Você compraria 3 mil pares de sapatos?
Side Walk começou exatamente assim: uma aposta de três amigos que hoje rende R$ 100 milhões de faturamento
Tinho Azambuja era atleta profissional de hipismo, dava aulas em Campinas, mas resolveu mudar de vida e voltar para São Paulo. O plano inicial era criar uma fábrica de botas de equitação, mas a desistência do sapateiro em mudar de cidade e outras coincidências o levaram a comprar um lote de 3 mil calçados cor de vinho e pretos que seriam vendidos para os Estados Unidos. Esse foi o começo da Side Walk, criada por Tinho, Luis Gelpi e Eduardo Rizk e que deve fechar o ano com faturamento de R$ 100 milhões com a venda de sapatos, mas também roupas e acessórios.
Hélvio Romero/Estadão
Tinho Azambuja criou a marca com mais dois amigos
Quando Tinho chegou para Luis com a ideia de buscar outra coisa para fazer na vida, o amigo logo lembrou da bota criada por Tinho e um senhor que fabricava sapatos e resolveu abraçar a projeto de abrir uma fábrica. Foi então que a dupla procurou Eduardo para entrar na jogada e ajudar no investimento necessário. Mas no dia de fechar a compra do maquinário, uma ligação do sapateiro acabou com os planos iniciais.
Com os três amigos pensando em alguma saída, a solução bateu à porta da empresa de confecção de Luis. “Um amigo chegou e falou para ele: soube que você está fazendo uma loja de sapato. E colocou um sapato em cima da mesa. O sapato mais bonito que a gente viu na vida”, lembra Tinho. Era um modelo usado habitualmente pelos estudantes norte-americanos e fazia parte de um lote fabricado no Brasil, mas o atraso de dois meses na entrega motivou a recusa dos compradores dos Estados Unidos.
O problema era que o lote tinha 3 mil sapatos e eles não eram vendidos separadamente. Mesmo assim, o trio resolveu arriscar na compra e partir em busca de novos modelos para produzir aqui. “Ou a gente comprava tudo ou ia abrir sem novidade”, conta. Os modelos trazidos de viagens por amigos também ajudaram durante o desenvolvimento do negócio.
Desde o sucesso do primeiro modelo de sapato em 1982, a empresa coleciona acertos, como o Top Sider. “É um sapato de velejar, de sola de borracha. Chegou uma hora que a gente vendia tanto que a pessoa entrava na loja e pedia um Side Walk”, recorda Tinho. A marca ganhou relevância, ficou conhecida e começou a crescer, mas a expansão era feita somente por meio de lojas próprias. “A gente gosta de tomar conta bem de perto. Preferíamos que as lojas ficassem debaixo das asas”, conta Tinho. Mas a evolução do mercado e o aparecimento de franqueadores profissionais fizeram os amigos mudar de ideia para iniciarem uma expansão por meio de franquias. Em dois anos, 21 novas unidades foram inauguradas.
Parceria. Já são 33 anos de amizade e sociedade. O trio não só trabalha junto como também mantém os momentos de lazer em conjunto. Tinho cuida mais do dia a dia da operação, do financeiro, fiscal e contábil. Eduardo vivencia o dia a dia das lojas, fica de olho na vitrine, no quadro de funcionários. E Luis é o responsável quando o assunto é produto, design e remodelação das lojas da marca.
“A nossa relação é impressionantemente boa. Em todos os casos, tivemos maturidade de sentar, conversar e acertar. Uma briga societária acaba com grandes empresas, imagina com uma média”, alerta Tinho. Se uma decisão precisa ser tomada, a quantidade de sócios facilita a votação. “Se o terceiro desempatou, quem votou contra fica quieto e leva pra casa”, exemplifica Tinho.
Crise. O empresário afirma que o negócio de sapatos já passou por oito planos econômicos e trocas de moedas por parte do governo, mas Tinho conta que nunca viu nada parecido com o momento atual. “Você conversa com qualquer setor e eles estão sentindo a mesma coisa. Foi um ano dificílimo”, avalia o empreendedor.
A Side Walk já trabalha com uma estrutura bem enxuta, o que de certa forma dificultou ainda mais a gestão diante da crise e a necessidade de cortar mais custos. “O que eu tinha aqui já era para o funcionamento e as coisas continuaram subindo. Para se manter, foi promoção em cima de promoção. Isso come a sua margem, tira a lucratividade e lá na última linha do lucro liquido: ‘acabou’. A filosofia é trocar estoque por dinheiro. Esquece lucro um pouco. Quem ficar de pé e sobreviver vai ser uma vitória.”
Fonte: Estadão
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