terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

E Quando o Retorno Não Vem?

 Quando o Retorno Não Vem?




Por Marilia FontesResumo do Mercado

Lembro como se fosse hoje a comemoração em alto nível que fiz quando fui chamada para trabalhar na Kondor Invest, gestora que, na época, tinha cerca de 2 bilhões de ativos sob gestão.
Levei meu marido para o Dom, do Alex Atala. Pedimos o menu degustação, com harmonização de vinhos. Era basicamente a coisa mais cara de um menu já completamente superfaturado. Mas eu não me importava! Tinha vencido! Ou ao menos era isso que eu pensava na época...
Era um sonho meu, desde que entrei no mercado, trabalhar na Kondor. Aliás, era sonho de muito trader. Eu nem acreditava que tinham me escolhido. Acabaram gostando do meu perfil mais focado em market timing (sentir mais o momento de entrar e sair das posições), o qual eu tinha me destacado na Mauá.
Pensava que agora a minha vida estava feita. Eu seria um sucesso, com certeza! Bom, eu não poderia estar mais errada...
A começar pelo erro grotesco da comemoração. No jantar nos serviram formiga. Isso mesmo, formiga! Não é nem um pouco gostoso, e nem chique. Chique é valorizar o dinheiro que ganhamos suando a camisa todo dia. Formiga é fanfarronice. Até hoje não acredito no preço que paguei para comer inseto. Me senti naquela piada do cara que deixou os óculos caírem em uma galeria de arte famosa e todo mundo começou a tirar fotos dos óculos, achando que fazia parte da exposição.
A harmonização de vinhos era eu jogando rios de dinheiro no lixo. Afinal, a cada micro prato vinha uma taça diferente. Obviamente não dava tempo, e nem tinha espaço para tomar tanto vinho assim. Ficou completamente desagradável. E, na terceira entrada eu já estava completamente bêbada e pedi para suspender todos os próximos.
Essa comemoração “bull market” deu um mega azar!
Cheguei para trabalhar na Kondor em 2014, ano de eleição. A gestora estava passando por um momento desafiador na performance.
Depois de alguns meses de ambientação, a cobrança de performance também foi destinada a mim: eu tinha que performar nos próximos 6 meses, ou estava fora.
Acho que não tem sentimento pior do que esse de “precisar ganhar”. É como você decidir operar no mercado financeiro, pois “precisa pagar a faculdade das crianças”. Esquece! Não tem como dar certo. Você acaba não tomando o risco que tem que tomar, para não sofrer um revés possível de sofrer. Além de cortar todas as suas posições vencedoras tão rápido quanto os seus primeiros lucros começam a aparecer.
Foi um desastre completo! Coroado pela eleição mais difícil que já operei na vida. A cada pesquisa eleitoral, o mercado mexia completamente, abrindo em gap (com um salto para cima ou para baixo), me obrigando a stopar (cortar) minhas posições. Será que iria dar Dilma e teríamos um futuro desastroso pela frente? Ou será que daria Aécio e poderíamos comprar o kit Brasil? Sei que no meu dia de melhor performance, quando tudo finalmente ia bem, e eu recuperava grande parte das minhas perdas, o avião do Eduardo Campos caiu, e lá vou eu novamente stopar todas as minhas posições.
Enfim, foi um show de horror. Era stop atrás de stop. Perda atrás de perda. Me deixando cada vez mais insegura da minha capacidade de performar até o final do período estipulado. Acho que acabou sendo a pior experiência que já tive no mercado. Tinha saído da Mauá, onde performava muito bem, era bem quista (eu acho, rs), e achava que já sabia de tudo e podia conquistar o mundo. E de repente eu virei a pior trader da mesa. Saí de lá completamente derrotada...
(Deixando bem claro que todo o pessoal lá de dentro foi maravilhoso comigo! São pessoas extremamente brilhantes, honestas, do bem, justas, e que admiro infinitamente até hoje e serei eternamente grata pela oportunidade).
Chorei uma ou duas vezes. Me senti um lixo. Achei por algumas vezes que por eu ser mulher, não seria tão boa gestora como os meninos (pois já tinha ouvido isso antes).
