Novas turbulências foram registradas em Wall Street em um ambiente marcado por uma onda de vendas que se alastrou pelo quarto pregão consecutivo, fazendo com que os mercados acionários americanos enfrentassem perdas expressivas, de mais de 2%. Em uma sessão marcada pela baixa liquidez devido ao feriado do Natal, os investidores não se fizeram de rogados e impuseram duras perdas ao S&P 500, que fechou em “bear market”, enquanto o índice Dow Jones apresentou a maior queda diária em uma sessão de véspera de Natal desde 1918. Nesse cenário, as bolsas nova-iorquinas se encaminham para apresentar o pior desempenho para um mês de dezembro desde a Grande Depressão, em 1931.
O cenário de aversão a risco se deu em meio a tensões travadas entre a Casa Branca e o Federal Reserve (Fed, o banco central americano), que foram agravadas por relatos de que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, estaria cogitando demitir o presidente do Fed, Jerome Powell. Apesar de diversos integrantes do governo americano negarem a questão e ressaltarem que Trump poderia não conseguir tirar Powell do comando do banco central, o ocupante da Casa Branca voltou a efetuar críticas contra o presidente do Fed, gerando mais apreensão nos investidores.
Nesse cenário, o índice S&P 500 fechou em baixa de 2,71%, na mínima do dia, cotado a 2.351,10 pontos; enquanto o Dow Jones também encerrou os negócios na mínima do pregão, aos 21.792,20 pontos, em queda de 2,91%. O índice Nasdaq, que entrou oficialmente no território de “bear market” na última sexta-feira, encerrou os negócios com recuo de 2,21%, para 6.192,92 pontos. O Nasdaq chegou a esboçar uma reação no início do pregão e operou brevemente no campo positivo, mas as vendas falaram mais alto.
Para tentar conter o sell-off, que se dá desde a semana passada, o secretário do Tesouro dos EUA, Steven Mnuchin, se reuniu no fim de semana com representantes dos seis maiores bancos americanos para garantir que os mercados operem em um ambiente com liquidez. No entanto, os esforços públicos de Mnuchin foram vistos, por alguns agentes, como um sinal de medo por parte da Casa Branca. “Passamos por situações em que é absolutamente normal que o secretário do Tesouro se comunique com o setor privado. Mas o que é ruim é que isso vai para os jornais e sinaliza que o governo está preocupado. É como se a gravidade estivesse puxando os mercados para um nível ainda mais baixo”, comentou o estrategista-chefe de mercados da Prudential Financial, Quincy Krosby.
Para Trump, porém, “o único problema que a nossa economia tem é o Fed”, que tem deixado os mercados “ainda mais ilíquidos”. No entanto, na avaliação do economista Sven Henrich, da Northman Trader, “Powell fez a coisa certa. Ele foi o adulto que contou às crianças que não há mais doces a serem distribuídos. Ele defendeu a independência do Fed e resistiu a todas as pressões políticas. Finalmente temos uma diretoria do Fed que tem uma espinha dorsal e Powell tem de lidar com as consequências de uma política muito frouxa de Ben Bernanke e Janet Yellen”.
No cenário de baixa liquidez e com um sentimento amplo de cautela predominando, ações de bancos foram abandonadas pelos investidores, com o papel do Wells Fargo em baixa de 3,37% e o do JPMorgan em queda de 2,16%. Já a ação da Boeing, que tem maior peso no Dow Jones, caiu abaixo de US$ 300 e acumula perdas de 25% desde outubro, que foram agravadas com o recuo de 3,41% visto hoje.
A Apple também não foi poupada e viu sua ação cair 2,59%, o que culminou em novas perdas ao valor de mercado da empresa, que despencou da faixa de US$ 1 trilhão alcançada em outubro para um nível abaixo de US$ 700 bilhões pela primeira vez desde fevereiro de 2017.
“Vai demorar um pouco para o mercado recuperar seu pico anterior. Uma vez que a volatilidade está elevada, o mercado se recupera apenas lentamente. É improvável que as preocupações se dissipem até que haja sinais claros de que o crescimento econômico mundial está se estabilizando e não esperamos isso até a temporada de balanços das empresas referentes ao segundo trimestre de 2019”, afirmou, o estrategista-chefe do Deutsche Bank, Binky Chadha.
Fonte: ISTOÉ DINHEIRO
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