Em alta na joalheria, em breve as esmeraldas estarão mais acessíveis, inclusive em bijuterias. Projeto da Associação de Joalheiros e Relojoeiros do Rio de Janeiro (Ajorio) com a Firjan levou um grupo de empresários para conhecer as minas de Campo Formoso, no norte da Bahia, a fim de fomentar negócios aproximando as duas pontas da cadeia produtiva do setor: fabricantes de joias e produtores de pedras preciosas. Da missão nasceu a parceria entre as instituições e a Prefeitura do município para promover workshops com designers cariocas sobre criação e desenvolvimento de produto, a fim de agregar valor às esmeraldas de qualidade inferior. Hoje, apenas 5% da produção, que chega a aproximadamente 3 mil quilos por mês, correspondem às esmeraldas extras, usadas na alta joalheria.
A ideia é formar mão de obra para o artesanato, movimentando o comércio e desenvolvendo o turismo na região. Por outro lado, serão financiados cursos de lapidação no Laboratório de Joias do Senai, no Rio de Janeiro, para jovens de lá, a fim de aprimorar a produção de pedras lapidadas que serão vendidas para as joalherias nos grandes centros, carentes de matéria-prima de qualidade.
Segundo a presidente da Ajorio, Carla Pinheiro, o Brasil sempre foi um importante lapidador na cadeia inteira, mas a atividade foi enfraquecendo nos últimos tempos. “Fomos a Campo Formoso para conhecer de perto a realidade da produção de pedras e identificar as necessidades, porque temos muita coisa para melhorar” afirmou. Para Carla, se bem fomentada, a mineração pode transformar até mesmo o PIB nacional, como acontece na Índia e na Tailândia. “As pedras preciosas podem e devem deixar renda, emprego e riqueza no nosso país. E hoje não é o que acontece. O que vemos são iniciativas individualizadas, feitas por quem luta no dia-a-dia, mas que não conta com apoio que deveria ter do poder público”, avaliou.
Esta foi a quinta viagem empresarial organizada pela Ajorio e Firjan a um dos polos produtivos de pedras preciosas no Brasil, que já passou por Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Piauí. O objetivo é levar o empresário diretamente na fonte da matéria-prima.
Para a especialista em Joias da Firjan, Eliana Andrello, a troca de experiências é importante para os dois lados. “Nós temos hoje, no Rio, uma experetise na fabricação, com tecnologia avançada e indústrias bem equipadas, mas dependemos da matéria-prima que vem de outros estados, porque não temos a mineração, nem a lapidação mais. Na Bahia, eles têm as gemas, mas falta a industrialização da joia. Identificamos aí uma janela de oportunidade na educação, o que será feito em parceria para promover a qualificação destes profissionais”, relatou.
Produção
O Brasil é hoje um dos maiores produtores de esmeraldas do mundo, ao lado da Colômbia, Zâmbia e Afeganistão. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos (IBGM), em 2017 as exportações das pedras lapidadas foram de US$ 23,8 bilhões. Os maiores polos produtores estão em Itabira (MG), em Campos Verdes (GO) e na Serra da Carnaíba (BA), no município de Pindobaçu, vizinho a Campo Formoso.
Lá, a extração é realizada por mineradores organizados na Cooperativa Mineral da Bahia (CMB), que agrega os garimpos da Carnaíba e Socotó, hoje, com 28 minas em produção, e cerca de 300 associados. A uma distância de 34 quilômetros um do outro, ambos estão sobre o mesmo lençol de esmeraldas. A estimativa, segundo geólogos, é de que existam pedras a até 500 metros de profundidade, sendo que nem 7% foram explorados ainda. Por mês, são retirados cerca de 3 mil quilos da pedra bruta, e o faturamento gira em torno de US$ 3 milhões.
Nascido em Campo Formoso, o empresário José Nilson Rodrigues intermediou a visita da caravana carioca para o município. Neto de garimpeiros que deram início à mina da Carnaíba, em 1963, ele defende que a atividade continue nas mãos dos mineradores, mas alega que faltam investimentos. “Precisamos da presença dos bancos de investimento em Campo Formoso para o garimpeiro ter condições de produzir mais. Na África, na Colômbia, o governo participa diretamente, por isso eles tem grandes produções. Aqui, nós temos a produção que a condição de cada um permite. O que precisamos é de investimento, porque capacidade nós temos”, afirmou.
A esmeralda é o termômetro da economia local. Segundo a prefeita de Campo Formoso, Rose Menezes, quando as minas estão produzindo, o movimento do comércio de toda a região fica aquecido. Grande parte da comercialização de esmeraldas é realizada na feira local com pedras negociadas a céu aberto. O sistema financeiro funciona à base de vales e trocas de objetos. Na praça também estão os grandes escritórios de compradores estrangeiros.
A missão incluiu a visita a duas minas localizadas no garimpo da Carnaíba, uma delas a 230 metros de profundidade. O designer Eduardo Vaks, da joalheria Lafry, desceu na mina para conhecer o trabalho e ficou impressionado com o tamanho do empreendimento. “Depois de descer a mina a gente percebe a dificuldade que existe neste ramo de trabalho, para se conseguir um volume de esmeralda. O mercado não tem ideia da dificuldade que existe. O investimento é muito alto, os proprietários trabalham de quatro a cinco anos para ter algum retorno. É um trabalho em que precisa se acreditar e investir muito dinheiro”, comentou.
Segundo a diretora-executiva da Ajorio, Angela Andrade, a parceria entre Rio e Campo Formoso será benéfica para os dois lados. “O que eles têm nós queremos muito, e o que nós temos, que é criação, fabricação e mercado, a cidade está precisando bastante também”, disse. Para Angela, já está na hora da região começar a agregar valor às pedras, produzindo joias e bijuterias de qualidade para o mercado turístico. “Sentimos um potencial imenso de crescimento. Daqui a cinco anos, o comércio de Campo Formoso estará mudado, e vamos ter uma boa produção também para o Rio de Janeiro”, afirmou.
Para os empresários, a missão proporcionou bons contatos comerciais com os produtores locais e a perspectiva de lançamento de novas coleções. Eles também se prontificaram a participar da parceria, colaborando com o design em produtos que vão popularizar a esmeralda.
Fonte: EXAME
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