Trégua política ameniza pessimismo e Ibovespa sobe quase 3%
Por Investing.com
Não se imaginava no início do pregão que hoje o dia seria positivo. E foi, bem acima da expectativa ante o ambiente de crescente deterioração política observado no dia anterior, quando o presidente Jair Bolsonaro disse, em entrevista à TV Bandeirantes, que o presidente da Câmara Rodrigo Maia estaria “abalado” com questões pessoais. Uma referência à prisão de Moreira Franco, casado com a sogra de Maia, o que fez o deputado revidar ao afirmar que Bolsonaro “estava brincando de ser presidente”.
Logo pela manhã, Bolsonaro encerrou a troca de farpas, ao dizer que as divergências são “página virada” e foram “uma chuva de verão” e ressaltando que não tem problema com Maia. O apaziguamento trouxe confiança ao mercado.
Um dos principais termômetros do dia foi o dólar, que abriu a sessão pressionado, negociado a R$ 4,00. O alívio veio com a fala do presidente e a intervenção do Banco Central, que realizou leilão de linha de US$ 1 bilhão com compromisso de recompra, além das habituais operações de swap cambial, somado com um exterior ameno. Os EUA revisaram o PIB do 4º trimestre com crescimento de 2,2%, ante expectativa de 2,4%.
Já os pedidos iniciais de seguro desemprego vieram em linha com o mercado com 221 mil trabalhadores entrando no programa social ante projeção de 220 mil. Além disso, a informação da Reuters com fontes governo dos EUA de que a China propôs um acordo amplo relacionado à transferência forçada de tecnologia também minimizou o pessimismo global.
Voltando ao Brasil, o Ibovespa fechou em forte alta de 2,7% a 94.388,94 pontos, com um volume financeiro de R$ 17,4 bilhões. Na véspera, o principal índice acionário brasileiro teve uma forte queda de 3,57% a 91.903,4 pontos. O apaziguamento político e os sinais incipientes de tramitação da reforma da Previdência no Congresso contribuíram para a recuperação do Ibovespa.
Ambiente político melhora com atuação de Paulo Guedes e relatoria na CCJ
Além da fala de Bolsonaro sobre Maia, houve o almoço entre o ministro da Economia Paulo Guedes, Maia e liderança dos partidos no Congresso. O almoço ocorre um dia depois de Guedes comparecer à Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, onde afirmou que não tem apego ao cargo e que tem uma vida fora do ministério. A afirmação foi interpretada pelos agentes econômicos como negativos para o avanço da reforma da Previdência. Hoje, o jornal Valor Econômico informou que Guedes vai assumir a articulação política da reforma da Previdência no Congresso.
Após o almoço, Guedes e Maia trocaram elogios, com o ministro assegurando que o “barulho” gerado por atritos políticos recentes vai diminuir, enquanto Maia afirmou que seu foco é fazer as reformas no Brasil. No Twitter, o deputado afirmou que o almoço foi o pontapé inicial do debate para a reforma da Previdência e que conversou com Guedes sobre sua participação na audiência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara na próxima quarta-feira (3).
No fim da tarde, o presidente da CCJ, deputado Felipe Francischini, anunciou que o deputado Delegado Marcelo Freitas (PSL-MG) será o relator da Reforma da Previdência na Comissão. Freitas é delegado da Polícia Federal e deputado de primeiro mandato. Havia resistência a um nome do próprio PSL porque a maioria dos deputados do partido é ligada a corporações do serviço público, o que poderia levar a críticas de privilégio nas novas regras ao funcionalismo público. O nome do deputado Vínicius Poit (Novo-SP) era o mais cotado para assumir a relatoria caso a resistência a um nome do PSL prevalecesse.
Ações em alta
Voltando ao mercado acionário, a sessão de quinta-feira teve apenas duas ações com oscilação negativa. A Suzano (SUZB3) é uma delas, com queda de 2,25% a R$ 46,40 após os fortes ganhos do dia anterior. Por ter boa parcela da receita em moeda estrangeira, a valorização do real ante o dólar hoje contribuiu para os papéis da papeleira despencarem.
Na outra ponta, destaque para as ações da Eletrobras (ELET3), com ganhos de 7,13% a R$ 35,89. A estatal elétrica foi embalada com o lucro líquido de 12,07 bilhões de reais no quarto trimestre de 2018. O presidente-executivo da companhia, Wilson Ferreira Jr., afirmou que a empresa e o governo estão avaliando diversos possíveis modelos para capitalizar a companhia, com decisão prevista para junho.
Outro destaque do dia foi a Rumo (RAIL3), que subiu 3,84% a R$ 18,64. A empresa venceu o leilão do trecho de 1,5 mil quilômetros da Ferrovia Norte-Sul, com um lance de R$ 2,719 bilhões. As ações da Rumo chegaram a desacelerar os ganhos do dia para 2,41%, mas retomou o patamar dos 3% no final do pregão. A concessão é de 30 anos. A Rumo já é operadora do trecho da Norte-Sul que liga Estrela D’Oeste ao Porto de Santos no Estado de São Paulo.
Em relação à inflação, a FGV divulgou o IGP-M de março. A chamada “inflação dos alugueis” acelerou a alta para 1,26%, ante avanço de 0,88% em fevereiro.
Já o Banco Central divulgou o Relatório Trimestral de Inflação na manhã de quinta-feira. A instituição reduziu a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do país em 2019. O relatório aponta alta de 2,0%, contra 2,4% na projeção anterior. O Banco Central cita a fraqueza observada na atividade no fim do ano passado, consequências da tragédia de Brumadinho (MG) e menor perspectiva para a safra agrícola neste ano.
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