Mas os dias foram passando, eu sentia que amava o que fazia. Tratei de levantar a cabeça, aprender com os meus erros, e seguir em frente.
Pareceu o fim da linha, mas não foi! Eu nunca aprendi tanto na minha vida de trader como aprendi naquele lugar. Aprendi passo a passo o que NÃO fazer. E isso, muitas vezes é mais importante do que acertar.
E venho aqui de coração aberto ensinar o que aprendi a todos vocês:
Primeiro: não opere eleições! Não só eleições, não opere eventos binários que podem mudar completamente o fundamento econômico, cujo resultado do evento é completamente aleatório e foge do seu controle. É o risco mais mal-empregado de todos. Invista em teses que tem algum fundamento, como a pós-eleição de um governo liberal, ou o fim de um governo ruim. Enfim, invista em teses que dependam mais do tempo para se concretizar.
Segundo: não tenha prazo para ganhar dinheiro. As boas oportunidades do mercado não aparecem a todo momento. Às vezes, demoram alguns meses e você tem que estar tranquilo para conseguir esperar, e estar líquido para poder apostar grande quando elas chegarem.
Eu gastava tanto dinheiro com trade ruim, que quando finalmente aparecia um bom eu já não tinha mais limite de risco.
Esse segundo ponto é particularmente importante no momento atual.
Vi hoje uma reportagem do Valor dizendo que o investidor pessoa física está buscando fundos de ações como nunca! Somente em janeiro, foram 2,4 bilhões de reais. Até o dia 13 de fevereiro, mais 2,3 bilhões.
Claro que esse fluxo está sendo instigado pela performance recente da bolsa. As pessoas estão esperando que as ações sigam linearmente performando tão bem quanto no pós-eleições.
Mas isso não vai acontecer. E é bom todos aqui alinharem suas expectativas.
A definição das eleições trouxe uma primeira onda de valorização, que considera apenas a expectativa das pessoas desse governo ser melhor, promover o equilíbrio nas contas e, quem sabe assim, gerar crescimento.
Essa onda de otimismo já foi. É a bolsa, grosso modo, nos 100 mil pontos.
Agora, o governo terá que provar que é bom mesmo para a Bolsa seguir subindo. Isso inclui, por exemplo, a aprovação da reforma da previdência.
Essa discussão deve se estender ao longo de todo o segundo e terceiro trimestre, talvez sendo completamente resolvida apenas no último trimestre do ano.
Até lá, cada notícia no jornal de briga da base do governo vai jogar a bolsa alguns por cento para lá ou para cá. Será parecido com operar eleições, e isso já sabemos que não é legal. Depender da boa vontade de um político não é uma boa ideia para sua carteira de investimentos.
A primeira onda de valorização aconteceu, pois os preços estavam completamente deprimidos, fruto de 4 anos de recessão e políticas socialistas equivocadas.
Então, se você comprou agora querendo gerar uma receita imediata, cuidado! Altas chances de você quebrar a cara.
É bom investir sim. E acho sim que a Bolsa tem um potencial enorme de valorização. Mas ele se dará no médio prazo, a medida que o governo vá entregando suas promessas eleitorais.
Por isso que ter uma carteira balanceada, com ações, com dividendos e com renda fixa é a nossa grande aposta para o Nord Advisor. Nessas épocas de bolsa parada (que pode virar longos meses), a renda fixa garante um bom carrego, ainda mais se você utilizar produtos de crédito para aumentar ainda mais o seu retorno. O que, psicologicamente, te ajuda a esperar tranquilo a próxima onda da Bolsa, já que você continua vendo seu dinheiro crescer.
Essa é uma dica que te dou, consequência de toda essa história que vivi.
Além de três outras:
Não coma formiga!
E nunca comemore o sucesso antes dele acontecer (dá um mega azar). Os meninos bem sabem que estão proibidos de abrir champanhe aqui na Nord cada vez que ultrapassamos uma marca importante para nós.
Pé no chão!



Fonte: MONEY  TIMES

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