Guillén recusou a tarefa devido à sua idade, mas, numa carta de 1550 ao rei, se mostrava convencido da existência de esmeraldas no Brasil, e relata que Tomé de Souza “…esteve determinado para me mandar ao descobrir, porque é necessário para isso um homem de muito siso e cuidado, e que saiba tomar a altura [do sol para determinação da latitude] e fazer roteiro da vinda e inda, e olhar a disposição da terra e o que há, porque sem duvida há lá esmeraldas e outras pedras finas.”
Começou a epopéia das esmeraldas no Brasil. A expedição planejada por Tomé de Souza partiu de Porto Seguro em 1554 com 12 homens brancos e numerosos índios sob o comando de outro espanhol, Francisco Bruza de Espinoza, atravessando o sul da Bahia e o nordeste de Minas Gerais até o Rio São Francisco. Retornou após 18 meses sem resultados concretos, a não ser o conhecimento da imensidão do sertão do interior do Brasil. Seguiram outras entradas partindo do litoral da Bahia ou do Espírito Santo: Vasco Rodrigues Caldas (1562), Martim de Carvalho (1567/68?), Sebastião Fernandes Tourinho (1572/3), Antônio Dias Adorno (1573), João Coelho de Souza (1580), Diogo Martins Cão (1596), Marcos de Azeredo (1596 e 1611/12); todas elas à busca de esmeraldas e da serra resplandecente. Quase todas essas entradas convergiram, mesmo com itinerários diferentes, no nordeste de Minas.
A crença das esmeraldas foi alimentada por contatos com os nativos. Pero de Magalhães Gandavo escreveu no seu “Tratado da Terra do Brasil” (ca. 1570): “… A este capitania de Porto Seguro chegaram certos índios do sertão a dar novas de uma pedras verdes, que havia numa serra muitas léguas pela terra dentro, e traziam algumas delas por amostras, as quais eram esmeraldas, mas não de muito preço; e os mesmos índios diziam que daquelas havia muitas, e que esta serra era muito fermosa e resplandecente.” Estas “novas” era o sinal para a entrada de Martim de Carvalho que partiu com 50 ou 60 portugueses e alguns índios locais, percorrendo umas 220 léguas pela região entre os rios Jequitinhonha e Doce.
Marcos de Azeredo partiu em 1596 de Vitória, no Espírito Santo, e subiu pelos rios Doce e Suaçuí Grande e voltou com amostras de pedras verdes. Frei Vicente de Salvador, na sua “História do Brasil” (1627) relata o seguinte: “… De cristal sabemos em certo haver uma serra na capitania do Espírito Santo em que estão metidas muitas esmeraldas, de que Marcos de Azeredo levou amostras a el-Rey, e feito exame por seu mandado, disseram os lapidários que aquelas eram da superfície e estavam tostadas do sol, mas se cavassem ao fundo as achariam claras e finíssimas.” Marcos de Azeredo deixou o roteiro de sua viagem e descobrimento, que foi usado por outros sertanistas na busca das esmeraldas, entre eles Fernão Dias.
Vários cartógrafos do século XVII desenharam a serra resplandecente ou mesmo a Serra das Esmeraldas nos seus mapas. O divisor das águas entre os rios Jequitinhonha e Araçuaí ao norte, e os rios Mucuri, São Mateus e Doce ao sul, chamava-se Serra das Esmeraldas nos mapas até o século XIX; hoje é conhecida como Serra Negra.
