O investidor com um pouco de apetite por risco deveria aproveitar a oportunidade de ganhar com a alta das ações, afirma Martin Iglesias, especialista em investimentos do Itaú Unibanco (BOV:ITUB4). Segundo ele, o cenário é positivo também para aplicações prefixadas, já que os juros ainda podem cair mais.
Segundo Iglesias, a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) em manter os juros ontem em 6,5% já era esperada e não chega a mexer com as perspectivas para os juros, apesar de a fala do Banco Central ter sido um pouco mais dura que a anterior. Diversas casas de análise e gestoras acreditam que a taxa Selic deve cair ainda mais até o fim do ano, uma possibilidade muito ligada à demora na atividade econômica em ganhar força, a inflação sob controle, o dólar estável e a pressão dos preços dos alimentos esperada para este início de ano que não veio.
A Itaú Asset é uma das que espera uma queda para os juros, diz Iglesias. A gestora trabalha com uma Selic de 5,75% ao ano no fim deste ano, o que significaria três reduções de juros de 0,25 ponto percentual cada. Ele deixa claro que essa é a projeção da gestora, que tem uma área econômica independente da do banco. “Não sabemos exatamente quando virão os cortes, mas a tendência é essa”, diz.
Com essa visão, há uma oportunidade de ganho para o investidor em títulos prefixados do Tesouro Direto, que pagam hoje taxas acima da Selic atual, diz Iglesias. O Tesouro Prefixado 2022, ou LTN, por exemplo, oferecia hoje juros de 7,79%. “O papel tem um prêmio importante, claro que com algum risco, pois o cenário de queda dos juros terá de se confirmar”, explica.
Outro ponto de destaque para o investidor é a visão positiva para bolsa, afirma Iglesias. A retomada da economia, que beneficia as empresas, e o avanço das reformas, que podem permitir a volta da confiança, tendem a beneficiar as ações. “Temos um cenário positivo e a bolsa hoje é nosso principal investimento em ordem de preferência”, diz.
A sugestão de Iglesias para quem ainda não investe em bolsa é começar a diversificar usando novos recursos para aplicar em ações, até atingir o nível desejado. Depois, parte-se para o segundo ativo mais indicado, no caso os prefixados, e assim por diante, como que enchendo vários copos. “A ideia é montar uma carteira diversificada aos poucos, começando com os melhores investimentos”, explica. Segundo ele, mesmo a queda dos mercados nesta semana não muda o cenário para a bolsa. “A volatilidade dos preços deve se tornar mais intensa com as notícias sobre o andamento da reforma da Previdência, mas as ações brasileiras ainda são a melhor classe de ativos hoje, na nossa visão”, afirma.
Em seguida na preferência da Itaú Asset, aparecem os prefixados, de preferência os mais curtos, pelo risco embutido. E, em terceiro lugar, os títulos corrigidos pela inflação, ou Tesouro IPCA, de prazo mais curto. Em quarto lugar, aparecem os títulos corrigidos pela inflação mais longos.
Por último, aparecem os títulos corrigidos pelos juros diários, o Tesouro Selic, ou LFT, as ações internacionais e o dólar.
Os multimercados não são uma classe pura de ativo, explica Iglesias, mas eles estão entre as recomendações da asset, logo depois dos prefixados.
Iglesias destaca que a gestora segue com um tom otimista para o país, com o dólar encerrando o ano em R$ 3,60 e a inflação sob controle e bolsas em alta. Recentemente, o Itaú BBA divulgou uma projeção para o Índice Bovespa que poderia chegar aos 110 mil pontos este ano. Mas muitas casas trabalham com o índice em 120 mil pontos. “Essa queda de ontem não deve assustar o investidor, é até uma oportunidade de entrar no mercado”, diz, explicando que a alta atual da bolsa brasileira está sendo impulsionada pelos fundos multimercados e pelos investidores pessoas físicas locais. “O estrangeiro ainda não entrou, está esperando uma sinalização forte de aprovação das reformas e, quando isso acontecer, podemos ter um impacto grande na bolsa”, diz Iglesias. “Levando em conta essas projeções de 120 mil pontos, temos ainda um ciclo de valorização importante pela frente das ações.”
Sobre que ações comprar, Iglesias diz que isso nem é tão relevante. “O importante é estar posicionado, ter alguma coisa em ações, mais nos índices do que em papéis específicos”, explica. Por isso, os fundos passivos, como os ETFs, com cotas negociadas em bolsa e que reproduzem o Ibovespa ou outros índices seriam interessantes. “Não sei se vale a pena fazer seleção de ações, o stock picking, pois se o estrangeiro entrar, ele vai preferir as ações mais líquidas, o que puxaria os índices e esses fundos passivos”, diz. Os ETFs de Ibovespa seriam portanto os mais indicados para aproveitar a onda geral de alta do mercado acionário.
Outra alternativa é montar uma carteira de ações, usando recomendações de analistas, como as da Itaú Corretora, lembra Iglesias.
Com relação aos papéis prefixados, a ideia é não alongar muito, diz Iglesias. O ideal seria a LTN para junho de 2021, mas ela não está mais a venda no Tesouro Direto. “A alternativa seria comprar de uma tesouraria de banco, para pegar o prazo de dois anos pelo menos para garantir o imposto de renda menor, de 15%”, diz. No Tesouro, há a opção da LTN para janeiro de 2022, com taxa de 7,79% e que supera os dois anos também, mas tem um prazo um pouco maior.
Iglesias reconhece, porém, que nem todos têm estômago para investir em ações e observar as oscilações diárias dos papéis. Muita gente já deve ter se assustado esta semana com a queda de mais de 3% do índice. Por isso, para os clientes conservadores, a recomendação é ficar fora do mercado, e com 90% em papéis corrigidos pelo juro diário, em LFT, e apenas uma pitada de risco, com 3% em prefixados e 7% em multimercados.
Já os agressivos podem aproveitar mais e chegar a 26% em renda variável, 10% em prefixados, e 30% em multimercados, 16% em inflação, 2% em ações internacionais e 4% em dólar.
Abaixo, a sugestão de alocação de acordo com o perfil de risco de cada investidor:
Conservador
Moderado
Arrojado
Agressivo
Ações Nacionais
5%
12%
26%
Prefixado
3%
4%
8%
10%
Multimercado
7%
12%
20%
30%
Inflação
8%
15%
16%
Pós-fixado
90%
68%
41%
12%
Ações Internacionais
1%
1%
2%
Dólar
2%
3%
4%
Fonte: Itaú Asset/ADVFN