Identificações erradas de minerais e fraudes – “Obsidiana” ou “vidro-da-terra”
IDENTIFICAÇÕES ERRADAS DE MINERAIS E FRAUDES
Infelizmente os mercados de minerais, de gemas e de cristais esotéricos têm sofrido com um grande número de erros de classificação ( intencionais ou não ), bem como fraudes de diversos tipos. Isso leva os compradores menos preparados ou desatentos a adquirir “gato por lebre”, bem como dificulta o trabalho dos comerciantes honestos que têm de competir com imitações de menor ou nenhum valor.
Daremos ênfase ao que ocorre no mercado de minerais para coleção e de cristais esotéricos, pois no caso das gemas existe uma estrutura bem montada de laboratórios gemológicos que vêm sistematicamente estudando e publicando informações sobre materiais sintéticos e processos de modificação de cor, o que não ocorre na mesma escala no caso dos minerais e dos cristais.
No primeiro número desta série abordaremos uma fraude bastante atual, que é tentar classificar VIDRO como “OBSIDIANA” ou “VIDRO-DA-TERRA”.
A obsidiana é um vidro natural, sem estrutura cristalina nem composição química constante, encontrado no interior de lava vulcânica. Ocorre em vários países do mundo, mas apenas onde houve vulcanismo relativamente recente ( o que não é o caso do Brasil, onde as mais recentes erupções vulcânicas ocorreram há cerca de 40 milhões de anos! ). As cores são sempre muito escuras ( marrom, marrom-esverdeada, marrom-avermelhada ou preta ), e o material é, com raras exceções, translúcido ou opaco.
Como se trata de material de baixo valor seu uso como material ornamental se restringe à produção de pedras roladas, ovos, esferas e esculturas ( com a exceção da “obsidiana arco-íris” ou “rainbow obsidian”, encontrada no México ). As variedades naturais mais conhecidas são as seguintes:
– OBSIDIANA “LÁGRIMA-DE-APACHE”
– ocorre no Arizona como nódulos semi-esféricos ou alongados, de cor marrom-escura, translúcidos ou quase transparentes, medindo até cerca de 5 cm, e encontradas em solos resultantes da decomposição recente de lavas vulcânicas claras denominadas “perlitas”.
– OBSIDIANA “LÁGRIMA-DE-APACHE” NA PERLITA
– OBSIDIANA “FLOCOS-DE-NEVE”
– é um material preto opaco com nódulos brancos com aparência de flocos de neve ( causados pelo início de formação do mineral “cristobalita” ), é encontrada no estado do Utah, USA.
– OBSIDIANA “DOURADA”
– ocorre no México, tem cor marrom-esverdeada muito escura, translúcida, e apresenta inclusões tubulares, ocas, que proporcionam reflexões internas da luz do tipo “olho-de-gato”; os índios aztecas e os toltecas a utilizavam intensivamente na confecção de esculturas, ferramentas e pontas de flecha.
– OBSIDIANA “MOGNO”
– ou obsidiana “mahogany”, tem cor preta, opaca, com manchas marrom-avermelhadas, ocorre no México bem como em vários estados norte-americanos ( Arizona, Califórnia, Novo México e Oregon ).
– OBSIDIANA “ARCO-ÍRIS”
– é a variedade mais valiosa, consiste de uma matriz negra, opaca, com zonas internas iridescentes, o que resulta, ao se lapidar o material em cabochão ou na forma de coração, em reflexões internas verdes/ roxas/ azuis/ vermelhas. A ocorrência mais importante se localiza no México
Por outro lado, os vidros, sintéticos, vendidos fraudulentamente como “obsidianas” ou “vidros-da-terra” são verdes ou azul-esverdeados, completamente transparentes, o que jamais foi visto em obsidianas naturais. Sua ocorrência natural é geologicamente impossível: o solo, onde essas “obsidianas” teriam sido encontradas ( é sempre a mesma história, um garimpeiro de “total confiabilidade”, “que não mente”, encontrou a peça escavando a terra, ou um fazendeiro também “totalmente confiável” coletou-a do mesmo modo ), provém sempre da decomposição de uma rocha, seja ela sedimentar, metamórfica ou ígnea; nos dois primeiros casos jamais poderá ser encontrada uma massa de vidro natural, e as rochas ígneas encontradas no Brasil não são do tipo lava vulcânica extrusiva, que poderia conter massas de obsidiana natural ( mas nunca grandes, transparentes e azuis ); as lavas vulcânicas que existiram no Brasil há mais de 40 milhões de anos já foram completamente erodidas.
Fonte: Blog Luiz Menezes