Fernão Dias Paes Leme (ca. 1608-1681) é certamente o mais famoso dos bandeirantes na caça às esmeraldas. Saiu de São Paulo como Governador do Descobrimento das Esmeraldas em julho de 1674 com muitos paulistas e índios. Andou mais de 1000 km durante sete anos até o norte de Minas, de onde trouxe pedras verdes. Tudo indica que cruzou a Serra das Esmeraldas, e ele morreu convencido de ter localizado as escavações do Azeredo, porém, hoje supõe-se que as pedras eram turmalinas.
apa da capitania de Porto Seguro, mostrando a Serra das Esmeraldas ao norte do Rio Doce junto a uma grande lagoa. Esta localização deve ser atribuída às expedições de Marcos de Azeredo (1596 e 1610/11). Fonte: Atlas ”Estado do Brasil” de João Teixeira Albernaz, 1631. Fonte: (Mapoteca do Itamarati, RJ)
Passaram-se mais de duzentos anos até serem encontradas esmeraldas legítimas no Brasil, quase sempre por um acaso. A primeira ocorrência foi localizada na região de Brumado (ex-Bom Jesus dos Meiras) na Bahia por volta de 1912. Seguiram-se outras descobertas: na Fazenda Lajes em Itaberaí, Goiás, em 1920, e ainda no mesmo ano na Fazenda Bom Sossego em Ferros, Minas Gerais, localizada cerca de 50 km ao norte de Itabira. Fica cerca de 170 km de Belo Horizonte por rodovia e 120 km (em linha reta) da Quinta do Sumidouro na margem do Rio das Velhas, o pouso da bandeira de Fernão Dias nos anos de 1670. A distância até a Serra Negra (ou Serra das Esmeraldas), também em linha reta, é de cerca de 130 km. Assim, foi por pouco que Fernão Dias não acertou na localização das sonhadas esmeraldas.
Em 1939 foram encontradas esmeraldas na região de Anagé, Bahia (40 km noroeste de Vitória da Conquista) e nos anos 1950 em Tauá, Ceará. Nenhuma destas ocorrências chegou a ter uma produção considerável. Somente na segunda metade do século XX registra-se a descoberta de depósitos maiores: Carnaíba (1964) e Socotó (1983), perto de Campo Formoso na Bahia, e Santa Terezinha (1981) em Goiás. Em todos estes lugares houve uma invasão de garimpeiros que tomaram conta da exploração das gemas.
Uma nova ocorrência foi descoberta em Minas Gerais, em 1978, localizada cerca de 15 km a sul de Itabira, quando José Ota Melo, um ferroviário da Estrada de Ferro Vitória Minas, encontrou umas pedrinhas verdes no sangradouro de um açude que, posteriormente, foram identificadas como esmeraldas. Imediatamente houve uma invasão de garimpeiros; no segundo ano (julho de 1979 a agosto de 1980) foi registrada uma produção de 32 kg de pedra bruta.
Atualmente a jazida está sendo explorada pela empresa Belmont Mineração, uma empresa de referencia na mineração de esmeraldas. A rocha que contém a gema é lavrada em mina de subsolo, depois de britada passa por peneiras, e as esmeraldas brutas são catadas manualmente. A Belmont Mineração é a única mineradora de esmeralda no Brasil e uma das poucas no mundo, pois as outras ocorrências estão sendo exploradas por garimpeiros. O Brasil é hoje, depois da Colômbia, o segundo maior produtor de esmeraldas no mundo, especialmente devido à operação contínua desta mineradora.
Outras ocorrências (Capoeirana, Piteiras, Toco, Canta Galo, Alfié) foram achadas posteriormente na região, na mesma formação geológica, formando um cinturão de rochas esmeraldíferas de cerca de 80 km de extensão, a leste de Itabira, entre São Domingos do Prata e Ferros. A gênese da esmeralda nestas ocorrências é praticamente idêntica em todas elas. Biotita-xistos (às vezes de flogopita, uma mica preta com teores mais elevados de magnésio) foram cortados por fluídos magmáticos de altas temperaturas contendo o elemento berílio. Estes fluidos solubilizam dos xistos traços de cromo que entram na estrutura dos cristais de berilo, formando assim a esmeralda. Quanto mais devagar o resfriamento e crescimento do cristal, mais limpo fica a gema.
Fonte: Minérios
Creditos: Géol. Friedrich Renger
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